COP19: “Quem governa a Polônia?”

Central de carvão Siekierki, em Varsóvia, na Polônia. Foto: http://en.wikipedia.org/
Central de carvão Siekierki, em Varsóvia, na Polônia. Foto: http://en.wikipedia.org/

 

Varsóvia, Polônia – À frente do Nardoway Stadium, olhando em direção ao sul, se veem a distância as chaminés fumegantes de uma central de carvão. Trata-se da central Siekierki, desde 2012 de propriedade da PGNiG, uma grande empresa estatal polaca, cujas emissões de CO2 são de cerca de 3,2 milhões de toneladas ao ano.

A Polônia depende do carbono para a maior parte de seu consumo energético e, em 2012, foi a nona maior produtora de carbono do mundo.

Parece irônico também que, a poucos quilômetros de distância da COP19 (onde continuam as discussões sobre como reduzir os efeitos negativos do aquecimento global), aconteceu ontem o International Coal & Climate Summit, aberto com discursos do Primeiro Ministro polaco Janusz Piechoci?ski e da secretária executiva do UNFCCC Christiana Figueres (que, dessa forma, reconhece e valoriza o encontro). É uma forte mensagem da parte do governo polaco interessado em proteger os interesses da indústria do carvão, obstaculizando, ao mesmo tempo, as negociações oficiais de criação de políticas ambiciosas e eficazes no âmbito climático.

Tudo isso sem tomar conhecimento da verdadeira vontade da população: uma pesquisa recente mostrou que mais de 70% dos polacos querem investimentos governamentais em matéria de energia renovável e que mais de 80% da população considera a mudança climática um problema sério que o governo deveria enfrentar.

Apesar disso, as pessoas-chave da política polaca, ao lado da “World Coal Associacion”, assinam o assim chamado “Warsaw Communiqué”, no qual se tenta mostrar que é possível enfrentar a mudança climática continuando a queimar carvão, utilizando tecnologias de baixa emissão.

Como destacaram alguns representantes do WWF durante uma coletiva de imprensa, a verdade é diferente daquela apresentada durante a Summit: o carvão não é um recurso econômico, mas tem custos humanos e ambientais terrivelmente altos e está alimentando a mudança climática e agravando seus impactos: a ideia de que possa existir um “carvão limpo” é um mito, uma tentativa desesperada da parte desse setor industrial para sobreviver, como destacou uma carta enviada pelo Greenpeace às Nações Unidas.

Samantha Smith, do WWF Global Climate & Energy Initiative, declarou: “Aqui em Varsóvia, as negociações em andamento foram freadas pelos interesses de algumas grandes companhias nos combustíveis fósseis e pelos governos que dependem delas. Trata-se de uma situação política escandalosa, quando sabemos que queimar combustível fóssil é a maior fonte de poluição.”

Enquanto, no interior do prédio do Ministério da Economia polaco, os lobistas vindos de todo o mundo continuavam a falar do “carvão limpo”, fora do edifício vários grupos e organizações se manifestavam.

Estavam presentes os membros da campanha Cough4Coal, que organizaram diversas performances em torno de um pulmão inflável de 7 metros, e do “people before Coal”, protestando contra os custos sanitários ligados ao uso do carvão, que chegam a 8 bilhões de Euros e causam cerca de 3000 mortes prematuras todos os anos (como mostrado por uma pesquisa realizada pela “Health and Environment Alliance”) e, por fim, alguns ativistas do Greenpeace que, no teto do Ministério da Economia, desenrolaram uma faixa com as palavras:

“Quem governa a Polônia? A indústria de carvão ou as pessoas?”.

* Daniele Saguto é repórter da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação, que pretende levar propostas da juventude para serem contempladas pelos negociadores brasileiros durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP19).

** Para acompanhar a cobertura jovem da COP19 acesse também:  www.agenciajovem.org e www.redmasvos.org. Os conteúdos serão produzidos em português, espanhol e italiano.