As empresas brasileiras precisam ampliar sua consciência sobre a necessidade de adotar boas práticas de gestão dos recursos hídricos, disse no domingo (18) Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas, durante evento que tratou do tema às vésperas da abertura do Fórum Mundial da Água, que ocorre esta semana em Brasília (DF).
As declarações foram feitas na abertura do Water Business Day, promovido pela Rede Brasil do Pacto Global em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
O evento discutiu a atuação do setor privado brasileiro na busca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, especialmente o ODS número 6, que trata de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.
“Muitas empresas vêm fazendo muitas ações, muitas práticas, pensando na questão hídrica”, disse Pereira. “Mas se olharmos as empresas do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa, na percepção das 30 empresas que estão ali, o ODS 6 fica como um dos últimos (em termos de prioridade para as companhias)”, declarou.
“E isso é inconcebível, uma vez que essas empresas têm atuação em todo o território nacional, mas com uma atuação ainda mais forte no Sudeste, que ainda passa por uma crise hídrica bastante forte”, completou.
O ODS 6 tampouco está entre as prioridades das empresas no nível global. De acordo com pesquisa do Pacto Global realizada em 2017 com mais de 1,9 mil companhias, a questão da gestão sustentável da água e o ODS número 14, que trata da proteção da vida nos oceanos, estavam entre os objetivos globais menos priorizados.
Para Pereira, um dos principais objetivos do Water Business é justamente reverter esse quadro, levantar um alerta e disseminar as boas práticas já existentes no Brasil. “Há distância entre a crise que a gente vive e a consciência que a gente (empresários) tem para o tema. (…) Todo mundo entende que o tema água é bastante importante, mas pouca gente está aplicando isso”, afirmou.
Segundo o secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, não se trata apenas de responsabilidade social das empresas, mas também econômica e financeira, na medida em que as crises hídricas afetam fortemente a produtividade.
Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), disse no mesmo evento que a gestão dos recursos hídricos vem ganhando importância na agenda global econômica e empresarial.
“Isso se deve à percepção do risco e da vulnerabilidade envolvidos nessa questão. Nos últimos anos, o risco da água tem figurado entre os dez mais capazes de afetar as economias no curto e no longo prazo”, declarou. “O Fórum Econômico Mundial diz que esse risco pode até mesmo assumir a primeira posição entre as externalidades de grande impacto”.
Segundo ela, o setor privado não pode ficar parado, à espera de soluções governamentais. “O crescimento da agenda de água e de sua melhor gestão e o desenvolvimento de soluções para otimizar seu uso e reduzir custos passa necessariamente pelo engajamento do setor empresarial”, disse.
Marina lembrou que, para o CEBDS, a agenda de água tem o mesmo peso da agenda de combate às mudanças do clima. A organização lança na segunda-feira (19) um compromisso empresarial pela segurança hídrica, com o objetivo fazer as empresas assumirem metas voluntárias e compartilhar conhecimentos. O compromisso já teve a assinatura de 15 empresas.
Na opinião da presidente do CEBDS, as grandes empresas precisam liderar o sistema produtivo e compartilhar seus sistemas de gestão com a cadeia produtiva e clientes, ajudando-os a se tornarem mais eficientes e menos dependentes desse recurso.
Ela também citou medidas como estimular outras empresas a participar de fóruns de discussão sobre o uso sustentável da água; promover ações de advocacy que ajudem a destravar tecnologias como a de reuso; buscar e criar alternativas para o uso e aproveitamento; estimular projetos de ação coletiva, que visem mitigar impactos e riscos; entre outras ações.
Oscar Netto, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), lembrou que o fórum ocorre justamente em uma cidade que enfrenta racionamento de água, e que essa tem sido a realidade de muitos municípios brasileiros. “O Brasil é riquíssimo em água doce e renovável, 13% da água doce e renovável do mundo tem origem no território brasileiro. Isso é um enorme patrimônio, mas nos dá também enorme responsabilidade”, declarou.
Edson Duarte, secretário de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, citou pesquisa do SEBRAE segundo a qual 31% dos negócios das micro e pequenas empresas serão afetados este ano por crises de abastecimento de água.
“Esse tema é uma realidade cruel que precisa ser observada por todos. Essa agenda é estratégica não somente para buscar tecnologias, adequações, gestões diferenciadas e combate ao desperdício, gestão mais eficiente, nós devemos nos preocupar com o fortalecimento de uma política de recursos hídricos no Brasil”, disse.
Organizado a cada três anos, o Fórum Mundial da Água é o principal encontro global em que a comunidade de profissionais do setor hídrico e os formuladores de políticas trabalham para estabelecer os planos de ação de longo prazo sobre os desafios relacionados à água. Com mais de 150 países representados, o fórum visa aumentar a conscientização e reforçar o compromisso político com relação ao uso e à gestão da água.
Além do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, este ano acontece a abertura da Década Internacional de Ação “Água para o Desenvolvimento Sustentável” (22 de março de 2018 a 22 de março de 2028). A Década visa a fortalecer a cooperação e a mobilização internacionais, a fim de contribuir para a realização dos ODS. (ONU Brasil/#Envolverde)