por Samyra Crespo –
Eu aqui, só pensando o que escrever na Semana do Meio Ambiente que não seja redundante, patético ou apocalíptico… sobre o PL DA DEVASTAÇÃO, o 2.159/21 que foi açodadamente aprovado no Senado e que cabe agora à Câmara aprovar ou modificar.
Sugestões são bem vindas!
Sabe, aquele tipo de exaustão que acontece quando se vê tanto furor, tanta disposição de autoridades e empreendedores, acionistas de plantão, amantes dos ilícitos, ávidos por acumular ganhos espúrios à custa de maior predação?
Ao mesmo tempo, desviando os olhos e fazendo-os buscar a excelência das práticas conservacionistas, há tanta coisa boa acontecendo, como por exemplo os programas brasileiros de conservação da onça pintada… toda hora ganhando prêmio, vendo as onças se multiplicarem, um fato incrível! Comovente.
Outra coisa bonita de se ver é o zelo das RPPN’s, as reservas particulares que formam hoje um corolário de refúgios de fauna, de experiências de recuperação vegetal, do renascer das nascentes.
Com programas incríveis de ecoturismo como o avistamento de pássaros, a educação ambiental escolar, e experiências de agrofloresta.
Sabe-se que o pouco que resta da Mata Atlântica, por exemplo, está em mãos privadas.
Precisamos de mais um programa de incentivo ao tombamento privado de áreas naturais.
Este é um movimento que vi nascer há quase 3 décadas e que agora mostra frutos maduros.
Estive muito envolvida com a S.O.S.Mata Atlântica e com a CI anos atrás, desenvolvendo uma metodologia que pudesse fornecer indicadores de desempenho das RPPN’s (nos quesitos gestão e na função mor de conservação da natureza). Naquele momento ajudava-se financeiramente pequenos proprietários a implementar a RPPN, com a delimitação georeferenciada da área e o levantamento de fauna e flora relevantes.
Lutamos e conseguimos aprovar várias legislações municipais de criação de reservas, antes exclusividade do IBAMA. E todo o arcabouço de ganhos monetários por serviços ambientais.
Esta é uma seara importante. Salvar o que existe, incentivar a criação de novas áreas permanentes, garantir os corredores verdes e os refúgios de fauna.
Garantir a sobrevivência dessas áreas do monocultivo, da pastagem e do corte raro de árvores.
Cada vez mais, precisamos também criar resiliência à seca, aos incêndios e incentivar uma defesa civil que envolva gestores e proprietários, e mais gente treinada.
Uma das coisas mais tristes de se ver – e ouvir – são os ruídos de pavor dos animais quando a mata crepita sob as chamas.
Os seres humanos são avisados por celular, por alarmes e podem fugir de carro. Os animais sucumbem sob dor e desespero, queimados vivos.
Final do outono, a temporada de secas está a caminho.
* Samyra Crespo é ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.