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Sustentabilidade em tempos de crise

O uso intensivo de energias limpas, de baixo carbono só oferece benefícios às empresas e à sociedade. No entanto cortar despesas, uma diretriz da crise, nem sempre é a melhor saída, investir e melhorar a eficiência também é preciso.

Rodolfo Nardez Sirol*

Vivemos em um período de recessão econômica. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção da indústria brasileira em 2015 teve uma redução de 8,3%. Diante deste cenário, os agentes econômicos estudam alternativas para a contenção de custos sem perder a competitividade no mercado. Mas, nem sempre a saída é cortar despesas. Investir para melhorar a eficiência também é preciso.

CPFLE por que não investir na mitigação de carbono, reciclagem, uso racional de energia elétrica e de água? Com o engajamento para conter o aquecimento global, após a Conferência do Clima (COP-21), países deram a largada para a economia verde e empresas ganharam um estímulo para rever os seus processos operacionais para se tornarem mais sustentáveis. A definição de políticas públicas para incentivar a redução de gases de efeito estufa pode potencializar ainda mais este movimento.

O relatório intitulado “O argumento comercial para a economia verde: retorno sustentável do investimento”, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em parceria com a SustainAbility e a GlobeScan, apresenta dados econômicos convincentes que mostram as vantagens da economia de baixo carbono em ação.

Segundo o próprio relatório, uma conhecida companhia multinacional de bens de consumo chega a economizar por ano, mais de US$ 10 milhões, por meio de um plano que integra a sustentabilidade aos seus modelos de negócio. Cerca de 12,5 milhões de lares em todo o globo, que consomem seus produtos, economizam em média 30 litros durante a lavagem de roupas. Outro exemplo é uma indústria de processamento de alimentos que economizou, aproximadamente, US$ 700 mil e 338.400 m3 de água em três anos com o seu programa de redução de consumo dos recursos hídricos.

Aqui no Brasil, estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO) revelam que a queda da produção industrial resultou no aumento de 3% do desperdício de energia elétrica no ano passado. Ou seja, esteiras em linhas de produção que carregavam um determinado volume de produtos, utilizam hoje a mesma energia para carregar um número menor, além de áreas iluminadas que permanecem acesas sem necessidade. Por isso, ações de fomento à eficiência energética podem trazer um benefício direto às empresas em um curto prazo de tempo.

A troca do sistema de iluminação convencional por um modelo mais eficiente pode ser o primeiro passo. Uma lâmpada LED custa 10 vezes mais que uma lâmpada comum, porém, dura cinco vezes mais e reduz o consumo de energia elétrica entre 40 e 80%. Além disso, cada MWh/ano de energia economizada evita a emissão de 0,12 toneladas de CO2, e o retorno no investimento pode ser de um a dois anos, dependendo do projeto.

A micro e mini geração distribuída, regulamentada em 2015 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é outra possibilidade para as indústrias que desejam conciliar sustentabilidade e redução de custos, produzindo a própria energia a partir de fontes renováveis alternativas. Estudo feito pela Aneel mostra que uma indústria localizada em Fortaleza/CE pode economizar até 60% ao ano na sua fatura de energia investindo em uma planta solar de 350 kW de capacidade instalada. Isso porque o excedente de energia gerado pode ser usado para abater a conta de luz.

As empresas que investem em energia renovável terão, sem dúvida, importante ganho na reputação, além de contribuir para que o País cumpra as metas no Acordo sobre Mudança Climática de Paris. Na CoP-21, o Brasil se comprometeu a elevar de 10% para 23% o uso dessas fontes na matriz elétrica até 2030. 

Foi com essa visão que a multinacional brasileira Algar Tech investiu, em parceria com a CPFL Eficiência, em duas plantas solares para abastecer os seus data centers em Campinas (SP) e Uberlândia (MG) e na modernização dos sistemas de iluminação e climatização. Esses projetos proporcionarão uma economia de 3,5 mil MWh por ano (volume suficiente para abastecer 1,165 mil famílias com o consumo mensal de 300 kWh), além de reduzir em 547,94 toneladas de emissões de CO2 (gás carbônico) por ano, equivalente ao plantio de 4,105 mil árvores.

Portanto, investir em sustentabilidade pode ser uma estratégia inteligente em um momento de crise. Empresas em transição para mitigar os seus impactos ao meio ambiente podem ter suas vendas impulsionadas, inclusive melhorando a reputação da marca. Basta encararem a crise como uma oportunidade para se reinventarem.

*Diretor de Sustentabilidade e Meio Ambiente da CPFL Energia