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Caribe lida com atroz presente ambiental de fim de ano

Habitantes de São Vicente em uma ponte destruída pelas inundações. Foto: Desmond Brown/IPS
Habitantes de São Vicente em uma ponte destruída pelas inundações. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Castries, Santa Lúcia, 13/1/2014 – A morte e a destruição semeadas por intensas chuvas em três países da Comunidade do Caribe (Caricom) nos últimos dias de 2013 são sinal de que a região não tem tempo a perder no fortalecimento de sua resiliência à mudança climática, afirmou à IPS o presidente da Guiana, Donald Ramotar.

Avançando lentamente, uma depressão atmosférica despejou, no dia 24 de dezembro, centenas de milímetros de chuvas sobre São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e Dominica, matando pelo menos 13 pessoas. Após essas mortais inundações e deslizamentos de terra, o governo da Guiana aprovou apoio financeiro de US$ 100 mil a Santa Lúcia e outro de igual valor a São Vicente, entregando a Dominica US$ 75 mil.

“A evidência científica mostra que para nossa região, uma das mais vulneráveis, esses eventos meteorológicos se tornarão mais frequentes na medida em que se intensificarem os impactos da mudança climática”, apontou Ramotar. “Ao reconhecemos nossas próprias vulnerabilidades na Guiana, os esforços se intensificarão em 2014 para melhorar e expandir a infraestrutura, em particular nossa defesa de mares e rios e os sistemas de drenagem e irrigação”, explicou o presidente guianense.

Também servirão para “potencializar nossa capacidade de previsão e mecanismos de respostas, e para construir uma resiliência climática nos setores sociais e produtivos de nossa economia”, ressaltou o presidente, acrescentando que estes passos deverão ser dados no contexto da Estratégia de Desenvolvimento Baixo em Carbono, que o país realiza.

Esta estratégia, criação do ex-presidente Bharrat Jagdeo (1999-2011), propõe forjar uma nova economia baixa em carbono na Guiana na próxima década. Foi aclamada mundialmente, e agora está em fase de implantação. Ramotar enfatizou que o momento de agir com urgência é agora, citando “milhões de dólares em danos e perdas de vidas” devido a eventos meteorológicos extremos.

Em Santa Lúcia, um dos países da Organização de Estados do Caribe Oriental que sentiu o impacto mais severo das inundações de 24 de dezembro, o primeiro-ministro, Kenny Anthony, disse que, embora ainda não se tenha determinado o custo econômico total da tempestade, está claro que a reconstrução consumirá várias centenas de milhões de dólares.

“O dano causado pela depressão atmosférica naquela noite atroz foi amplo e severo. Agora sabemos que cerca de dez moradias foram completamente destruídas pelas inundações. A agricultura foi muito prejudicada. Segundo estimativas iniciais, foram registrados entre 30% e 40% de perdas nos cultivos de banana, 90% nos de verduras e 5% nos de árvores”, acrescentou Anthony.

O primeiro-ministro assegurou que 90% de todos os reservatórios sofreram “vários graus de sedimentação”, e que se perdeu camarões, peixes e gado. “Nossa infraestrutura, parte da qual já estava comprometida em razão do furacão Tomás (em 2010), recebeu outra surra”, ressaltou.

O ministro de Desenvolvimento Sustentável de Santa Lúcia, James Fletcher, informou à IPS que os eventos catastróficos causados pela mudança climática infligiram severos danos psicológicos e de infraestrutura. “Esses eventos meteorológicos extremos são bastante traumáticos para nós, tanto para nossa psique quanto para nosso Tesouro público. Mas isto é o que a mudança climática está nos trazendo, e lamentavelmente é o que temos de esperar”, afirmou.

Fletcher também explicou que cidadãos e empresas comerciais devem fazer um trabalho melhor de manejo do lixo, pois a eliminação indiscriminada obstrui rios e causa problemas severos. “Algumas pessoas tratam os rios como local de jogar lixo. Isto é algo em que temos que prestar muita atenção”, ressaltou.

A Agência de Manejo de Emergências e Desastres no Caribe (CDEMA) notificou que continua em contato com os países afetados e que coordena a resposta e o apoio à recuperação. A agência ajuda os três Estados afetados no desenvolvimento de propostas por acesso a mecanismos do Banco de Desenvolvimento do Caribe, como o subsídio de resposta de emergência e o empréstimo para a recuperação de emergência.

O governo de Barbados está colocando à disposição, para ajudar a transportar suprimentos de emergência para Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas, o Trident, uma embarcação da guarda-costeira com capacidade de mais de quatro toneladas de carga de uma vez. Em Dominica, onde 65 casas foram afetadas pelas inundações, os funcionários encarregados de lidar com os desastres estimam que são necessários US$ 1,13 milhão para uma limpeza imediata.

O primeiro-ministro de Santa Lucia afirmou que o governo de São Cristovão e Neves enviou, por meio do Banco Central do Caribe Oriental, US$ 1,36 milhão como doação para ajudar Santa Lúcia em seus esforços de recuperação. A Grã-Bretanha também envia US$ 1,36 milhão como apoio vital para a emergência humanitária a São Vicente e Granadinas e Santa Lúcia.

O ministro britânico para o Desenvolvimento Internacional, Alan Duncan, fez uma viagem pela região na segunda semana deste mês para se encontrar com os primeiros-ministros dos dois países afetados e discutir a situação humanitária e as necessidades de reconstrução.

O último informe do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) diz que corre perigo a capacidade de destinos turísticos caribenhos como Barbados, Belize, Jamaica e as ilhas Bahamas, entre outros, de abastecer não só seus habitantes, mas também os milhares de visitantes que utilizam sua água, sua energia e outros recursos naturais. Envolverde/IPS