Por Dal Marcondes, especial para a Envolverde –
Marina Silva disse, durante a assintarua do termo de parceria entre o Sebrae e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) que a capilaridade do sistema Sebrae vai permitir ampliar o alcance de estratégias empresariais de enfrentamento à crise climárica e, ao mesmo tempo, inovar em modelos de negócios baseados na regeneração, na circularidade e na prosperidade dos negócios e das comunidades. O termo amplia a parceria entre as instituições na divulgação de produtos e serviços sustentáveis e cuidados com o meio ambiente para a grande rede de pequenos negócios e de pontos de atenção do Sebrae em todo o Brasil.
A Crise Climática: Uma Realidade Inadiável
A ministra Marina Silva agradeceu a parceria e destacou que o trabalho conjunto vai “fazer a diferença nesse momento tão desafiador da história da humanidade e do nosso país”. Marina não poupou palavras ao descrever a severidade da crise climática, e alertou que foi um dos anos mais quentes da história, e que os efeitos da emergência climática já são realidade em diversas dimensões da vida.
Ela citou exemplos contundentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios na Amazônia e no Pantanal, e as secas que transformaram rios caudalosos em meros filetes d’água na Amazônia. A Ministra revelou dados sobre as ondas de calor, e mencionou que enquanto os dados oficiais apontam cerca de 146 mil mortes anuais globalmente, cientistas estimam que o número real pode chegar a 500 mil, devido à falta de diagnósticos precisos que liguem as mortes aos eventos extremos.
A situação é ainda mais preocupante, segundo Marina Silva, porque os cientistas alertam que não se pode ultrapassar 1,5°C de aumento da temperatura média da Terra em comparação com o período pré-industrial, mas, em 2024, o planeta já atingiu esse limite, o que torna a urgência da ação ainda maior.
Sustentabilidade: O Novo Paradigma dos Negócios
Mesmo com o cenário desafiador, Marina Silva tem uma visão de esperança e oportunidade. Ela ressalta que, diante da imensidão dos desafios, “todos os negócios são muito pequenos diante do grande empreendimento que é proteger as bases naturais do nosso desenvolvimento”. A Ministra defendeu a importância de preservar os serviços ecossistêmicos, que, segundo ela, são o “maior serviço prestado para a existência da vida hoje”. Ela ilustrou a ideia com o exemplo dos rios voadores da Amazônia, essenciais para o regime de chuvas da América do Sul.
Marina citou a “tragédia dos comuns”, segundo a qual não há cuidado o que é de todos, como rios e florestas, e isso leva à degradação. No entanto, destacou que a mudança do clima é a maior tragédia produzida pelo homem, embora nem todos tenham participado igualmente das causas. “Os povos indígenas não emitem quase nada, mas são igualmente prejudicados”, exemplificou, e ressaltou que as pessoas mais pobres são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos.
Marina Silva enfatizou que o desenvolvimento sustentável e a economia regenerativa são as soluções para os dilemas atuais. Ela apresentou o Plano de Transformação Ecológica do governo, que se baseia em seis eixos estratégicos: adensamento tecnológico, economia circular, bioeconomia, infraestrutura verde e resiliente e finanças sustentáveis. A Ministra apontou iniciativas como o Fundo do Clima, que passou de R$ 400 milhões para R$ 10 bilhões, e o Eco Investe, que já viabilizou o primeiro leilão para restaurar 1 milhão de hectares de áreas degradadas como demonstração de que é possível conciliar produção e preservação.
Novo Ciclo de Prosperidade Diverso e Sustentável
Para a Ministra Marina Silva, a crise climática é uma “oportunidade de um novo ciclo de prosperidade”, que deve ser “diverso e sustentável”. Ela utilizou a metáfora das seringueiras da Amazônia para ilustrar a importância da diversidade, contrapôs as monoculturas suscetíveis às pragas às florestas nativas que se protegem naturalmente.
A Ministra defendeu que a sustentabilidade é a “utopia desse século”, uma necessidade que transcende ideologias. Afirmou que a luta para salvar as condições que promovem a vida é de todos.
Mudar Antes de Ser Mudado
Marina Silva encerrou sua fala com um apelo à ação: “mudar antes de ser mudado”. Ela explicou que planejar a mudança permite uma adaptação gradual, enquanto a inação levará a uma mudança forçada e mais dolorosa. A Ministra ressaltou que, sem um clima estável, a tecnologia da Embrapa, os recursos financeiros e a vocação agrícola perdem seu valor. As secas no Pantanal e na Amazônia, e as chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul, são provas de que é preciso cuidar do “grande negócio”, que é manter o planeta equilibrado.
Por fim, Marina Silva celebrou os avanços do Brasil na abertura de mais de 300 mercados para a agricultura desde o início do governo Lula, atribuindo esse sucesso à queda do desmatamento na Amazônia (46%), na Mata Atlântica (26%) e, mais recentemente, no Pantanal (77%). E reafirmou o compromisso do Brasil com o desmatamento zero até 2030 e a importância da COP 30 como um momento de implementação das respostas já dadas.
“Não tem mais desculpa”, sentenciou, defendendo a triplicação de energias renováveis, a duplicação da eficiência energética, o fim do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis. Para ela, o objetivo é ser economicamente próspero, socialmente justo, culturalmente diverso, politicamente democrático e ambientalmente sustentável.
A fala da Ministra Marina Silva é um convite à reflexão e à ação, destacando que a sustentabilidade não é uma opção, mas uma necessidade inadiável para a construção de um futuro próspero para todos.
