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Jovens do Sri Lanka anseiam por uma verdadeira reconciliação

Jovens do Sri Lanka sentem que a geração mais velha, mais conservadora, impede a reconciliação nacional. Foto: Amantha Perera/IPS
Jovens do Sri Lanka sentem que a geração mais velha, mais conservadora, impede a reconciliação nacional. Foto: Amantha Perera/IPS

 

Colombo, Sri Lanka, 27/5/2014 – Já se passaram cinco anos desde que terminou a guerra civil no Sri Lanka, mas a população mais jovem sente que ainda falta muito para conseguir uma verdadeira reconciliação nacional. Os jovens acreditam que falta compreensão e que as gerações mais velhas não estão dispostas a acabar com as divisões que continuam existindo nesse país, onde anos de conflito étnico criaram uma cultura de desacordos que não terminou no campo de batalha quando esta chegou ao fim, em maio de 2009.

Ativistas e funcionários de diferentes setores do governo realizaram um chamado unânime para que as autoridades cingalesas ouçam os cerca de cinco milhões de moças e moços, com idades entre 15 e 25 anos, que definirão o futuro do país. Se esse setor da população for marginalizado, será impossível conseguir uma paz duradoura, afirmaram.

Milinda Rajapaksha, diretor do Conselho Nacional de Serviços para Jovens, informou à IPS que esse órgão coordena vários programas em todo o país, que demonstram que jovens de diferentes origens étnicas estão dispostos a trabalhar juntos. O Conselho é o maior organismo estatal dedicado aos jovens. Tem representação em todo o território e já implantou 20 programas em escala nacional para trabalhar na reconciliação. “Compreensão, colaboração e cooperação entre os jovens é a única solução para conseguir uma reconciliação total”, ressaltou.

Como milhares de jovens lutaram na guerra, seja como soldados das forças governamentais ou ao lado dos separatistas Tigres para a Libertação da Pátria Tamil Eelam (LTTE), é importante que sejam estendidas pontes para aproximar o que foi afastado pelo cruel conflito.

Outro assunto a considerar, segundo Ramzi Zain Deen, diretor nacional da organização Sri Lanka Unites, é que a pirâmide de idade se torne regressiva. “No Sri Lanka se prevê um envelhecimento da população. Haverá mais pessoas com idade acima dos 40 anos nos próximos dez a 15 anos, entre elas eu mesmo, o que significa que haverá mais gente resistente à mudança”, destacou.

Em 2010, 10% da população do país tinha mais de 60 anos; segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em 2025 serão 20%. Os adolescentes e os jovens são maioria, aproximadamente 25%, e sua falta de acesso ao poder político significa que dependem da geração mais velha para expressarem suas ideias. Mas, longe de sentirem que estão em boas mãos, muitos dizem que nem mesmo são ouvidos, muito menos representados, como atores indispensáveis para o futuro do país.

Pradeep Dharmalingam é um jovem da região norte, que esteve sob controle do LTTE até 2009. Todas as semanas esse rapaz de 20 anos percorre 360 quilômetros de Jaffna, capital da província Norte, até Colombo. E onde quer que esteja percebe a resistência da geração mais velha em aceitar a mudança, contou à IPS. Assuntos como devolução do poder às províncias, especialmente à maioria tamil, que ocupa as regiões norte e leste, são muito delicados, e os mais velhos não largam suas ideias ultrapassadas sobre o futuro político do país, afirmou.

“Em Colombo vejo um extremo, as pessoas falam de desenvolvimento e de dinheiro, e nada mais. Em Jaffna, o outro extremo, só ouço conversas sobre a mudança política. Não existe um ponto médio. Ninguém da geração de nossos pais nos diz como abrandar as asperezas em nosso país”, relatou Dharmalingam.

Seu amigo e companheiro no curso de sistemas em Colombo, Anil Dassanayake, de 21 anos, disse à IPS que as pessoas de mais idade devem parar de “criticar e deixar o passado para trás”. Ele reconhece que os jovens não entendem totalmente como foi a vida durante a guerra, que deixou cerca de cem mil mortos em três décadas. “Deve ter sido terrível, mas temos que fazer todo o possível para estarmos unidos como nação”, opinou.

Um dos problemas é que os mais velhos consideram que a reconciliação e o desenvolvimento são assuntos separados, mas os jovens os veem como movimentos paralelos, que funcionam juntos, insistiu Deen. “É importante para todos nesse país compreender o conceito de viver em harmonia”, ressaltou. “Por isso trabalhamos com os mais jovens que reconhecem que a paz e a harmonia estão estreitamente relacionadas com o desenvolvimento”, acrescentou.

Os temores de Deen se refletem nas iniciativas de desenvolvimento do pós-guerra que inundaram as regiões onde se desenvolveu o conflito no norte e leste do Sri Lanka.

O jovem tamil Benislos Thushan pontuou à IPS que as variadas obras de infraestrutura não conseguiram melhorar a vida da população local, possivelmente pela persistente discriminação racial sofrida pela minoria tamil. “Foram construídas grandes estradas, entre outros projetos, mas as pessoas continuam pobres e em busca de trabalho”, detalhou.

O governo diz que gastou cerca de US$ 4 bilhões em grandes obras de infraestrutura só na Província Norte, mas os números mostram que o desemprego na região duplica a média nacional de 4%. As autoridades locais confirmam que muitos graduados não conseguem emprego ou buscam em outras províncias ofertas abaixo de suas capacidades.

“Não há cargos de direção aqui”, apontou Sivalingam Sathyaseelan, secretário do Ministério da Educação provincial, ao ser consultado pela IPS. “A única coisa que existe pertence à categoria de diaristas. Muitos jovens desejam algo melhor”, enfatizou. Envolverde/IPS