Sociedade

Os ambientalistas e as eleições para prefeitos e vereadores

Por Samyra Crespo, especial para a Envolverde –

URGENTE !!!

Li num artigo de Paulo Artaxo, cientista climatologista da USP que admiro e acompanho há anos, que a saída para o impasse que está se criando em torno do que seria uma agenda responsável de prevenção e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas é elegermos líderes conscientes e comprometidos.

Tivemos, nas eleições majoritárias passadas, a chance de eleger Marina e vimos sua candidatura derreter. Foi quase humilhante. Uma liderança populista de direita e profundamente hostil às políticas ambientais (em praticamente todas as suas dimensões) se elegeu e causa o estrago que podemos verificar, com tristeza ou raiva, everyday.

Encontrei Alfredo Sirkis um dia destes num lançamento de livro de uma amiga comum, Suzana Kahn. Ele fora destituído do cargo, não remunerado diga-se de passagem (portanto não era uma “boquinha” como diz o Sinistro Salles), de coordenador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Sabemos que toda essa área está relegada ao limbo no governo federal e não preciso repetir aqui os detalhes do desmonte. É sabido e notório.

Mas Alfredo Sirkis estava animado com o espaço politico dos estados e dos municípios que não precisam (e muitos não vão) seguir a cartilha negacionista. Em outras palavras, menos “nacional” e mais “local”. O foco tem que acompanhar o contexto e a textura.

Afinal, as queimadas, “brumadinhos”, e outras agressões ao meio ambiente se dão no nível concretíssimo do local, da municipalidade. Onde as pessoas vivem é que o calo aperta.

Vejo com alegria a ação bem sucedida da S.O.S Mata Atlântica com seus Planos Municipais de Recuperação da Mata Atlântica. Dezenas deles estão em curso, e pode-se antever um onda boa de recuperação florestal, e da Biodiversidade deste Bioma. O CAR (Cadastro Ambiental Rural) está sendo boicotado pela esfea federal? Muitos estados possuem agora uma base georreferenciada e podem monitorar seu território. Nem tudo é perda.

Eu poderia citar outros exemplos, mas o que me interessa destacar neste texto é o outro lado da moeda da fala de Artaxo: nós precisamos ter EM QUEM VOTAR. Não só a intenção de eleger gente progressista e alerta, mas precisamos ter um leque de escolhas mais largo em termos de opções ambientalistas ou pró-agenda climática.
Neste sentido, faço uma verdadeira convocação às lideranças ambientalistas da sociedade civil e mesmo àqueles que estão nas ONGs e cargos técnicos.

Sim, durante quase três décadas privilegiamos a profissionalização dos nossos quadros, a criação da expertise cientifico-técnica. Elegemos os projetos para atuar e não a política propriamente dita. Com exceções, é claro.
A hora agora aponta a direção da política. Não tenho dúvida. A hora do embate chegou.

As eleições às prefeituras e vereanças em todo o País serão dentro de alguns meses.

Temos que alargar o espectro de candidatos que tenham o DNA verde tanto na prática como na aspiração.
Hora de nos apresentarmos. Aproveitar a cota de mulheres, as brechas, as frestas, tudo o que for possível. Nanicos, coalizões, tudo o que for possível.

Penso que centenas de “secretários/secretárias de meio ambiente”, a maioria oriunda dos viveiros do ativismo ambiental estão prontos para dar conta do recado.

Lideranças como Axel Grael (Niterói), Mário Mantovani e Eduardo Jorge (São Paulo), Minc no Rio, Hélio Wanderlei em Nova Iguaçu, Maurício Ruiz em Volta Redonda. Dezenas de ativistas mulheres como a Miriam Prochnow, no sul do País.

Precisamos, além de eleitores, apresentar os nossos.

Fica aqui o apelo.

Para finalizar, quero destacar um último ponto. Vou falar de uma experiência pessoal que me marcou.

Meu filho mais velho escolheu a carreira da polícia federal e deixou o pai, um alto executivo, bastante infeliz. Na sua “formação” houve uma cerimônia em Sobradinho e o paraninfo à época era o Ministro da Justiça Tomaz Bastos.

Sentados em uma mesa com outros pais, meu marido deixou escapar que não estava feliz com a escolha do nosso filho. Um juiz de Minas Gerais que ali estava por causa de uma filha, nos disse: ” Se nós não dermos nossos melhores, como vamos reclamar depois do baixo nível da polícia?”

Palavras que eu poderia repetir na situação atual.

Apresentemos pois, os nossos!!!

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

 

 

Este texto faz parte da série que escrevo semanalmente para o site Envolverde/Carta Capital sobre o ambientalismo no Brasil.

#Envolverde