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Caribe busca novos fundos para o clima

Um rio transbordando em São Vicente. O país reforça suas defesas fluviais e costeiras após as devastadoras inundações de dezembro de 2013. Foto: Desmond Brown/IPS
Um rio transbordando em São Vicente. O país reforça suas defesas fluviais e costeiras após as devastadoras inundações de dezembro de 2013. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Kingstown, São Vicente e Granadinas, 24/6/2014 – A forte tempestade tropical de dezembro de 2013, seguida de grandes inundações, ficará registrada na história de São Vicente e Granadinas como o maior desastre sofrido por este país insular do Caribe, cujos danos e perdas chegaram a US$ 103 milhões. Seis meses depois, esse país, que pertence à Organização de Estados do Caribe Oriental, ainda não se recuperou do golpe.

Mas o ministro do Turismo, Cecil McKee, afirmou que foram tiradas várias lições e que o país ficou melhor preparado para futuras catástrofes vinculadas a eventos climáticos. “Lidamos com nossas defesas fluviais e costeiras”, disse à IPS. O governo não só repara as moradias danificadas, como “reassenta as pessoas cujas casas estão nas margens dos rios em áreas onde obviamente estão em risco se houver outro evento semelhante”, ressaltou.

As chuvas do dia 24 de dezembro de 2013 despejaram centenas de milímetros de água sobre os pequenos Estados insulares de São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e Dominica, causando a morte de pelo menos 13 pessoas. Os cientistas consideraram as inundações o pior desastre de que se tem memória nesses pequenos Estados, causado por precipitações de 381 milímetros, muito mais do que a média habitual e que ultrapassaram a capacidade do sistema de drenagem para escorrer a água.

O desastre de Natal, como ficou conhecido, foi uma lembrança de que “a mudança climática veio para ficar”, assegurou McKee. “Se prestarmos atenção ao que ocorreu naquela noite, creio que poderemos concordar que a mudança climática afeta não apenas São Vicente e Granadinas, mas todo o Caribe e de forma significativa”, pontuou. Mas não basta compreender o problema. Muitos Estados insulares da região necessitam com urgência de recursos econômicos para tomar medidas de mitigação e adaptação à mudança climática.

As inundações são comuns no Caribe. Assim acontece na Guiana, um dos países mais propensos a esse problema na região, que se beneficiou de um esquema de crédito multimilionário para se proteger dos transbordamentos das águas. Um comunicado do Banco Mundial assinala que mais de 300 mil pessoas das regiões propensas às inundações do rio Demerara estarão a salvo de inundações e riscos climáticos graças a um empréstimo de US$ 11 milhões feito pela Associação Internacional de Fomento (AIF), dessa instituição.

Quase 90% da população da Guiana vive na estreita faixa costeira que, em sua maior parte, fica abaixo do nível do mar e muito exposta aos efeitos da mudança climática. As intensas chuvas de 2005 causaram inundações e vários danos estimados em quase 60% do produto interno bruto (PIB), então de US$ 465 milhões. O impacto sobre a pobreza foi evidente, muitos agricultores de subsistência, pequenos comerciantes e vendedores foram prejudicados.

Sophie Sirtaine, diretora do Banco Mundial para o Caribe, disse que os fundos servirão para criar oportunidades para a população da Guiana, diminuindo sua vulnerabilidade à mudança climática. O projeto vei melhorar partes importantes dos canais e das represas da Conservação Hídrica do Demerara Oriental, melhorará a capacidade das drenagens em áreas prioritárias ao longo da costa fluvial e aumentará a preparação diante de inundações mediante instrumentos para monitorar os dados hidro-meteorológicos. O crédito da AIF tem vencimento final de 25 anos, mais outros cinco de carência.

Durante a reunião anual de governadores realizada na Guiana em maio, o presidente do Banco de Desenvolvimento do Caribe, Warren Smith, disse que a região é cada vez mais consciente da severa ameaça que a mudança climática representa para a vida cotidiana. “Sete países do Caribe estão entre os dez principais que, em relação ao seu PIB, sofreram as maiores perdas econômicas por desastres causados por eventos climáticos entre 1993 e 2912”, acrescentou, lembrando que “se estima que as perdas anuais poderiam girar entre 5% e 30% do PIB nas próximas décadas.

Segundo Smith, apesar da grande vulnerabilidade da região e de sua exposição à mudança climática, os países do Caribe não conseguiram acesso ou mobilizar recursos econômicos que se ajustem às suas necessidades. Os países da região esperam que o Fundo Verde para o Clima (FVC), com sede na Coreia do Sul, seja mais benéfico do que outras iniciativas globais para lidar com as consequências da mudança climática.

A diretora-executiva do FVC, Hela Cheikhrouhou, disse que a preocupação dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento em todo o mundo têm grande repercussão no Caribe, onde muitas pessoas sofreram os devastadores efeitos dos furacões. “Apesar de as nações caribenhas contribuírem muito pouco para a emissão dos gases-estufa que aceleram a mudança climática, pagarão um alto preço por não agirem para mitigar seus efeitos”, alertou.

O Fundo Verde para o Clima foi criado na 16ª sessão da Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas para a Mudança Climática, realizada no balneário mexicano de Cancún, em novembro de 2010, e espera-se que o FVC possa reunir US$ 100 bilhões por ano até 2020.

O objetivo do fundo é contribuir de forma significativa para os esforços globais a fim de evitar que o aquecimento global supere os dois graus centígrados, oferecendo assistência econômica aos países em desenvolvimento para limitar ou reduzir as emissões de gases-estufa e para se adaptarem às inevitáveis consequências da mudança climática.

“Nossa visão é desenhar novos modelos para o financiamento climático, maximizar o impacto dos fundos públicos de forma criativa e atrair novas fontes de financiamento, públicas ou privadas, para catalisar o investimento em projetos de mitigação e adaptação no mundo em desenvolvimento, disse Cheikhrouhou. McKee também disse que a região implanta medidas que permitam mobilizar ajuda econômica para eventos climáticos como o que afetou os três países caribenhos em dezembro de 2013. Envolverde/IPS