O Brasil imita o tatu bola durante as jornadas da Copa

Já está circulando a revista ECO 21 de maio de 2014. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e o índice da edição.

Editorial

Tatu-bola. Foto: Liana Sena - Associação Caatinga
Tatu-bola. Foto: Liana Sena – Associação Caatinga

Escolhido como mascote da Copa do Mundo de 2014, o tatu-bola mereceu por parte do Governo Federal medidas de preservação do seu hábitat e da própria espécie. Como todos sabem, o tatu-bola ganhou esse nome por se fechar completamente, formando uma bola, para se defender de predadores.

O Brasil, de face aos graves problemas socioambientais que vive neste momento, parece se fechar, não para se defender, mas para não enxergar uma realidade que a cada dia se torna mais complexa e difícil. São Paulo se encontra a pouco tempo de entrar num colapso hídrico; as capitais de diversos Estados sofrem com as greves do serviço de transporte coletivo; nos postos de saúde pública, marcar um exame exige paciência e uma espera de 2 ou 3 meses; o tsunami das empresas do agronegócio transgênico avança sobre milhares de hectares derrubando florestas e secando fontes de água; a energia limpa, solar e eólica, perde terreno para as poluentes termoelétricas; a indústria nacional não consegue competir em qualidade com os produtos semelhantes procedentes de outros países em desenvolvimento; no campo político, os “picaretas” denunciados pelo ex-Presidente Lula, ainda dominam as decisões do legislativo.

Tal como o tatu-bola, o Brasil se fecha perante o debate que deveria ser aberto à sociedade civil sobre as mudanças do Código Mineral, sobre o que fazer com o lixo nuclear e sobre o desmatamento. A SOS Mata Atlântica e o INPE divulgaram o novo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica; de acordo com eles, após dois anos da aprovação do novo Código Florestal, o desmatamento da Mata Atlântica continua a subir. Para entrar no clima da Copa do Mundo, “o Brasil perdeu ao redor de 24 mil campos de futebol do bioma mais ameaçado do País”.

Enquanto isso acontece aqui, a sociedade civil de alguns condados dos EUA baniram definitivamente a produção e o comércio de alimentos transgênicos iniciando uma campanha nacional contra a Monsanto e os OGMs; a França proibiu definitivamente o milho transgênico que aqui se encontra até na cerveja. A China se transformou no maior gerador de energia limpa do Planeta, além de ter reflorestado com árvores nativas milhares de hectares que se encontravam a caminho da desertificação. Alemanha prossegue com a sua política de desnuclearizar sua matriz energética e a Índia populariza o carro elétrico. Vivemos tempos de tatu-bola.

Alguns candidatos a Presidente na próxima eleição registram em seus currículos políticas predatórias explícitas. Um exaltou em Pernambuco a construção da “maior termoelétrica do mundo” e a instalação de uma usina nuclear. Outro, em Minas, não impediu o desmatamento ilegal das florestas para produzir o carvão vegetal que alimenta as mineradoras. São tempos de cegueira, como diria Saramago. A Copa do Mundo tem entre seus realizadores o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, que quando Deputado foi o relator do novo Código Florestal beneficiando os desmatadores, ameaçando as fontes hídricas ao reduzir as matas ciliares. Não é um bom presságio.

Talvez, por isso mesmo, o povo brasileiro escolheu sabiamente o tatu-bola como mascote do maior negócio da FIFA.

Índice

4 Federico Mayor Zaragoza – Uma nova era ambiental

6 Marcelo Justo – Desastres ambientais: um bom negócio para o mercado

8 Gary Olson – Lucrando com o aquecimento global

10 Virgílio Viana – A água da Amazônia e a falta dela em São Paulo

12 Júlio Ottoboni – Entrevista com Wilson Cabral de Sousa Junior

14 Edézio Teixeira de Carvalho – O lugar da água

15 Aspásia Camargo – Saneamento: pauta das soluções sustentáveis da ONU

16 Ariovaldo Caodaglio – Educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos

18 Elton Alisson – Clima põe em risco segurança hídrica na América do Sul

20 Silvia Giannelli – Entrevista com Kanayo F. Nwanze

22 Washington Novaes – Os trangênicos novamente na mesa das discussões

24 Ming Liu – Como trabalhar orgânicos no varejo

28 Samyra Crespo – Mudanças no Jardim Botânico do Rio

30 Letícia Verdi – Governo brasileiro intensifica preservação da Caatinga

31 Lorene Lima – ICMBio aprova plano de ação para conservar o tatu-bola

32 Rodrigo Castro – O nosso futuro depende de conservar o tatu-bola

34 Séfora Antela – Moratória reduzirá ameaças aos botos da Amazônia

36 Carolina Lobo – Ações garantem eficiência na preservação das espécies

38 Carolina Kannebley – Os ODS são desafios da ONU para todos nós

40 Eunice Venturi – Instituto Mamirauá celebra 15 anos na Amazônia

42 Eduardo Gudynas – A exploração do ouro pede uma moratória mineradora

44 Ana Karina Souza – Por que investir em energias renováveis no Brasil?

45 Mariana Scoz – Telhados verdes são uma alternativa sustentável

46 Sérgio Greif – Sobre o comércio de animais silvestres

48 Xico Graziano – Mordida na banana

50 Dan Bloom – Ficção climática, um gênero além da ficção científica

Para assinar clique aqui.