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Seca ou inundações, a oscilante realidade do Caribe

Paulette Bynoe afirma que a gestão integrada de recursos hídricos é fundamental. Foto: Desmond Brown/IPS
Paulette Bynoe afirma que a gestão integrada de recursos hídricos é fundamental. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Castries, Santa Lúcia, 29/7/2014 – Submetida às imprevisíveis variações climáticas que impactam a disponibilidade e a qualidade da água, a pequena ilha caribenha de Santa Lúcia se esforça para criar resiliência contra os problemas que afetam o setor. Paulette Bynoe, especialista em gestão ambiental e de risco de desastres e em políticas de adaptação à mudança climática, afirmou que a administração integrada de recursos hídricos é fundamental.

“Conseguimos avanços criando consciência entre profissionais e outros importantes atores sobre este assunto. Esse é o primeiro passo”, disse Bynoe à IPS. “Em outros setores também podemos tentar coordenar, seja em agricultura ou turismo. É importante que sejamos originais e deixemos de ter setores para realmente trabalharmos juntos”, acrescentou.

No começo deste mês, Bynoe esteve encarregada de um painel de três dias sobre Desastres Hidroclimáticos na Gestão Integrada de Recursos Hídricos em Santa Lúcia. O encontro aconteceu dentro do projeto de Redução de Riscos para Recursos Humanos e Naturais Derivados da Mudança Climática (RRACC), da Organização dos Estados do Caribe.

Os participantes se informaram sobre os aspectos fundamentais da Gestão Integrada de Recursos Hídricos e a redução do risco de desastres, as implicações da mudança climática e a variabilidade da gestão de recursos hídricos, a legislação e os requisitos institucionais em escala comunitária, a economia de desastres e as respostas à emergência.

Rupert Lay, especialista em recursos hídricos do projeto RRACC, disse à IPS que “do que precisamos agora e mais adiante na região é correlacionar diretamente os efeitos, os impactos econômicos das condições climáticas adversas com os recursos de água”. No dia 9 deste mês, a Companhia de Água e Saneamento de Santa Lúcia (Wasco) estabeleceu um plano de emergência em toda a ilha pela seca. De fato, o governo descreveu a situação atual como “crise de água”. O problema teve origem no norte deste país insular e se espalhou por todo seu território.

O diretor-geral da Wasco, Vincent Hippolyte, disse que houve chuva suficiente para cobrir a demanda dos consumidores. Na última avaliação, a represa estava a 322 pés (pouco mais de 98 metros), quando o nível normal é de 333 pés (101,5 metros). “Apesar das chuvas e do verdor, a seca existe porque os rios não se movem. Não têm caudal que permita à Wasco extrair água suficiente para atender a demanda”, explicou.

O governo informou que os especialistas prognosticaram que a seca poderá durar até agosto. Bynoe pontuou que o que acontece em Santa Lúcia e outras partes do Caribe é consistente com os prognósticos do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) e do Grupo para a Modelagem Climática, da Universidade das Índias Ocidentais. Os dois grupos ofereceram possíveis cenários para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento em relação à mudança climática e como este fenômeno e a variabilidade climática podem afetar os recursos hídricos, apontou.

“A questão é que na região é altamente provável que tenhamos escassez de água, por isso poderemos ter secas e, talvez, ao mesmo tempo, quando ocorrerem as precipitações, estas poderão ser muito intensas”, disse Bynoe, que também é diretora da Escola da Terra e Ciências Ambientais, da Universidade da Guiana. Segundo esta especialista, os modelos mostram que tanto pode haver escassez quanto excesso de água, e ambos podem causar graves problemas para o Caribe.

“Com muita água podemos ter transbordamentos, sedimentação e contaminação de água, o que significa que, em países que dependem da água artificial, o tratamento se torna fundamental, mas isto implica um custo porque é um processo muito caro”, afirmou Bynoe. “Mas para tratar a água é preciso muita energia, e este é um dos setores que mais contribuem para a emissão de gases-estufa. Então é possível ver onde a mudança climática afeta a água, mas ao tratá-la também pode haver contribuição para a mudança climática”, acrescentou.

Para Santa Lúcia e seus vizinhos, a falta de recursos econômicos está entre os principais desafios, destacou Bynoe, quando se trata de novas medidas de mitigação e adaptação em relação aos desastres hidroclimáticos. Bynoe também mencionou a importância do capital humano e insistiu na necessidade de se ter pessoas capacitadas em áreas especiais para ajudar a modelar, “porque, para nos prepararmos, temos que saber do que se trata, qual a probabilidade de ocorrência, qual caminho podemos tomar para conseguir o que mais nos beneficie”.

“Precisamos do capital humano porque primeiro os governos da região devem colaborar para que as lições aprendidas em um país possam ser levadas para outros e replicar as boas experiências para não serem reféns do mesmo tipo de problemas”, disse Byone. “Mas também é preciso o capital social dentro do país no qual tentamos garantir a participação de todo os atores. É um processo muito democrático porque não se trata apenas das autoridades. Cada pessoa, cada família, deve desempenhar um papel na adaptação. Começa com um homem em uma mulher diante do espelho”, enfatizou.

Em outubro de 2010, o furacão Tomas passou bem perto de Santa Lúcia e deixou 14 mortos e danos materiais de milhões de dólares. Três anos depois, o país foi um dos três do Caribe oriental que, em 24 de dezembro de 2013, receberam centenas de milímetros de água que causaram a morte de 13 pessoas. Envolverde/IPS