Sociedade

Pandemia e consumo consciente

Por Samyra Crespo, especial para a Envolverde – 

Dia 15 de março foi o Dia do Consumidor, data em que comumente se trata dos direitos dos consumidores.

Nesta matéria, contudo, trataremos dos deveres dos consumidores e do chamado “consumo consciente”, em uma época de dificuldades como agora.

Também partiremos de uma visão menos paternalista do contrato (efetivo ou simbólico) entre quem consome e quem fornece (produtor e distribuidor).

Nesta visão, os consumidores detém expressivas parcelas de poder e por meio de suas escolhas – consumo consciente ou cidadão – eles podem promover práticas éticas e mais sustentáveis. É o que ocorre, por exemplo, quando se boicota marcas ou produtos. Ou quando na ação positiva se apoia pequenos produtores ou se faz turismo comunitário.

Em tempo de Coronavirus, de medidas restritivas de circulação e até isolamento de localidades inteiras, espera-se que o consumo dos cidadãos ocorra dentro de padrões solidários.

O que é isto? Em primeiro lugar, no panic: não estoque remédios ou comida em detrimento de vizinhos, amigos e até desconhecidos. Você também é o desconhecido de alguém.

Outro importante aspecto é o consumo de informação. Procure ouvir e disseminar informação confiável, com fundamentação científica e baseada nas decisões das autoridades mundiais de saúde.

Por fim, fique longe do noticiário sensacionalista a maior parte do dia. Trabalhe virtualmente, seja nas práticas de home office, seja nas plataformas de smart work.

Se não precisar trabalhar, ou na pausa dele, consuma cultura.

Vários museus do mundo colocaram seus acessos em modus gratuito: Louvre, Prado, Galeria de Uffizi, Hermitage e dezenas de outros.

Os Canais a cabo abriram seus sinais para que você possa ver filmes, documentários, programas.

Há milhares de sites com disponibilidade de livros e coleções, para download ou para ler no kindle.

15 dias de vida virtual não o isola de amigos, amores e até mesmo de pessoas que precisam ouvir uma palavra de esperança.

Respeite e seja grato aos que correm risco para a sua segurança: policiais, bombeiros, entregadores de supermercados e farmácias, ou ainda de comida. Temos também neste time milhares de profissionais que não poderão se recolher: médicos, enfermeiros, cuidadores.

Por fim, compre preferencialmente do pequeno comércio e dos locais, pois estes serão mais afetados que os grandes.

O consumo consciente, cidadão ou sustentável será, sem dúvida alguma, o padrão que nos vai distinguir do estado de barbárie.

Fique em casa, ainda que não esteja nos grupos de risco. Se não por você, pelos mais frágeis e vulneráveis.

Há um conto Sufi (corrente filosófica islâmica) que através de seu personagem mais famoso, Nasrudim, nos ensina algo.

Diz o conto que Nasrudim tem um encontro com a Peste a caminho de uma cidade. O que vai fazer lá? Pergunta Nasrudim à Peste. Vou matar dez mil, responde a Peste.

Na estrada de volta da cidade, Nasrudim interpela a Peste: você disse que mataria dez mil e matou cem mil. Você mentiu. A Peste então, respondeu: matei dez mil – o restante morreu de pânico e medo.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

Este texto faz parte de uma série que escrevo quinzenalmente para o site Envolverde/Carta Capital sobre o ambientalismo no Brasil.

 

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