por Leno Silva, especial para a Envolverde – 

Normalmente, quando avisto o ônibus a caminho do ponto, corro para não perdê-lo, e logo penso na sintonia do tempo que não a vemos, até acontecer.

Noutro dia, por poucos segundos perdi o coletivo. O vi fazendo a curva; torci para o farol fechar, acelerei o passo, mas quando olhei, percebi que ele não tinha parado no ponto, e em função disso já havia percorrido a Rua Sabará e começava a subir a Av. Consolação.

Pensei comigo: Não era para estar naquele ônibus e fiquei tranquilo, à espera do próximo que, segundo previsão, demoraria 20 minutos. Olhei no relógio, fiz as contas, e se o trânsito estivesse livre, deveria atrasar no máximo 10 minutos para a reunião.

Detesto atrasar nos compromissos, mas naquele dia decidi relaxar. No ponto, sem cobertura, suportei os poucos pingos de chuva que me refrescaram a cachola. Uma senhora se aproximou e disse que ao lado havia um pé de jabuticaba carregado da fruta. Dei um sorriso, agradeci e fiquei na minha.

Ao olhar no muro bem à minha frente, li: Cemitério dos Protestantes, fundado em 1858, sepulturas disponíveis. Pensei alguns segundos que embora tivesse passado ali várias vezes, ainda não tinha prestado atenção nessas informações.

Enquanto o “busão” não vinha, fiquei imaginando que neste ano esse condomínio muito seguro para quem já partiu dessa existência completará 160 anos desde a sua inauguração. Com as facilidades da internet agora é possível adquirir o jazigo num clique, desde que se tenha recursos suficientes para a aquisição, a manutenção e, depois, para a construção da casa eterna.

Antes de entrar no coletivo, pensei com os meus botões: quando chegar a hora de partir, a minha preferência é pela cremação. Assim não ocupo espaço, e pedirei que as minhas cinzas sejam lançadas ao vento. Dessa forma elas serão livres e, de sopro em sopro, poderão percorrer o mundo.

Apenas como informação, o trajeto foi ótimo e cheguei atrasado apenas 9 minutos ao meu compromisso. Por aqui, fico. Até a próxima. (#Envolverde)