Ambiente

Desmatamento e colapso na Polinésia chilena

Por Heloisa Schurmann e Vilfredo Schurmann, especial para o OC – 

Família Schurmann chega à Ilha de Páscoa, no Pacífico, e examina o mistério do colapso da civilização construtora de estátuas gigantes e sua relação com o desmatamento e a mudança climática

O que aconteceu com as árvores da Ilha de Páscoa? Há 17 anos, quando chegamos à ilha pela primeira vez, ficamos impressionados pela quase ausência de árvores. Já não havia árvores nativas, apenas reflorestamentos. Felizmente, na segunda visita, notamos um aumento na vegetação, mas mesmo assim o número de lugares descampados ainda é grande.

Um conjunto de fatores pode explicar o desmatamento da ilha que, segundo vestígios arqueológicos, era lar da maior palmeira do mundo. Para Sebastián Paolla, pesquisador e guia turístico, muito se atribui à ação do homem.

Grandes áreas foram desmatadas para utilização do solo para agricultura, durante o auge populacional da ilha, que chegou a ter por volta de 15 mil habitantes. Por ambição, competição ou mesmo falta de conhecimento, os nativos, conhecidos como rapa nui, não souberam administrar seus recursos de maneira sustentável.

Alguns arqueólogos e especialistas também argumentam que durante a construção dos moai – as gigantes e impressionantes esculturas de pedra vulcânica, a partir do ano 1000 – foram consumidos boa parte dos recursos naturais da ilha. Tanto para alimentação, pois exigiram um enorme esforço, quanto para movimentações das esculturas megalíticas sobre troncos de madeira.

Além disso, um estudo mostrou que houve uma praga de ratos na Ilha de Páscoa, trazidos em suas canoas pelos primeiros polinésios. Sem predadores, comiam as raízes, os frutos e as árvores jovens.

Sem árvores, logo os ilhéus ficaram sem material de construção, sem lenha para queimar e impossibilitados de construir canoas e anzóis para pesca. A sociedade entrou em colapso, cujo primeiro sinal foi a interrupção da construção de moais. Logo, a falta de vegetação nativa levou à erosão dos solos agrícolas. A comida diminuiu, e com ela a população. Páscoa entrou num declínio populacional que foi completado pela chegada dos europeus com suas doenças, no século 18. Em 1872, a ilha tinha apenas 111 habitantes nativos.

Os rapa nui também nos falaram que sentem cada vez que a ilha está mais fria e seca. Maeha, uma artesã local, nos disse que no passado, quando criança, era inconcebível a ideia de andar na Ilha de Páscoa de meia, calças e casacos. Hoje, sente frio mesmo nos dias mais ventosos da primavera e outono.

Para Sebastian: “o que passou na Ilha de Páscoa é o que está passando no resto do mundo.”

Este texto e este vídeo foram produzidos pela família Schurmann numa parceria com o Observatório do Clima durante a Expedição Oriente, a terceira viagem de volta ao mundo dos exploradores brasileiros. Desde 2014 os Schurmann estão refazendo os caminhos que teriam trazido os chineses à América em 1421 e procurando respostas que podem estar escondidas no Oriente há quase 600 anos. No caminho, têm visitado e revisitado lugares e populações atingidos pela mudança climática e outros problemas ambientais. Veja o primeiro vídeo do projeto aqui. (Observatório do Clima/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.