Sociedade

“Sr. criatividade” quer levar o século 21 a escolas brasileiras

Projeto EdgeMakers integra disciplinas de criatividade, design thinking, empreendedorismo e fluência digital em um novo currículo.

Dentro de alguns anos você vai ouvir falar de carreiras como piloto de drone civil (avião não-tripulado), especialista em sustentabilidade, consultor genético e diretor de cyberseguranca com muita frequência. São os chamados empregos do século 21, que vão demandar novas habilidades, como criatividade e empreendedorismo por parte dos profissionais.

Como você viu no especial sobre especial sobre Personalização do Ensino feito pelo Porvir, escolas ainda mantém um sistema típico do século 20, enquanto o mundo já pede novas habilidades dos alunos. Não há receita de bolo, mas não falta quem queira trazer para o país um novo olhar para a educação. Um dos últimos a chegar é o norte-americano John Kao, também conhecido como “senhor criatividade”, que promete despertar o estudante brasileiro para a inovação.

Crédito: chalabala/Fotolia.com
Crédito: chalabala/Fotolia.com

 

Com experiência de quem já foi tecladista de Frank Zappa, mas também construiu base sólida com formação em medicina e filosofia pela Universidade de Yale e MBA em Harvard (onde também lecionou por 14 anos e lançou o currículo de criatividade e inovação), Kao se considera um “ativista de inovação”. Seu mais novo projeto, EdgeMakers, se propõe a tratar do tema desde cedo, a partir do sexto ano do ensino fundamental, numa idade em que, segundo ele, adolescentes estão começando a se distanciar da escola. O sistema integra disciplinas de criatividade, design thinking, empreendedorismo e fluência digital em um novo currículo. “O conteúdo digital que eles recebem fora da escola é tão maior que o aprendizado que os prepara para a vida acontece com o time de esporte, com amigos e na internet”, diz.

A educação tradicional enfrenta problemas em muitos países, com alta evasão. Nos Estados Unidos, mais de 20% alunos não terminam o ensino médio. No Brasil, estes números atingem 52%, segundo o IBGE. “Educação é um serviço que é detestado por seus clientes”, diz Kao. Para ele, atualmente um jovem pode fazer tudo certo, estudar certo, ter boas notas, obedecer as regras do sistema e não se dar bem. Mas qual o motivo? “Empregos de hoje estão desalinhados com o sistema de ensino. Estou certo de que existe um espaço entre o que a crianças estão recebendo e o que elas precisam”, explica.

Segundo o pesquisador, a criatividade das crianças e dos jovens é um dos recursos mais subutilizados do planeta. “Pense em plantar muitas e muitas sementes e imaginar o impacto que isso terá no futuro”, explica. Nos EUA, três quartos das crianças estão interessadas em abrir uma empresa. Mais de 80% estão incomodadas com o estado das coisas no mundo e outros 30% fazem trabalho voluntário. “Os sinais estão dados sobre o desejo de aprender, como ser empreendedor”, afirma.

No Brasil, o projeto EdgeMakers já realizou pilotos com 500 alunos nos colégios particulares Pueri Domus, COC e Dom Bosco, localizados em São Paulo. Dentre outras atividades, alunos participaram de programas colaborativos para desenvolver “a mochila ideal” e de sustentabilidade envolvendo o próprio ambiente escolar. A intenção de Kao é iniciar uma imersão no mercado brasileiro em janeiro, mas para isso precisa estabelecer parcerias com escolas, governos e fundações.

Foto: Vinícius de Oliveira
Foto: Vinícius de Oliveira

 

“Escolas são o parceiro ideal porque o ambiente da sala de aula permite o desenvolvimento do trabalho colaborativo que planejamos quando você pensa em uma aula por semana durante cinco anos. Teremos materiais que pais poderão trabalhar com seus filhos e também analisamos boot camp (intensivo) para proporcionar uma versão resumida”, explica.

Apesar disso, o “ativista de inovação” diz não querer ser inimigo do sistema. Para ele, a plataforma EdgeMakers funciona como uma vitamina para a vida escolar balanceada. “Não quero discutir currículo básico, aulas de geometria, história do Brasil, mas há muita coisa que não é tratada”.

* Publicado originalmente no site Porvir.