Opinião

Saudades do Marcio Moreira Alves

por Samyra Crespo –

Por várias razões. Por ter sido um jovem deputado – corajoso – capaz de usar a tribuna para dar nome aos bois no Congresso. Dizem que seu icônico discurso cutucou as Forças Armadas que reagiram com a cassação de seu mandato e depois fechamento do Congresso.

Sem ou com Marcito, a Ditadura estava a caminho, esta é a minha convicção.

Márcio Moreira Alves era também um intelectual e seu livro – O Cristo do Povo – antecipou na sociedade civil a belíssima trajetória da Teologia da Libertação na AL e no Brasil.

Um Cristo compassivo, longe da pompa da igreja institucional, que vivia entre os pobres e pregava uma revolução do amor. Li seu livro quando tinha 16 anos e me senti inspirada.

As comunidades eclesiais de base, estruturadas com base na doutrina da TL, foram por uma década viveiro de novas lideranças populares.

Márcio Moreira Alves foi também um excelente colunista político de grandes jornais.

Mas o que mais me desperta saudades tem a ver com seus artigos sobre o “Brasil que dá certo”.

Ele, ao arrepio da tendência que elege as más notícias como linha editorial, viajava o Brasil e nos relatava experiências maravilhosas de desenvolvimento local, iniciativas econômicas que melhoravam a vida dos pobres e outras tantas de conservação da natureza.

O fio condutor de seus “cases” era o sucesso que não dependia de governo, da política clientelista e assemelhados.

Uma sociedade criativa, pulsante, era o que viam os olhos generosos de Márcio Moreira Alves.

Dava gosto.

Marcito, como o chamávamos, morreu precocemente de câncer e deixou em todos os que o apreciavam o sentimento de que os bons se vão cedo.

Olho para a imprensa brasileira e não vejo sucedâneo.

Sobram os arautos da desgraça.

Faltam os que apontam onde a esperança viceja.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.