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Trens de carvão se chocam com muro de resistência nos Estados Unidos

Os trens de carvão perdem quase meio quilo de pó tóxico por vagão a cada 1,5 quilômetro, afirmam ativistas ambientalistas. Foto: Scott Granneman/cc by 2,0
Os trens de carvão perdem quase meio quilo de pó tóxico por vagão a cada 1,5 quilômetro, afirmam ativistas ambientalistas. Foto: Scott Granneman/cc by 2,0

 

Spokane, Estados Unidos, 10/1/2014 – Ativistas do noroeste dos Estados Unidos lutam contra a instalação de três terminais de carvão, enquanto avança o movimento pela erradicação do uso das usinas que utilizam esse mineral em todo o país. Um dos terminais seria instalado no Oregon e os outros dois em Washington, ambos Estados do noroeste, na costa do Pacífico. Os ativistas já conseguiram impedir a instalação de outro trio de terminais para carvão.

A campanha Beyond Coal (Além do Carvão), da organização ecologista Sierra Club, considera esse fato um sinal de progresso do movimento nacional. “Há três razões principais pelas quais nos opomos à exportação de carvão”, explicou à IPS Trip Jennings, organizador do grupo ecológico Portland Rising Tide.

“A primeira, e mais importante para nós, é que estamos fechando usinas de energia nos Estados Unidos”, disse Jennings. “Oregon e Washington estarão totalmente livres de carvão em alguns anos. Nós, como comunidade e cidadãos, decidimos que não queríamos que se queimasse carvão. Se permitirmos que as empresas o exportem, ruirá todo o trabalho que fazemos para enfrentar a crise climática”, acrescentou.

“A segunda é que esses projetos têm um impacto enorme no número de trens que passam pela região. Cria-se uma situação em que nos comprometemos a transportar produtos básicos de alto poder destrutivo, em lugar de transportar pessoas ou recursos limpos pelos nossos trilhos”, pontuou Jennings.

“O terceiro argumento é a poluição produzido quando os vagões perdem quase meio quilo de pó por vagão a cada 1,5 quilômetro, o que acaba afetando o campo, os rios, riachos e as comunidades com o tóxico e sujo pó de carvão”, que provoca asma e doenças pulmonares, destacou o ativista.

Em 8 de maio de 2013, a empresa de energia Kinder-Morgan abandonou o plano de construir um enorme terminal de exportação perto da cidade de Clatskanie, no Oregon, com capacidade para exportar anualmente entre 15 e 30 milhões de toneladas de carvão da bacia do rio Powder.

Em 1º de abril, a companhia de energia Metro Ports, a última investidora restante em um terminal proposto para Coos Bay, também no Oregon, deixou caducar um contrato de negociação. Os investidores Mitsui & Co., do Japão, e a Electric Power Corporation, da Coreia do Sul, já haviam se retirado das negociações. O terminal teria capacidade anual de exportação entre oito e dez milhões de toneladas de carvão.

A terceira vitória dos ativista se deu em agosto, quando a Rail America retirou os planos para instalar um terminal de carvão no porto de Greys Harbor, em Hoquiam, no estado de Washington, que transportaria cerca de cinco milhões de toneladas desse mineral por ano.

Os três terminais que seguem em andamento no Oregon e em Washington têm contra si diferentes organizações, como a coalizão Power Past Coal ou Portland Rising Tide. Esta última é uma rede internacional de grupos dedicados a lidar com as principais causas da mudança climática, que começou a atuar na Europa em 2007 e depois chegou aos Estados Unidos.

O pó tóxico de carvão dos trens “também atinge rios e riachos matando os salmões e impedindo que continuem desovando onde o fazem há milhões de anos. Dedicamos muitos recursos à habilitação e proteção das migrações do salmão no noroeste”, disse Jennings.

O carvão será extraído das minas nas bacias dos rios Powder e Tongue, nos Estados de Wyoming e Montana, respectivamente. As ferrovias, se os projetos avançarem, transportariam o carvão pela garganta do rio Colúmbia, já no Oregon, com destino às embarcações. Dali adentraria pelo vizinho Estado de Washington até chegar aos outros terminais portuários projetados.

A cidade de Spokane, em Washington, seria afetada por qualquer dos trajetos previstos para o carvão, porque todos a atravessariam. Muitos moradores temem que o maior tráfego ferroviário obrigará a parar com frequência o tráfego de veículos, inclusive os de emergência. Mais de 400 pessoas participaram de uma audiência pública sobre a proposta do terminal Millennium Bulk, nesse Estado, em setembro passado, e a maioria foi contra a ferrovia do carvão.

Na audiência, o presidente do Conselho de Spokane, Ben Stuckart, levantou um saco contendo carvão que ele e outros moradores recolheram, com pedaços inteiros do mineral que caíram dos carregamentos de trens anteriores. Os trens podem perder até uma tonelada de carvão em cada viagem, afirmam ativistas.

Esse projeto também fez com que 164 mil cidadãos enviassem suas observações ao Departamento de Ecologia do Estado e ao Corpo de Engenheiros do exército norte-americano, antes da finalização, em novembro, do prazo para entregá-las.

Por sua vez, a coalizão Power Past Coal se concentrou nos processos regulatórios e de autorizações. Uma de suas vitórias é que o condado e o Estado acordaram considerar o impacto ambiental das emissões de carbono no transporte do carvão e das emissões que resultarão quando o carvão for consumido, para o outro terminal projetado, Gateway Pacific.

Entretanto, nenhum órgão público aceitou incluir em seu estudo de impacto ambiental “que tipo de contaminantes serão produzidos nas cidades que não têm nenhuma outra conexão, salvo que serão cidades de passagem para os portos”, disse à IPS o advogado Cullen Gatten, que participou como assessor jurídico em uma recente audiência em Spokane.

“A China também se distancia lentamente do uso do carvão. Além disso, está buscando a energia limpa, poderá usá-lo agora, mas existe a preocupação de que terão de caminhar para outra coisa antes de extrair todo o mineral”, observou Gatten.

A empresa australiana Ambre Energy é a maior investidora estrangeira nos três projetos. Liz Fuller, porta-voz da companhia, pediu à IPS o envio de um questionário sobre o tema, mas não deu resposta às perguntas feitas.

Recentemente, as propostas dos terminais de carvão se converteram em tema das eleições para os representantes do condado de Whatcom, no Oregon, onde os candidatos contrários a elas conseguiram a maioria das cadeiras no conselho local. Envolverde/IPS