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Palestinos lutam contra a dor do desterro

 

As irmãs Doha Ibrahim Abeyat (E) e Hind Ibrahim Abeyat com um retrato de seu pai. Foto Jillian Kestler-D’Amours/IPS

Abeyat, Palestina, 26/4/2013 – Hind Ibrahim Abeyat passou a maior parte de sua vida separada de seu pai. “Cada casa palestina tem uma história, alguém na prisão ou um ou mais mártires”, disse à IPS esta jovem de 19 anos nesta aldeia perto da cidade de Belém, na Cisjordânia. “Meus amigos me perguntam como posso viver sem meu pai”, acrescentou.

Israel expulsou da Cisjordânia o pai de Hind, Ibrahim Abeyat, no momento mais álgido da segunda Intifada (levante popular contra a ocupação), depois do cerco israelense de 2002 à Basílica da Natividade em Belém. Na época Israel realizava operação militar em grande escala nas cidades mais importantes da Cisjordânia.

Em meio ao assalto a Belém, em abril daquele ano, um grupo de combatentes e civis palestinos se refugiou na Basílica, construída sobre o lugar onde tradicionalmente acredita-se que Jesus nasceu. Cerca de 200 pessoas ficaram presas durante 39 dias no templo. Depois de um acordo patrocinado pelos Estados Unidos, Israel enviou para Gaza 26 dos palestinos refugiados e deportou 13 para diversos países da Europa.

“Era proibido olhar pela janela ou sair. Não sabíamos o que estava acontecendo”, contou Doha, de 22 anos, a irmã mais velha de Hind, ao explicar como o exército israelense cercou a casa de sua família enquanto seu pai, filiado ao Hamás (Movimento de Resistência Islâmica), se escondia na Basílica. Depois de ser levado para Chipre, Ibrahim Abeyat foi finalmente enviado para a Itália, onde permanece até hoje. Sua mulher passa seis meses do ano com ele e o restante com seus filhos na Cisjordânia.

Durante sete anos Hind e seus sete irmãos, agora entre 17 e 30 anos, não puderam falar com o pai por telefone. Hoje se comunicam com ele diariamente pela internet. “É muito, muito difícil não ver minha família”, disse Ibrahim à IPS via Skype. “Quero voltar à minha pátria e acabar com estes 11 anos de desterro. Esta é nossa pátria, nossa terra. É nosso direito. A situação é muito difícil para mim”, afirmou.

Entre 1967 e 1992, Israel deportou 1.522 palestinos dos territórios ocupados, segundo o grupo de direitos humanos israelense Btselem. Só em 1992, como aval do Supremo Tribunal Israelense, 415 membros do Hamás e do grupo Jihad Islâmica foram enviados para o sul do Líbano. Os palestinos são desterrados sob as Regulações de Defesa de Emergência, que datam de 1945, durante o controle britânico da Palestina.

A lei específica para as deportações, anulada dentro de Israel mas ainda vigente nos territórios ocupados, diz que qualquer comandante militar pode obrigar qualquer pessoa a abandonar ou permanecer na Palestina. Durante a segunda Intifada o Supremo Tribunal de Israel também determinou que o Estado judeu tinha direito de emitir “ordens de residência forçada” para transferir cisjordanianos para a Faixa de Gaza.

O Tribunal baseou sua decisão no Artigo 78 da Quarta Convenção de Genebra, que permite à potência ocupante impor residência forçada às pessoas do território ocupado sempre que houver “imperiosas” razões de segurança. No entanto, o Artigo 49 proíbe as deportações e os traslados em massa ou individuais, “seja qual for o motivo”.

Israel também enviou para Gaza parentes de acusados de atentar contra o Estado judeu, em violação ao Artigo 33 da Convenção, que estabelece que “não se castigará nenhuma pessoa por infrações que não tenha cometido”. No final de 2011, Israel e Hamás alcançaram um acordo para libertar 1.027 prisioneiros palestinos em troca de um soldado israelense que o movimento mantinha cativo. Dos libertados, quase 200 foram enviados para Gaza e 41 deportados para outros países.

“Devido à assimetria de poder entre a parte palestina ocupada e a parte israelense ocupante, nem o potencial ‘consentimento’ do prisioneiro nem o fato de esses acordos terem sido negociados por uma autoridades palestinas podem servir de justificativa para a deportação”, concluiu o grupo de direitos humanos Al-Haq.

Em março, o prisioneiro Ayman Sharawna, que havia sido libertado em 2011 graças a um acordo, mas que foi detido novamente em janeiro de 2012, foi deportado para Gaza, após fazer greve de fome por 261 dias. “Estou certo de que, se não fosse, morreria. Estava sofrendo física e psicologicamente”, admitiu Sharawna, de 37 anos e pai de nove filhos, originário de Hebrón. “Minha experiência na prisão me preparou para minha vida em Gaza. Sou contra o exílio, mas era minha única opção”, explicou ao Centro Palestino para os Direitos Humanos.

A agência de notícias Reuters informou, no dia 23, que o prisioneiro palestino Samer Issawi, que esteve intermitentemente em greve de fome por mais de oito meses, finalmente será solto em dezembro próximo. Issawi rejeitou várias tentativas de Israel para deportá-lo. “A greve de fome de Issawi pode significar um ponto de quebra contra as deportações”, disse à IPS o pesquisador legal Murad Jadallah, do grupo de defesa de prisioneiros palestinos Addameer. Envolverde/IPS