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Recifes de corais do litoral brasileiro podem ser tomados por algas com aquecimento do oceano

por Robson Rodrigues, especial para a Envolverde – 

Cientistas preveem mudança na distribuição e alimentação de peixes no oceano Atlântico em 30 anos. Fenômeno pode levar à proliferação de algas, impedindo o desenvolvimento de corais e prejudicando o turismo e na pesca

Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), antecipado pela Agência Bori, mostrou que com o aquecimento do oceano, recifes de corais do litoral brasileiro até o Caribe podem ser tomados por algas por causa da diminuição de peixes se alimentando.

O aumento da temperatura, que segundo os cientistas é causado pelas mudanças climáticas, faz com que algumas espécies de peixes herbívoros migrem para regiões extratropicais em busca de comida.

As projeções apontam que a queda na densidade de peixes se alimentando na região pode fazer com que esses ecossistemas percam a sua diversidade de espécies e virem recifes de algas já em 2050.

“As interações dos peixes herbívoros diminuirão bastante na região tropical, do Caribe até o sul do Brasil, e aumentarão no norte do Caribe, indicando uma mudança na distribuição geográfica das interações”, diz Kelly Inagaki, uma das pesquisadoras. Ela avalia ainda que com essas mudanças, a estrutura dos recifes pode ser ameaçada, já que os peixes herbívoros desempenham um papel ecológico importante no controle da quantidade de algas.

Tropicalização

A migração de parte da fauna marinha para regiões extratropicais pode gerar um desequilíbrio nos ecossistemas em mar aberto e na costa. Segundo o pesquisador Guilherme Longo, algumas espécies podem se deslocar para regiões mais ao sul do Brasil de clima subtropical e gerar uma competição ou mudar a dominância do ecossistema.

“O Sul do Brasil tem um clima mais temperado, mas em muitos momentos apresenta características de trópicos, propiciando um ambiente favorável a essas novas espécies”, analisa Longo.

Para Kelly, a pesquisa serve como alerta para os efeitos das mudanças climáticas globais, com impacto no turismo e na pesca da região, além de menos diversidade marinha e águas mais turvas. “Provavelmente esse cenário de abundância de peixes que encontramos nos recifes do nordeste brasileiro não vai existir daqui a 30 ou 70 anos”, prevê.

De acordo com os pesquisadores, a temperatura no oceano afeta as interações tróficas dos peixes de recife no Atlântico Ocidental e com base nesses dados eles modelaram projeções matemáticas do que vai ocorrer com a mudança de temperatura dos oceanos.

“Normalmente, pensamos que as mudanças climáticas vão provocar extinções em massa de espécies e deixamos de perceber que existem efeitos mais tênues. Mudar o local onde as espécies ocorrem ou mudar o que elas fazem nesses locais são mudanças menos dramáticas, mas que podem provocar efeitos em cascata e alterar o ecossistema como um todo”, diz Guilherme Longo.

.Robson Rodrigues é jornalista e formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha como repórter em jornais, revistas e internet em temas relacionados a meio ambiente, energia e desenvolvimento sustentável.