Taipé, Taiwan, abril/2014 – Quando lemos romances ou ficções curtas em qualquer idioma o fazemos para entender a história, para aprender algo novo ou, com sorte, para conseguir algum tipo de elevação emocional graças às palavras impressas nas páginas e às habilidades do narrador.
Então, como contar a “história” da mudança climática e do aquecimento global?
Um novo gênero literário chamado “ficção climática”, abreviado em inglês como cli-fi, vem evoluindo nos últimos anos e, embora ainda empreste seu nome da ficção científica, se centra em relatos sobre a mudança climática e seus impactos atuais e futuros sobre a vida humana.
Alguns insistem em que é apenas um subgênero da ficção científica, e isso tem sentido em certo aspecto. Mas, em outros, trata-se de um gênero em si mesmo que está ganhando impulso em todo o mundo, não como mero escapismo ou entretenimento – embora frequentemente inclua esses elementos –, mas como um modo sério de abordar os assuntos complexos e universais existentes em torno da mudança climática.
Sei algo sobre ficção climática porque nos últimos anos trabalhei para popularizá-la, não só no mundo de idioma inglês, mas também entre milhões de pessoas que leem em espanhol, chinês, alemão ou francês, para citar alguns. Em minha opinião, é um gênero internacional, com leitores internacionais, que deveria ser abordado por escritores de qualquer nação e em qualquer idioma.
Cada vez mais novelas de ficção climática se dirigem a uma audiência jovem – “adultos jovens”, no jargão editorial –, como Not a Drop to Drink (Nem Uma Gota Para Beber), de Mindy McGinnis, The Carbon Diaries 2015 (Os Diários do Carbono 2015), de Saci Lloyd, e Floodland (Terra Inundável), de Marcus Sedgwick. Na verdade, são as crianças e os adolescentes que sofrerão as consequências dos estilos de vida escolhidos pelas gerações anteriores.
Em um mundo que enfrenta os impactos potencialmente catastróficos da mudança climática, esse novo gênero literário se incorpora à nossa cultura em narrativa comum, divulgando ideias e pontos de vista sobre o futuro que a humanidade pode enfrentar em dez, cem ou 500 anos.
É aí que entra em cena a ficção climática, que pode desempenhar um papel importante para plasmar as emoções e os sentimentos das personagens, em um relato ou romance bem escrito para conscientizar leitores em todo o mundo.
Imaginem um romance de ficção climática, que não só chegue a milhares de leitores, mas que também os emocione e, talvez, os motive a se converterem em uma voz mais forte no debate político internacional sobre as emissões de carbono.
Esse é o potencial da ficção climática.
Uma universidade dos Estados Unidos oferece um curso sobre romances e filmes de ficção climática para estudantes de ciências ambientais e literatura.
Para Stephanie LeMenager, que este ano dá aulas na Universidade de Oregon, o curso constitui uma oportunidade, para ela e seus alunos, de explorar o poder da literatura e do cinema, em um momento em que escritores e cineastas tentam abordar alguns dos assuntos mais difíceis que a humanidade enfrenta no século 21.
O curso de LeMenager se chama As Culturas da Mudança Climática. É o primeiro na América do Norte, e inclusive no mundo, que se dedica dessa maneira às artes e à mudança climática. Estou seguro de que outras universidades seguirão esse esforço pioneiro, agregando novos cursos sobre ficção climática para seus estudantes.
Nathaniel Rich é um escritor de 34 anos, autor do aclamado romance Odds Against Tomorrow (Prognósticos Contra o Amanhã), uma história ambientada em um futuro próximo em Manhattan, que mergulha na “matemática da catástrofe”. Residente em Nova Orleans, Rich acredita que serão publicados mais livros como o seu, não só em inglês e não só do ponto de vista das nações ricas do Ocidente.
Escritores de todo o mundo devem se animar a incursionar no gênero da ficção climática e a usar a literatura de suas próprias culturas para tentar despertar a população sobre o futuro que pode esperar a todos em um planeta que esquenta sem um fim à vista.
As tramas podem ser aterradoras, mas as novelas de ficção climática dão a oportunidade de explorar esses assuntos com emoção e prosa. Os livros têm importância. A literatura tem um papel a desempenhar em nossos debates sobre os impactos do aquecimento global em todo o mundo.
Se poderá dizer que o cânon do gênero remonta ao romance O Mundo Submerso, escrito em 1962 pelo britânico J. G. Ballard. Outro dos primeiros livros sobre esse fenômeno foi escrito em 1987 pelo australiano George Turner: As Torres do Esquecimento.
A norte-americana Barbara Kingsolver publicou há alguns anos um romance muito poderoso de ficção climática intitulada Flight Behavior (Comportamento de Voo). Me impressionou muito quando o li no verão passado, e o recomendo.
A canadense Mary Woodbury criou o site Cli-Fi Books, que lista romances atuais e passados de ficção climática.
Como vejo o futuro? Prevejo um mundo onde os seres humanos se aferrem à esperança e ao otimismo. E sou otimista. E creio que quanto mais nos apegarmos à ciência da mudança climática no plano cultural mais efetivamente poderemos nos unir para evitar o pior. Envolverde/IPS
* Dan Bloom é jornalista independente de Boston que vive em Taiwan. Em 1971, se formou na Tufts University, onde se especializou em literatura francesa. É ativista climático e literário desde 2006. Para segui-lo no Twitter o endereço é @polarcityman.