Arquivo

O sol brilha para as mulheres da floresta na Índia

Mulheres da floresta de Anantagiri, no sudeste da Índia, examinam seu secador solar. Foto: Stella Paul/IPS
Mulheres da floresta de Anantagiri, no sudeste da Índia, examinam seu secador solar. Foto: Stella Paul/IPS

 

Anantagiri, Índia, 10/3/2014 – A indiana Chintapakka Jambulamma, de 34 anos, observa admirada um secador solar, invejável propriedade da Sociedade Cooperativa de Mulheres Indígenas Advitalli, coletivo da qual é a líder. Abre uma gaveta do aparelho, retira um punhado de kalmegh, uma planta medicinal, e diz: “Vejam, está secando rapidamente”. À sua volta, as mulheres da cooperativa caem na gargalhada. Pertencem às tribos koya e konds, nas montanhas Ghat orientais do sul da Índia. A floresta sempre foi seu lar e sua fonte de sustento. Agora, aproveitam o sol que brilha através dessa vegetação.

O secador solar tem quatro painéis. Foi instalado há dois anos pela Fundação Kovel, uma organização sem fins lucrativos que ajuda as tribos florestais a defenderem seus direitos e a melhorar seus meios de vida. A máquina, uma de duas instaladas até agora pela Fundação, custa em torno de US$ 17 mil, explica Krishna Rao, seu diretor. O investimento valeu a pena, porque as mulheres estão usando o secador para dirigir um negócio de maneira sustentável, acrescentou.

“Na cooperativa há 2.500 mulheres de 20 aldeias. Nenhuma delas foi além do curso primário, mas sabem como administrar bem uma empresa”, pontuou Rao à IPS. “Estão organizadas e fazem um bom trabalho de equipe. Também aprendem a coletar raízes, folhas e frutos sem danificar a planta mãe, para que seus recursos não se esgotem”, acrescentou.

As florestas dessa região fornecem mais de 700 produtos não madeireiros, que incluem folhas, ervas comestíveis, plantas medicinais, fungos, sementes e raízes.  Entre eles, os mais populares são mel, resinas e amla (groselha indiana), as folhas de tendu e de mahua, e sabão-de-soldado. Durante séculos, os koya e os konds ganharam a vida com estes produtos florestais.

Penikala Ishwaramma, de 23 anos, está entre as que se dedicam a juntar ervas. Em um dia bom, pode colher entre 20 e 25 quilos. Este ano há um cultivo recorde de kalmegh na floresta, por isso colheu 116 quilos desta erva. O departamento florestal compra boa parte destes produtos; 25 deles devem ser vendidos apenas a esse organismo. Mas os povos indígenas consideram lento o processo de compras do departamento, e seus preços são menores do que os de mercado.

O departamento paga 45 rupias por um quilo de groselha, cujo preço no mercado passa de 60 rupias (cerca de US$ 1). Foi esta decepção com os preços do governo que levou as mulheres a criarem sua própria empresa coletiva de venda de produtos florestais. No prazo de dois anos conseguiram ganhar quase os US$ 3.300 que a Fundação Kovel lhes emprestara. A Fundação também lhes deu formação empresarial básica.

Todos os dias, mulheres como Ishwaramma levam sua produção diretamente à cooperativa, onde a equipe administradora a pesa e compra, pagando muito mais do que o governo. “Trabalhamos duro, coletamos ervas e sementes de boa qualidade. Nossa vida depende desse dinheiro. Por que deveríamos nos conformar com menos?”, questionou Ishwaramma.

Mas conseguir um ganho para a cooperativa depende de produzir ervas de boa qualidade com rapidez e eficiência, tarefa difícil porque as mulheres carecem de infraestrutura adequada para armazenar ou secar seus produtos. Além disso, as aldeias florestais são muito vulneráveis às condições meteorológicas extremas, especialmente aos ciclones.

Segundo o Departamento de Manejo de Desastres do Estado de Andhra Pradesh, no sul da Índia, a área sofreu 60 ciclones nos últimos 40 anos, e a frequência está aumentando. Usar a energia solar para secar suas ervas ajuda as mulheres a minimizar os riscos de danos. Em 2013, sua floresta foi açoitada por cinco grandes ciclones: Mahasen, Failin, Helen, Lehar e Madi. Mas as perdas do grupo foram mínimas.

“Antes que uma tempestade se aproxime, tentamos secar a maior quantidade possível de ervas e empacotá-las. Já não precisamos deixar secando no quintal”, destacou Jambulamma. Como a secagem e embalagem já não são feitas ao ar livre, agora a cooperativa se centra em criar uma rede de compradores regulares, que a ajude a ser rentável.

Bhagya Lakshmi, gerente de programas na Fundação Kovel que conecta as mulheres com os fabricantes de produtos a partir de ervas, concorda. “Já conseguiram seu primeiro grande cliente, que é uma empresa farmacêutica fitoterápica de Bangalore chamada Natural Remedies Private Limited. Atualmente, compram kalmegh a granel, mas tentamos encontrar mais empresas para comprar seus produtos”, afirmou.

Além de estabelecer sua clientela, as mulheres planejam modernizar sua tecnologia. Krupa Shanti lidera cinco aldeias florestais da área e diz estar orgulhosa da cooperativa e deseja que cresça. O governo instalou uma central fotovoltaica em uma escola próxima que pode converter e armazenar energia solar. Shanti pressiona as autoridades para que instalem uma dessas centrais em sua aldeia.

“O governo tem muitos programas de bem-estar. Mas para mulheres da floresta, como nós, o melhor programa será nos ajudar a sermos economicamente independentes. Se o governo instalar uma central solar em cada uma de nossas aldeias poderemos expandir esse negócio e mudar nosso futuro”, assegurou Shanti. Envolverde/IPS