Washington, Estados Unidos, 27/1/2014 – Há oito anos a revista The New Yorker perguntou a Stephen Rosen, então alto membro do Comitê Israelense-Norte-Americano de Assuntos Públicos (Aipac), conhecido por suas posturas belicistas, se esse grupo de pressão judeu fora afetado pela publicidade negativa. “Em seu rosto apareceu um leve sorriso, e ele empurrou um guardanapo na mesa. Vê esse guardanapo? Em 24 horas podemos ter nele as assinaturas de 70 senadores”, disse ao jornalista Jeffrey Goldberg.
Mas as coisas parecem ter mudado oito anos mais tarde.
Há alguns dias, Rosen, que foi obrigado a renunciar à Aipac após ser acusado, e depois absolvido, de espionar para Israel, declarou a Ron Kampeas, da Agência Telegráfica Judia, que o grupo de pressão deveria deixar de confrontar o presidente Barack Obama após ter perdido sua batalha por mais sanções contra o Irã. A Aipac só conseguiu 59 senadores (a maioria do partido opositor Republicano) que apoiaram um projeto de lei para adotar novas sanções contra Teerã.
Essa lei teria feito descarrilar as negociações em Genebra entre a República Islâmica e o P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia mais Alemanha) para fixar um marco ao programa de desenvolvimento nuclear iraniano. Os atuais líderes da Aipac “não querem mostrar que estão retrocedendo. Não creio que a postura de confronto possa ser mantida”, afirmou Rosen. Se a Aipac tivesse conseguido 67 assinaturas no Senado, o projeto teria sido aprovado e evitado a possibilidade de veto por parte de Obama.
A Casa Branca alertou que o projeto era uma violação ao acordo interino alcançado em 24 de novembro entre Teerã e o P5+1, que entrou em vigor na semana passada, e que, essencialmente, congela o programa nuclear em troca de um alívio paulatino das sanções. Após ter obtido o apoio de 59 legisladores durante o recesso de Natal, a Aipac e os principais defensores do projeto, os senadores Mark Kirk, republicano, e Robert Menéndez, do governante Partido Democrata, encontraram uma forte resistência por parte da Casa Branca.
“Se certos membros do Congresso querem que os Estados Unidos realizem uma ação militar, devem se expor ao público norte-americano e dizê-lo”, afirmou Bernadette Meehan, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. “De outra forma, não está clara a razão para um membro do Congresso apoiar um projeto que possivelmente fecharia a porta da diplomacia, tornando mais provável que os Estados Unidos sejam obrigados a escolher entre opções militares e permitir a continuação do programa atômico”, acrescentou.
Porém, este foi apenas o último de vários revezes sofridos pela organização no último ano. Embora nunca tomassem uma posição pública sobre sua nomeação há um ano, é bem sabido que os líderes do grupo exerceram pressão contra a designação do senador republicano Chuck Hagel como secretário da Defesa, por sua postura geralmente crítica à influência de Israel na política norte-americana no Oriente Médio.
Vários grupos e indivíduos próximos à Aipac, em particular o Comitê Judeu-Norte-Americano e a Liga Antidifamação – que também apoiaram o projeto de lei sobre novas sanções – questionaram e se opuseram a Hagel. Entretanto, no final, o senador republicano foi confirmado por 58 votos contra 41. A grande maioria dos congressistas democratas votou a favor dele.
Oito meses mais tarde, a Aipac e outros grupos judeus direitistas fizeram pressão no Congresso a favor de uma resolução que autorizava o uso da força contra a Síria. Embora desta vez sob pedido de Obama e claramente também com apoio do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Mas a posição do público norte-americano contra outra intervenção no Oriente Médio, bem com a aversão instantânea dos republicanos mais direitistas a praticamente todas as iniciativas de Obama, acabaram por afundar o esforço.
De todo modo, nem o caso de Hagel, nem o da Síria, se aproximam da importância dada pela Aipac à sua luta contra o programa nuclear iraniano, que dominou a agenda internacional do grupo por mais de uma década. Nesse tempo, o lobby procurou reunir legisladores dos dois partidos para que apoiassem as sanções e outras leis destinadas a aumentar a tensão e frear qualquer aproximação entre Washington e Teerã.
Em julho do ano passado, por exemplo, a Câmara de Representantes aprovou por 400 votos contra 20 uma lei para deter todas as exportações iranianas de petróleo. Isso ocorreu apenas quatro dias após Hassan Rouhani assumir como novo presidente do Irã. Desde então, a Aipac pressionou duramente, e sem êxito, para que a lei também fosse aprovada no Senado.
“Claramente, o terreno mudou, provocando uma grande derrota da Aipac e de outros grupos que pressionaram agressivamente” a favor das sanções, escreveu Lara Friedman, da organização Americans for Peace Now, no semanário sobre temas legislativos Legislative Round-Up. Vários observadores, incluindo Rosen, alertaram que o esmagador apoio republicano ao projeto de sanções afetou a longamente cultivada imagem bipartidarista da Aipac, afetando suas relações com legisladores e doadores democratas importantes.
“Definitivamente, perderam esta batalha, e isso lhes custou um grande capital político com o governo e com muitos democratas”, apontou um veterano observador do Capitólio, que também afirmou que a Aipac enfrentou “uma tempestade quase perfeita”, formada por uma administração de Obama decidida a lutar e uma comunidade de ativistas que exerceu sua máxima pressão.
No entanto, ninguém acredita que a Aipac e seus aliados se renderam. Se as negociações entre Irã e o P5+1 fracassarem, o projeto de lei Kirk-Menéndez provavelmente regresse de imediato ao Congresso. Na verdade, um influente senador republicano disse que o projeto seria agendado para julho, seis meses depois de o acordo interino com o Irã ter entrado em vigor, no dia 20 deste mês.
“Parece provável que os defensores do projeto estejam dispostos a optar por um plano B, o qual, pode-se imaginar, tomará muito do plano A, mas em lugar de focar no descarrilamento das negociações com novas sanções se concentrará em impor as condições para um acordo final, condições que serão impossíveis de cumprir, aniquilando, assim, qualquer possibilidade de acordo”, previu Friedman. Uma das condições poderia ser o Irã renunciar completamente ao enriquecimento de urânio em seu território, algo que Teerã rechaça plenamente e que a maioria dos especialistas afirma que acabaria com qualquer aproximação. Envolverde/IPS
* Veja o blog de Jim Lobe em http://www.lobelog.com/.