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Sri Lanka resseca sob um calor extremo

Os solos de Sri Lanka secam devido à intensa onda de calor. Foto: Amantha Perera/IPS
Os solos de Sri Lanka secam devido à intensa onda de calor. Foto: Amantha Perera/IPS

Colombo, Sri Lanka, 11/3/2014 – O Sri Lanka segue rumo a uma grande crise devido ao calor extremo e à falta de chuvas que sofre. Teme-se que haja cortes de energia e de água, devido à rápida redução das reservas hídricas. Este mês, a Junta de Eletricidade do Ceilão (antigo nome do Sri Lanka) informou que dependia de custosos geradores térmicos para atender 76% da demanda nacional de energia.

Em agosto de 2012, o persistente clima seco praticamente esgotou as reservas hídricas, e o país gastou mais de US$ 2 bilhões na importação de combustível para a geração termoelétrica. A seca afetou mais de um milhão de pessoas, segundo a Cruz Vermelha do Sri Lanka.

A seca de 2012 foi seguida por torrenciais chuvas que permitiram ao setor hidrelétrico recuperar o terreno perdido. Mas o ciclo poderia se repetir uma e outra vez. O diretor do Banco Central, Ajith Nivard Cabraal, alertou que as mudanças nos padrões climáticos têm sério impacto na economia. “O Sri Lanka também sofreu o efeito da mudança climática na forma de secas, inundações e outros desastres naturais. Devemos considerar esses assuntos quando desenharmos as políticas monetárias”, opinou Nivard durante um intercâmbio pelo Twitter.

O fornecimento de energia e a vital colheita de arroz sofrerão se as chuvas continuarem ausentes. Asoka Abeygunawardana, diretor-executivo do Fórum de Energia do Sri Lanka e assessor do Ministério de Tecnologia, disse à IPS que o fornecimento elétrico depende em demasia dos recursos hídricos e de fontes caras como carvão e óleo combustível. O problema dessas fontes é que “uma é imprevisível, enquanto as outras duas podem ser muito caras”, afirmou.

Em um ano normal, o Sri Lanka cobre metade de suas necessidades elétricas com geração hídrica, e o resto mediante uma combinação de carvão e óleo combustível. Só uma mínima parte é abastecida com energias renováveis. Quando não há chuvas, como agora, não resta outra alternativa que não seja queimar carvão e óleo.

O Sri Lanka deve investir mais em fontes limpas e renováveis, disse Abeygunawardana, membro da Rede de Ação Climática da Ásia Meridional, que reúne mais de cem grupos da sociedade civil e estuda o aquecimento global e seus impactos. A política energética do país está focada no carvão, afirmou, que é caro e contaminante. É preciso mais energia eólica e solar, que possam ser mais baratas a longo prazo, apesar do alto investimento inicial, enfatizou.

“Temos luz solar e vento grátis o ano todo, o que faz com que os gastos com funcionamento sejam bem baixos. No caso de seca, o sol preencherá de forma natural o vazio criado pela falta de água”, explicou Abeygunawardana. Outro fator importante é a maneira como se administra a escassa água, usada tanto para gerar energia como para regar as extensas plantações de arroz.

Existe certa comunicação entre as agências de governo que manejam as reservas de água, como o Departamento de Irrigação e a Junta de Eletricidade. Mas Abeygunawardana afirmou que tal coordenação carece de base científica e de planos concretos. “Esses órgãos devem acordar um processo no qual o uso da água seja decidido de forma integrada, e não segundo o desejo de apenas um deles”, ressaltou.

Essas mudanças nas políticas são vitais, considerando o potencial impacto do calor abrasador. A atual seca poderia reduzir a colheita de arroz entre 7% e 10% este ano, segundo o Departamento de Agricultura. O principal produto do país, o chá, também será afetado, já que o aumento das temperaturas diminuirá a qualidade das folhas.

Riza Yehiya, especialista em manejo de riscos climáticos, alertou que os governantes não estão levando a sério as mudanças que ocorrem no planeta. “A maldição do calor extremo que sofre o Sri Lanka é vista como algo passageiro. Os que estão no poder e tomam decisões não conseguem discernir o problema em suas salas com ar-condicionado”, pontuou à IPS.

Yehiya reconheceu que há debate político, mas afirmou que faltam mais medidas de adaptação no terreno. “Na prática, para que uma sociedade seja mais resistente à mudança climática deve estar sempre em pé de guerra de maneira a responder ativamente”, ressaltou.

Os especialistas concordam que os políticos devem dar mais atenção urgente à administração dos recursos hídricos. A água para irrigação agrícola é gratuita no Sri Lanka, mas funcionários do Departamento de Agricultura se queixam de que é quase impossível que os produtores a usem com moderação ou adotem variedades de cultivos mais resistentes à mudança climática.

Yehiya acredita que toda a população deve rever seus costumes diários, desde a forma como rega suas plantas até como lava seus carros e usa a eletricidade. “Para enfrentar essa ameaça é preciso mudar o comportamento das pessoas, de suas sociedades e de suas economias com o fim de reduzir sua pegada de carbono e permitir que vivam de forma sustentável, sem afetar o ecossistema”, destacou.

Entretanto, não se avista semelhante mudança no curto prazo. O país ainda enfrenta cada nova ameaça meteorológica de maneira isolada, sem ver o panorama completo. Envolverde/IPS