Investimento Social Privado – a boa vontade que faz a diferença

1Somos o país da Copa, das Olimpíadas, da diversidade cultural, da alegria – e das diferenças sociais. O Brasil é uma economia rica (o 7o PIB do planeta) mas tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) paupérrimo: estamos em 85º lugar no mundo, segundo os dados de 2013 do PNUD-ONU.

Ora, a força de uma corrente é medida pela resistência de seus elos e por isso nenhuma comunidade pode ser resiliente enquanto tiver pontos fracos. E mesmo as pessoas menos sensíveis em relação aos problemas sociais, culturais e econômicas que vemos todos os dias, cedo ou tarde vão ter que ser protagonistas em relação à solução destes problemas. E para aqueles que acham que pagar impostos é suficiente e que este é “um problema do governo”, uma má notícia: seus tetranetos vão conviver com o agravamento dos problemas, porque nenhum “governo” vai conseguir solucionar os problemas sem a colaboração da sociedade.

A tarefa de promover desenvolvimento econômico com resultados sociais e culturais definitivos – isto é, mais sustentável – precisa ser assumida por todos, pela sociedade. E é nesse contexto que o Investimento Social Privado (ISP) tem um importante papel a cumprir. O ISP é o repasse voluntário de recursos privados para projetos e causas de interesse público e pode ser feito por pessoas ou empresas na forma de doações, filantropia, Responsabilidade Social Empresarial (RSE), patrocínios, investimentos culturais com incentivo fiscal, marketing de causas (uma compra gera um benefício social) ou voluntariado, que é a doação de capital humano.

O objetivo final é termos uma sociedade sustentável em todas as suas dimensões e todo ISP é bem-vindo. Costuma dizer que Filantropia é dar um peixe a quem tem fome; RSE é ensinar a pescar e Sustentabilidade é preservar o rio para que sempre tenhamos peixes. Em 2012 o Brasil tinha 15,7 milhões de pessoas consideradas pobres, das quais 6,5 milhões vivem abaixo da linha da miséria; para esses grupos a Filantropia é necessária. Segundo o IBGE em 2012 45,6 milhões de brasileiros declararam ter alguma deficiência – dos quais 11,8 milhões com deficiência visual; nesse caso programas de RSE podem ser a alavanca necessária para melhorar a qualidade de vida.

Se você não for dono de empresa como Pessoa Física também podem ajudar, mesmo com um pouquinho. Se você não puder ajudar financeiramente uma organização do seu bairro, pelo menos poderá direcionar parte do imposto de renda a pagar para ONGs qualificadas para recebê-los. É simples, mas menos de 20% de quem poderia fazer isso simplesmente não o faz por desconhecimento. Dizem que o brasileiro é generoso em causas sociais, mas isto não aparece em pesquisas: segundo a última edição do The World Giving Index disponível (pesquisa mundial sobre caridade), o Brasil caiu para o 85o. lugar em 2011: somente 26% da população brasileira havia doado algum dinheiro no mês anterior ao da pesquisa.

Se você não tem dinheiro “sobrando”, que tal doar um pouco do seu tempo e experiência como voluntário? Segundo a mesma pesquisa, somente 14% dos brasileiros doam algum tempo como voluntário! Nossa generosidade não condiz com a sétima economia do planeta, especialmente considerando que ser voluntário faz bem pessoal, está na moda e ajuda a conquistar empregos. A inércia explica: temos tempo para manter as redes sociais repletas de mensagens sobre injustiças sociais e meio ambiente puro, mas não temos tempo para agir e realizar essas coisas. Se você acha que não tem tempo para doar, talvez possa doar órgãos que salvam vidas, participando e apoiando a campanha “Doar é Legal” uma parceria da FIESP com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Como dirigente ou colaborador de uma empresa associada à FIESP, você pode acompanhar e participar das atividades do Comitê de Responsabilidade Social (Cores) e ajudar sua empresa a entrar na corrente do bem para elevar nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo pesquisa do Instituto de Pes­quisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2008 (o mais recente disponível), 59% de 782.000 empresas pesquisadas realizavam algum tipo de ISP. E pelo menos as grandes empresas, associadas ao Gru­po de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), sabem que o investimento social vale a pena: pelo Censo 2010-2011, o ISP de 102 associados foi de R$ 2,3 bilhão em 2010, recursos que ajudaram 24 milhões de beneficiários. Isto é ótimo, mas segundo o próprio GIFE milhares de empresas de menor porte também poderiam contribuir.

Além disso, segundo o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), o Investimento Social Privado pode ser mais eficiente porque em grande parte os esforços são isolados, a distribuição é casuística, ainda persiste atitude paternalista dos doadores, a relação com o receptor termina na doação, falta prioridade, controle, avaliação e gestão profissional.

Este cenário precisa e tende a mudar com a divulgação dos princípios da Norma ISO 26.000 e com os esforços inevitáveis das empresas no caminho para a sustentabilidade, porque fazer o bem é bom para o marketing da empresa e das pessoas.

* Rogério Ruschel é diretor da Ruschel & Associados Negócios e Sustentabilidade, consultor em marketing e comunicação para a sustentabilidade, jornalista e autor de 5 livros e 23 estudos e pesquisas sobre meio ambiente, sustentabilidade e cidadania.

** Publicado originalmente no site da Fiesp.