Conferência em Bonn retoma negociações sobre mudanças climáticas

Expectativa é de que países ricos anunciem recursos para o Fundo Climático

downloadBONN, Alemanha – A COP20 – Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas acontece em dezembro na capital do Peru, Lima. Mas, como todos os anos, as negociações entre os representantes dos governos começam antes, desta vez em Bonn, na Alemanha. A presente rodada de negociações intersecionais – como são chamadas as rodadas do meio do ano – se iniciou nesta quarta-feira, 4 de junho, cercada de polêmica ainda maior, em consequência das conclusões desafiadoras do 5º Relatório do IPCC — Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, organismo científico da ONU que estuda os impactos das mudanças climáticas na agricultura, ecossistemas, oceanos, setores econômicos e saúde.

O calendário até o fim de 2015 está cheio! Em setembro deste ano, Assembleia Geral das Nações Unidas abriga a Cúpula do Clima, convocada pelo Secretário Geral da ONU, Ban Ki Moon. Espera-se uma enorme presença de chefes de Estado. Em dezembro, serão definidas em Lima as diretrizes para um novo acordo climático, a ser finalizado e assinado na COP21, em dezembro de 2015, em Paris. Os países devem apresentar contribuições nacionais até março, indicando a ambição de cada um para garantir que nossa geração e as próximas possam usufruir os recursos naturais nas mesmas condições que temos hoje.

É claro que o percurso para que isso aconteça é árduo e longo. Mesmo longe dos holofotes da mídia tradicional, as negociações aqui em Bom podem ser fundamentais para avançar nos acordos. Nesta quinta, dia 5, acontece a primeira reunião de alto nível, mas a ausência de ministros de países importantes já provoca mal-estar entre os representantes da sociedade civil que acompanham o evento. A pauta prevê discussões sobre a falta de ambição atual do Protocolo de Kyoto, que não tem um mecanismo que sirva de rascunho para o novo acordo de 2015. Outro debate tratará do período intermediário, de como ampliar os compromissos dos países até 2020, quando entrará realmente em vigor o acordo que está hoje em negociação.

Fundo Climático

Um dos pontos mais relevantes, que se espera ver anunciado aqui nos próximos 10 dias, é a decisão dos países desenvolvidos de “pagar a conta”, ou seja, colocar dinheiro no Green Climate Fund (Fundo Climático para o financiamento de ações de mitigação e adaptação nos países menos desenvolvidos).

O tema Adaptação, aliás, pode ter um bom resultado nesta rodada. Pode ter seu escopo fechado em Bonn o mecanismo de Perdas e Danos, que começou a ser negociado em Varsóvia durante a COP19, no ano passado. O mecanismo garante benefícios aos países que já estão sofrendo impactos climáticos, como as pequenas ilhas do Pacífico.

Enquanto EUA finalmente anunciaram uma meta de redução das emissões de 30% até 2030 e a China indicou um possível limite absoluto para suas emissões a partir de 2016, os países latino-americanos chegam às negociações em diferentes estágios, num contexto interessante.

PERU – A preparação logística tem exigido grande esforço do governo de Lima para cumprir as metas e garantir uma COP de união;

VENEZUELA – Anfitriã da pré-COP social, a Venezuela também trabalha para receber bem a sociedade civil global em novembro;

BOLÍVIA – Está coordenando o G77 – grupo de 135 países em desenvolvimento que assumem posições comuns durante as discussões – e, portanto, tem uma grande responsabilidade e precisa se manter o mais neutra possível;

CHILE – A recém-eleita presidente Bachelet desenvolve intensa articulação política interna, com uma provável lei de áreas glaciais e o anúncio de metas de redução das emissões.

BRASIL, COLÔMBIA e URUGUAI vivem campanhas de eleições presidenciais, situação comum que posterga a adoção de metas concretas para o novo acordo global do clima, na expectativa de possíveis mudanças nos governos em função dos resultados das urnas.

Apesar dos impasses políticos em vários países da região, a América Latina tem o potencial de influenciar decisivamente os rumos das negociações climáticas, desde agora em Bonn, até Lima em dezembro. Nos próximos dias vamos acompanhar a evolução das conversações para verificar se o potencial se realiza, ou se as delegações latino-americanas vão se curvar aos interesses dos mais desenvolvidos, como mostra, infelizmente, o histórico dos países da região.

Ausência da juventude

Negociações globais são quase sempre destinadas a propor acordos para o longo prazo. No caso das mudanças climáticas, o impacto futuro – de prognóstico cada vez mais preocupante – diz respeito principalmente aos jovens e às crianças que estaremos aqui quando surtirão efeito as decisões tomadas agora por uma ou duas gerações de adultos. Por mais respeitáveis e compromissados que sejam os negociadores e as negociações, o que se vê aqui, mais uma vez, é uma representação dos jovens latino-americanos muito abaixo da esperada e necessária, considerando especialmente que a próxima COP será em Lima no fim do ano. Até agora, a única representante da juventude latino-americana é esta que vos escreve – o que dá uma ideia de quanto estamos distantes de uma representatividade capaz de afirmar os anseios e atender às necessidades das gerações futuras!

* Raquel Rosenberg é coordenadora da Engjamundo, ONG que tem a missão de fornecer à juventude brasileira ferramentas para engajamento nas negociações globais.