Sociedade

Serra Leoa longe de controlar foco de ebola

A população de Serra Leoa e sua sociedade civil se preocupam com a maneira como o governo lida com o foco de ebola. Foto: Marc-André Boisvert/IPS
A população de Serra Leoa e sua sociedade civil se preocupam com a maneira como o governo lida com o foco de ebola. Foto: Marc-André Boisvert/IPS

 

Freetown, Serra Leoa, 7/11/2014 – A mortal epidemia de ebola, que vem fazendo estragos na África ocidental, vem constrangendo o governo de Serra Leoa e seu sistema de saúde, afirmou à IPS o ministro de Saúde e Saneamento do país, Abubakar Fofana. “Não estávamos preparados para esse flagelo do ebola. Nos pegou de surpresa, e com nosso débil sistema de saúde só podemos depender do apoio dado por nossos sócios internacionais”, ressaltou.

Segundo um informe divulgado no final de outubro pela organização britânica Save the Children, a cada hora, cinco pessoas são infectadas na capital Freetown, e a situação é preocupante. Mas o governo não deu importância a essa conclusão, dizendo que o estudo exagerava e que a situação está melhorando em algumas partes do país. A sociedade civil e a população estão preocupadas com a maneira como o governo está lidando com o problema.

“As autoridades deveriam ser mais proativas. Deveriam pagar razoavelmente bem os trabalhadores da saúde, que são os soldados da primeira linha nessa luta, e garantir que recebessem equipamentos de proteção pessoal adequados”, apontou à IPS o diretor do Movimento Antiviolência, Bernard Conthe. “Isso não acontece. Inclusive a implantação da quarentena em supostos infectados com ebola não está sendo realizada de maneira efetiva”, denunciou.

Somente no dia 2 deste mês, foram registrados 61 novos casos no país, elevando o total nacional para 4.059 pessoas infectadas com o vírus. Desse modo, Serra Leoa supera a vizinha Libéria, que até há um mês era o país mais infectado, tendo 2.515 casos, enquanto a Guiné, onde a epidemia começou, tem 1.409. Desde o surgimento da epidemia, em abril, em Serra Leoa cinco médicos e 60 enfermeiros e auxiliares de saúde morreram devido ao ebola. E os números não param de crescer.

A Iniciativa para a Governança Africana também apresenta um panorama funesto do foco em Serra Leoa, destacando que o vírus se propaga nove vezes mais rápido do que há dois meses. Dos 12 distritos do país mais a capital, apenas Koinadugu, ao norte, estava livre do ebola… até há pouco tempo. Agora já tem pelo menos seis casos confirmados. Isto é, atualmente não há nenhuma região do país livre do flagelo.

Uma nota positiva é que a comunidade internacional ajuda o governo de Serra Leoa. A Grã-Bretanha enviou equipamento médico e trabalhadores da saúde, e construiu centros de exames e tratamento em várias partes da capital. A China também mandou ajuda médica, enquanto Cuba enviou dezenas de médicos. De todo modo, ainda há muitos desafios. Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), o foco está longe de terminar e se necessita desesperadamente de mais ajuda.

“Há uma enorme brecha em todos os aspectos da resposta, incluindo atenção médica, capacitação do pessoal da saúde, controle de infecções, rastreamento de contatos, vigilância epidemiológica, sistemas de alerta e envio a hospitais, educação comunitária e mobilização”, segundo a MSF. Enquanto acontece o difícil combate contra o ebola, com o vírus se propagando rapidamente, Freetown acaba de implantar estado de emergência de um ano.

A medida foi tomada dois dias depois de encerrado um estado de emergência anterior, de 90 dias, iniciado em julho em resposta ao foco da doença. O promotor-geral e ministro da Justiça, Frank Kargbo, declarou à IPS que a extensão do período de emergência é necessária para ajudar a controlar o avanço do vírus. “Ninguém sabe quando a epidemia terminará. Acreditamos que nesse período, trabalhando duramente, poderemos conter a enfermidade”, acrescentou.

Muitos atribuem a veloz propagação do vírus às atitudes da população e, como diz a MSF, a uma falta de suficiente educação e mobilização comunitária. As práticas culturais e as crenças tradicionais também dificultam muito a luta contra o ebola. “Nossa gente ainda continua tocando, lavando e enterrando seus mortos. Assim é fácil se infectar, embora tenham sido avisados reiteradamente para não agirem assim”, explicou à IPS o presidente do Comitê Nacional de Resposta ao Ebola, Alfred Palor Conteh.

A população também se recusa a procurar um hospital quando adoece, por medo de que seus familiares e suas comunidades os estigmatizem. Muitos creem que o ebola é fatal e que ir a centros de tratamento não ajudará. Os sobreviventes do vírus e os pacientes que recebem alta também são estigmatizados. Mas o ministro Fofana tem esperanças de que, com a ajuda internacional, a situação logo fique sob controle. Envolverde/IPS