Sociedade

PARTE 13: Brasil participa da última fase clínica de testes em humanos de vacinas contra COVID-19

Por Sucena Shkrada Resk* – 

Iniciativas são fruto de parcerias com Universidade de Oxford e com indústria farmacêutica chinesa

Um dos centros de pesquisa mundiais em estágio mais avançado quanto à vacina contra a Covid-19, é a Universidade de Oxford, no Reino Unido, que já se encontra nos testes da 3ª e última fase clínica em humanos, após as executadas em animais, para verificar sua eficácia e segurança. Nesta etapa, está programada a participação de 50 mil pessoas voluntárias que não tiveram contato com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), sendo 30 mil, nos EUA; 10 mil pessoas, no Reino Unido e duas mil, divididas entre São Paulo e no Rio de Janeiro, além de países da África e Ásia. A expectativa é que os primeiros resultados saiam até meados de outubro deste ano e deverão ser submetidos primeiramente à agência regulatória do Reino Unido.

A condução destes ensaios em São Paulo, no Brasil, está sob a coordenação do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que tem à frente, a pesquisadora Lily Win Weckx. Uma das principais responsáveis pela participação brasileira, na pesquisa, é a cientista Sue Ann Costa Clemens, pesquisadora do CRIE, e também chefe do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena. O interesse pelo país se deve especialmente por estar ainda em curva ascendente de casos, em que a população está mais exposta ao vírus.

Em São Paulo, serão mil testes, com apoio da Fundação Lemann. No Rio de Janeiro, o financiamento dos testes em mil voluntários será feito pela Rede D’Or São Luiz. A iniciativa foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), subordinada ao Ministério da Saúde, no início do mês de junho. O público-alvo principal são profissionais da saúde, que estão na linha de frente, entre 18 e 55 anos, e outros grupos de risco, composto por idosos e imunodeprimidos.

Segundo o professor Andrew Pollard, pesquisador-chefe do Oxford Vaccine Trial na Universidade de Oxford, em abril, ocorreram os ensaios clínicos das Fases I / II da vacina, no Reino Unido, em mais de 1.000 voluntários saudáveis, entre 18 e 55 anos, em vários centros de testes no sul da Inglaterra. Os esforços da equipe, que também tem na liderança, os cientistas Sarah Gilbert, Teresa Lambe, Sandy Douglas e Adrian Hill, tiveram início em 10 de janeiro deste ano.

O ponto de partida foi um vetor de vacina para adenovírus chimpanzé (ChAdOx1), desenvolvido no Instituto Jenner de Oxford. De acordo com os pesquisadores, é uma tecnologia mais adequada para uma vacina SARS-CoV-2, porque tem capacidade de gerar uma forte resposta imune a partir de uma dose e não é um vírus replicante. Em experiência precedente bem-sucedida, a equipe já havia desenvolvido uma vacina para a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), contra uma outra cepa do coronavírus.

“Nesta fase 3 de ensaios clínicos da vacina contra a Covid-19, estamos muito satisfeitos por trabalhar com a talentosa equipe de pesquisadores no Brasil no ensaio da vacina, pois pesquisadores e cientistas de todo o mundo colaboram no trabalho de desenvolvimento clínico com urgência sem precedentes para combater a ameaça global à saúde humana, que é o coronavírus”, afirma Pollard, em publicação da universidade.

Os esforços dos cientistas de Oxford no combate à Covid-19 vão muito mais além, na instituição. Atualmente são mais de 150 profissionais envolvidos, que além da vacina, estudam medicamentos, testes de anticorpos e sistema de rastreamento de contatos. Para acompanhar os artigos a respeito destas iniciativas, é só acessar o  site: https://www.research.ox.ac.uk/Area/Search/coronavirus

Desafio: produção em escala

A maior preocupação, entretanto, é com a produção da vacina em grande escala, devido à dimensão global da pandemia, e que seja de acesso aberto à transferência de tecnologia. A primeira iniciativa, neste sentido, se deu em 30 de abril, quando a Universidade de Oxford e a empresa AstraZeneca anunciaram um acordo para o desenvolvimento e distribuição global da potencial vacina. Em uma primeira escala, a meta é da produção de 1 bilhão de doses.

No Brasil, Soraya Smaili, reitora da Unifesp, expõe a expectativa de o Brasil também ter prioridade para o recebimento da vacina, além do Reino Unido, EUA, entre outras nações com maiores números de casos no mundo. Com a disponibilização da tecnologia, ela destaca que o país tem capacidade de produção local, por meio de laboratórios nacionais, como o Instituto Butantan, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “A tecnologia desenvolvida pela Oxford, o Butantan ainda não domina”, explicou o diretor da unidade, Dimas Covas.

Mais uma frente de testes pelo Instituto Butantan

Um novo anúncio, entretanto, foi feito nesta quinta-feira, 11 de junho, expandindo as possibilidades da prevenção da doença. O Instituto Butantan, do Governo do Estado de São Paulo, assinou uma parceria no último dia 10, com a indústria farmacêutica chinesa Sinovac, para realizar a fase 3 de testes clínicos da vacina contra a Covid-19 produzida pela empresa, sob o nome de CoronaVac, em 9 mil voluntários no Brasil. De acordo com Covas, a instituição investiu R$ 85 mi na iniciativa e deverá ter a parceria de 16 centros de estudos clínicos no Brasil, que já atuam no combate à Dengue. A expectativa é ter a validação até o final do primeiro semestre de 2021. Aí é possível falar em produção em massa para imunizar a população.

As fases anteriores foram aplicadas na China

A divulgação destas iniciativas está sendo considerada positiva, colocando a força científica brasileira novamente no protagonismo mundial, apesar dos conflitos na condução política da pandemia no país. Esta soma de esforços deverá refletir futuramente na consistência da prevenção da doença no Programa Nacional de Imunização brasileiro e dos demais países do mundo, com o objetivo de quebrar barreiras que prejudicam os países mais pobres e em desenvolvimento.  Este é um dos esforços também da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Como o diretor-científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, o infectologista Sérgio Cimerman, frisou nesta semana – “Para uma vacina ser aprovada, deve ter alcance pelo menos de 85% de eficácia…E complementa sobre a importância dos esforços nunca antes vistos no planeta, que esta pandemia exigiu, na agilização de respostas eficazes no combate à Covid-19. “A média para o processo de estudo de uma vacina é  (historicamente) de dez 10 anos a 15 anos”, destaca. No mundo, atualmente há mais de 110 estudos em andamento, em diferentes etapas, de acordo com a cientista Sue Ann. Deste montante, entretanto, somente 10 estão mais avançadas, com destaque às pesquisas de Oxford e da Sinovac.

*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.

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