Opinião

A Sustentabilidade na Alta Costura

Marcos Madeira. Foto: Zeppelin
Marcos Madeira. Foto: Zeppelin

Por Rafaela Artero*

Enquanto o mundo se rende ao fast-fashion, em que as roupas são rapidamente descartadas e as lojas de departamento trazem novas tendências todos os dias, uma área importante na indústria da moda continua sendo o seu oposto: o high-fashion. Nesse sistema, os estilistas possuem em torno de seis meses para criar as coleções, geralmente começando suas pesquisas logo após o desfile da última coleção.

Durante as semanas de moda de haute couture (em português, alta costura), renomadas grifes mostram vestidos de festas que provavelmente veremos as celebridades usando no tapete vermelho nos próximos meses. Porém, não é só para isso que o haute couture serve. Se estamos na era em que as coleções precisam ser produzidas rapidamente para que o público ávido tenha o mais breve possível as peças em suas mãos, a alta costura pode fazer uma pesquisa mais aprofundada, trazendo inspirações da artes visuais, da literatura, da música e de outras culturas. A intenção das marcas é mostrar toda a sua técnica e expertise nas criações. É durante essas semanas que vemos uma verdadeira fusão entre moda e arte e não sabemos se as peças deveriam estar em uma passarela ou em um museu.

É por todo esse refinamento e exclusividade que a alta costura pertence ao mercado de luxo. O público é extremamente seleto, pois uma peça pode custar pelo menos U$10 mil. Os looks são feitos artesanalmente – algumas marcas, como Valentino, possuem uma costureira para cada peça -, com produtos de altíssima qualidade. Por isso, muitas vezes o assunto sustentabilidade pode fazer com que o seu público torça o nariz. Mas a dupla de mestres Viktor Horsting e Rolf Snoeren mostrou que com técnica e criatividade a sustentabilidade pode ser levada para o mercado de luxo.

Dimitrios Kambouris. Foto: Getty Images
Dimitrios Kambouris. Foto: Getty Images

Em sua última coleção de alta costura, a holandesa Viktor & Rolf fez uma escolha ousada. Os estilistas pegaram peças de temporadas passadas e realizaram o upcycling, técnica em que materiais que são velhos ou estão em desuso são transformados em novas peças. Titulada de “Vagabonds”, a coleção se inspirou nos “vagabundos” das obras do autor inglês Charles Dickens. É possível ver o upcycling nas peças com os diferentes tecidos que são costurados formando babados volumosos. Além de tecidos, botões e paetês foram reciclados e ganharam um novo uso. A coleção pode ser considerada uma revolução para a moda. Por ano são desperdiçadas toneladas de tecidos pela indústria têxtil. Nesse upcycling de luxo, a marca mostrou que é possível unir a moda e a sustentabilidade. Em entrevista a Vogue, Snoeren conta como foi a experiência de revisitar coleções antigas, “é uma sensação boa, como um novo começo”. Porém, ele afirma que não há nostalgia, “você olha para o passado de uma maneira neutra. Tudo se torna equivalente nessa nova textura”.

Não é só a grife holandesa que está fazendo esforços para levar a sustentabilidade para a alta costura. A atriz e embaixadora da ONU Mulheres, Emma Watson levou o tema da reciclagem para o tapete vermelho do baile do Metropolitan Museum of Art, em Nova York. No evento que tinha como tema “Ser Humano x Máquina: A Moda na Era da Tecnologia”, Emma usou um vestido feito a partir de garrafas plásticas. A peça foi feita em parceria com a grife Calvin Klein e Eco Age. Em seu Facebook, a atriz comentou sobre a importância de unir a moda e a sustentabilidade:“O plástico é um dos grandes poluentes do planeta. Ser capaz de reutilizar esse desperdício e incorporá-lo no meu vestido para o #MetGala prova o poder que a criatividade, tecnologia e a moda podem ter se trabalharem juntos.” (#Envolverde)