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Palestinos diante do árduo desafio da unidade

O primeiro-ministro de Gaza, Ismail Haniya (direita), Azzam al Ahmad, funcionário do Fatah encarregado da reconciliação (centro) e um alto dirigente do Hamás, Musa Abu Marzoq, na reunião em que foi assinada a reconciliação. Foto: Khaled Alashqar/IPS
O primeiro-ministro de Gaza, Ismail Haniya (direita), Azzam al Ahmad, funcionário do Fatah encarregado da reconciliação (centro) e um alto dirigente do Hamás, Musa Abu Marzoq, na reunião em que foi assinada a reconciliação. Foto: Khaled Alashqar/IPS

 

Gaza, Palestina, 8/5/2013 – A tentativa de reconciliação entre as duas maiores forças políticas da Palestina, o Fatah, que controla a Cisjordânia, e o Hamás, que governa a Faixa de Gaza, poderia mudar o equilíbrio no Oriente Médio. A divisão, que também se expressa no controle dos dois territórios palestinos separados, foi um revés para o desenvolvimento e os direitos humanos de suas populações e debilitou sua posição na negociação política para acabar com a ocupação por Israel.

A ruptura aconteceu em junho de 2007 quando o Hamás (Movimento de Resistência Islâmica) tomou o controle de Gaza para prevenir um golpe de Estado contra sua administração e expulsou as forças de segurança da Autoridade Nacional Palestina (ANP), cujo governo é encabeçado pelo Fatah.

Duas semanas depois de anunciada a reconciliação, em 24 de abril deste ano, Ismail Haniya, primeiro-ministro do governo do Hamás, e o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, começam a avançar com cautela. O acordo requer que Abbas inicie as consultas para formar um novo governo de unidade nacional, que ele presidirá, e tem cinco semanas para fazer isso. O pacto também determina a realização de eleições únicas nos dois territórios, seis meses depois da formação do governo de unidade.

O acordo, inesperado, expôs a profunda crise do governo do Hamás, após o bloqueio que Israel impôs a Gaza há sete anos, e o recente endurecimento do controle do exército egípcio na fronteira palestino-egípcia. As forças do Egito destruíram os túneis pelos quais passava todo tipo de contrabando e que tinham se convertido em salvação para a economia da Faixa de Gaza.

“O Hamás é sincero em suas intenções de reconciliação e o deixou explícito em sua aceitação de todas as condições. Estamos dispostos a formar um governo de unidade nacional de acordo com os entendimentos com o Fatah e os demais grupos palestinos”, declarou à IPS o líder do movimento, Salah Bardawil.

Para o governo da ANP, assentado na cidade cisjordana de Ramalah, a reconciliação aparece quando as negociações para alcançar uma solução de dois Estados com Israel se encontra em um beco sem saída, o que levou a Autoridade Palestina a buscar uma aproximação com o Hamás e assim desferir um golpe político a Israel.

Azzam al Ahmad, funcionário do Fatah encarregado das negociações pela reconciliação, disse que já é hora de terminar a divisão palestina. Reiterou que seu movimento cumpre os acordos alcançados com o Hamás no Cairo e depois em Doha, com o auspício do emir do Catar. “Devemos avançar para a formação de um governo de unidade nacional”, afirmou Ahmed à IPS.

O governo de unidade terá tarefas consideráveis pela frente. “A primeira é a preparação das eleições legislativas e presidenciais, e a segunda é abordar temas difíceis como o bloqueio imposto a Gaza e a busca de soluções para a crise no posto fronteiriço de Rafah mediante entendimento com nossos pares egípcios”, explicou à IPS Mustafá Barghouti, secretário-geral do partido Iniciativa Nacional Palestina e membro da equipe que gestiona a reconciliação.

O povo palestino espera que o pacto alivie o bloqueio e o fechamento de fronteiras impostos na Faixa de Gaza, e permita reabrir a passagem fronteiriça de Rafah. “O Egito recebeu bem a reconciliação palestina e se vê medidas para aliviar as restrições em Rafah e facilitar o trânsito em geral, mas isso não significa uma mudança da política egípcia em relação ao Hamás”, apontou Mekhemar Abu Se’da, professor de ciências políticas da Universidade Al Azhar, de Gaza.

“Isso significa que o Egito continuará pressionando o Hamás, a menos que este demonstre sinais de distanciamento da Irmandade Muçulmana”, principal organização política da oposição egípcia, opinou à IPS Se’da. O governo israelense parece estar tocado pelo inesperado acordo e suas repercussões políticas, embora haja indícios de iminentes sanções contra a ANP.

“Em lugar de avançar para a paz com Israel, Abbas avança para a reconciliação com o Hamás. Abbas deve escolher se quer a reconciliação com o Hamás ou a paz com Israel. Não podem ser ambas, apenas uma”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em sua reunião com o ministro das Relações Exteriores da Áustria, Sebastian Kurz, pouco depois de anunciada a reconciliação.

Os passos de potências como Estados Unidos e a União Europeia serão cruciais para apoiar ou solapar o processo de unidade. Envolverde/IPS