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Insurgência talibã afugenta a indústria do norte do Paquistão

A infraestrutura industrial na província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa se deteriora na medida em que a insurgência afugenta os investidores e proprietários. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS
A infraestrutura industrial na província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa se deteriora na medida em que a insurgência afugenta os investidores e proprietários. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 20/5/2014 – A província de Jyber Pajtunjwa, no noroeste do Paquistão, se encontra à beira do colapso industrial, já que a extorsão e os sequestros das forças insurgentes do Talibã que operam no território espantam as possibilidades de produção ou emprego. A província, que compartilha a fronteira com as Áreas Tribais sob Administração Federal (Fata), suporta o terrorismo há anos por ser um terreno montanhoso que proporciona o refúgio perfeito para a insurgência que, segundo seus moradores e funcionários, tornam impossível a vida da população.

Funcionários da Câmara de Comércio de Jyber Pajtunjwa disseram que um terço dos proprietários de fábricas receberam ameaças dos insurgentes, que exigem grandes quantias de dinheiro em troca da liberdade de dirigirem suas empresas. Aqueles que não caíram na ruína por causa dos enormes subornos abandonaram a província e deixaram mais de cem mil pessoas sem trabalho.

Zahid Shinwari, presidente da Câmara de Comércio e Indústrias de Jyber Pajtunjwa, disse à IPS que a partida dos empresários ricos gerou uma situação “extremamente precária” na região. Mais de 2.200 unidades industriais fecharam como consequência direta da extorsão por parte de insurgentes que se identificaram com membros do grupo islâmico radical Talibã, acrescentou. “As pessoas estão levando suas indústrias e seus investimentos para lugares mais seguros, com Lahore, Islamabad e Faisalabad”, detalhou.

A polícia tem dificuldades para encontrar os responsáveis, já que fogem para as Fata, a zona tribal semiautônoma no noroeste do Paquistão que oferece um acesso fácil ao vizinho Afeganistão.

Como não pôde cumprir os numerosos pagamentos exigidos, Rasul Shah, morador de Jyber Pajtunjwa e empresário industrial, fechou sua fábrica de mármore em setembro de 2013. “Tínhamos de pagar muito dinheiro a vários grupos e isso era impossível para nós”, contou à IPS. “Um grupo pedia US$ 100 mil mensais, enquanto outro exigia o dobro. Estávamos sofrendo graves perdas”, acrescentou. O mesmo ocorre com a maioria das 300 fábricas de mármore da região, que fecharam ou se mudaram para outras partes. Nenhum dos distritos da província se salvou. Das 300 empresas no Polígono Industrial de Amazai Gadoon, no distrito de Swabi, 200 deixaram de operar no último ano, apontou Shah.

O clima de terror também causou a escassez de trabalhadores e técnicos capacitados, que encontram melhores oportunidades em Peshawar, a capital, e no resto da província, e em lugares como Dubai, onde recebem salários maiores. As ameaças vão de sutis a chocantes, conta os moradores. Em geral, os insurgentes começam enviando cartas aos donos de fábricas exigindo quantias específicas de dinheiro. Caso se neguem a pagar, eles ou seus familiares são alvo de sequestros e, para sua libertação, são exigidos resgates entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão.

Em 16 de fevereiro, os talibãs lançaram uma granada de mão em uma fábrica no Polígono Industrial de Hayatabad porque o dono se negou a pagar-lhes. No dia seguinte, ele fechou a fábrica de fósforos, seguindo os passos de aproximadamente 20 indústrias da província. Todas utilizavam matérias-primas e empregavam mão de obra local, além de gerarem renda de divisas necessárias para a região. Segundo cálculos de Shinwari, as fábricas respondiam por, aproximadamente, US$ 800 milhões por ano.

Muhammad Anwar, proprietário de uma fábrica de produtos farmacêuticos em Peshawar, disse que é inútil denunciar as ameaças e os sequestros à polícia. “Se denunciamos, os insurgentes matam a pessoa retida. Assim, as pessoas preferem pagar o resgate e libertar seus familiares”, explicou à IPS, acrescentando que quase metade das cem fábricas farmacêuticas da região deixaram de funcionar.

A produção têxtil também sofreu. Sharif Gul, seu amigo e dono de uma fábrica, realizava pagamentos mensais a vários grupos insurgentes até que, há dois anos, decidiu se mudar para Faisalabad, uma metrópole industrial na província de Punjab. Antes da chegada da guerrilha, 22 fábricas têxteis de Jyber Pajtunjwa geraram US$ 130 milhões em impostos para a província.

Enquanto alguns lamentam o ocaso da infraestrutura industrial da região, outros seguem adiante com os planos para o futuro. O chefe de polícia Nasir Durrani informou à IPS que sua província instalará delegacias em cada um dos três polígonos industriais para proteção contra os terroristas. “Também estamos instalando dispositivos para rastrear os telefonemas dos guerrilheiros, para podermos detê-los”, afirmou.

A polícia fez reuniões com empresários para estabelecer medidas de segurança e deter a fuga de empresas para outras províncias, disse Durrani. “A proteção dos industriais é uma alta prioridade para o governo, já que contribuem em grande parte para a renda da província”, acrescentou. Outra estratégia proposta é ampliar a força policial com contratação de mais agentes para atuarem exclusivamente em zonas industriais, o que, ao mesmo tempo, aumentará o emprego.

O ministro de Informação de Jyber Pajtunjwa, Shah Farman, disse à IPS que o governo tem a intenção de instalar mais seis zonas industriais para impulsionar a produção de plástico, aço, petróleo, produtos farmacêuticos e ghee (um tipo de manteiga clarificada, muito usada na culinária indiana, feita com leite de vaca ou de búfala), que são abundantes na província.

Alarmado com a onda de migrações – mais de um milhão de trabalhadores abandonaram a província desde 2009 – Farman também se comprometeu a criar um “ambiente agradável para o emprego”, ao se negar a ceder às demandas dos terroristas. Apesar de ser a terceira maior província do país, Jyber Pajtunjwa conta com apenas 7% de participação no emprego industrial do país. “Isso tem de melhorar”, ressaltou o ministro. Em comparação, a província de Punjab possui 60% da mão de obra das indústrias. Envolverde/IPS