O estudo Alimentação na Primeira Infância: conhecimentos, atitudes e práticas de beneficiários do Bolsa Família, realizado pelo UNICEF, diagnosticou um alto consumo de alimentos ultraprocessados em lares atendidos pelo Bolsa Família.
A análise mapeou hábitos e práticas, nível de acesso à informação e insegurança alimentar agravada pela pandemia de covid-19, entre crianças com idade entre zero e seis anos, de famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família, agora substituído pelo Auxílio Brasil.
Foram entrevistadas 1.343 pessoas responsáveis por 1.647 crianças, em 21 estados.
Cerca de 80% das famílias relataram o consumo de alimentos ultraprocessados pelos pequenos no dia anterior à entrevista.
01 Biscoitos salgados ou recheados.
02 Bebidas açucaradas, como bebidas lácteas e achocolatados.
Os motivos citados com maior frequência para a compra de alimentos e bebidas ultraprocessados foram sabor (46%), preço (24%) e praticidade (17%).
Outro fator é a acessibilidade, uma vez que 64% das famílias afirmaram morar perto de estabelecimentos de refeições prontas e 54%, próximos de lojas de conveniência, enquanto o acesso a hortas perto da casa é menor, apenas em 15% dos casos.
O estudo aponta como a falta de informação adequada impacta de maneira preocupante os hábitos alimentares dessas famílias, que enfrentam barreiras para identificar o que é de fato um alimento saudável.
Pouco menos da metade (48%) das famílias não se sente confiante para interpretar os rótulos dos alimentos. Soma-se a isso o fato de que apenas 34% afirmaram que costumam lê-los e entendê-los com frequência antes da compra.
A maioria dos entrevistados (83%) não considera que seus filhos ingiram esses alimentos numa frequência maior do que deveriam.
Cerca de um quarto da amostra relaciona erroneamente os alimentos ultraprocessados a fontes de vitaminas e minerais para seus filhos e 47% associam pelo menos um alimento ultraprocessado como parte de uma alimentação saudável.
Essa percepção é maior nas áreas urbanas, o que pode representar um reflexo da imagem vendida pelo marketing desses produtos, que enfatiza na sua publicidade que esses alimentos são complementados com nutrientes importantes para a alimentação infantil.
Os três tipos de alimentos ultraprocessados mais percebidos como saudáveis foram pão de forma (47%), achocolatados e cereais matinais (35%) e bebidas lácteas e/ou queijo petit suisse (23%).
O acesso dificultado à alimentação saudável foi apontado por mais de 80% dos entrevistados, e a baixa diversidade na dieta por 25%.
Crianças menores de 2 anos que vivem na Amazônia Legal, por exemplo, são mais sujeitas à baixa diversidade na dieta do que no Semiárido ou nas capitais.
A incidência de famílias em situação de insegurança alimentar também é maior em áreas rurais e na Amazônia Legal, antes e durante a pandemia.
A pandemia da covid-19 impactou o acesso à renda e à alimentação adequada. Muitas pessoas perderam o apoio de espaços institucionais, como escolas que ofereciam merendas, e tiveram que centralizar a alimentação nos domicílios.
Essa mudança ampliou a incidência de famílias em situação de insegurança alimentar.
Cerca de 72% das famílias entrevistadas afirmaram que alguma criança com idade até 5 anos e 11 meses que reside na casa deixou de fazer alguma refeição porque não havia dinheiro para comprá-la. Esse número era de 54% antes da pandemia.
Stephanie Amaral, oficial de Saúde e Nutrição do UNICEF no Brasil.