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Antiga e Barbuda pressionada por necessidades energéticas

A refinaria de petróleo Petrotin, em Trinidad e Tobago, que tem uma significativa e provada reserva petrolífera. Foto: Desmond Brown/IPS
A refinaria de petróleo Petrotin, em Trinidad e Tobago, que tem uma significativa e provada reserva petrolífera. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Saint John, Antiga e Barbuda, 6/8/2014 – O governo de Antiga e Barbuda está preso entre suas necessidades de impulsionar a economia, gerar emprego, reduzir o custo da eletricidade, e as críticas pela construção de uma refinaria de petróleo. A solução, segundo especialistas, é promover uma mescla de energias limpas com combustíveis fósseis para atender a demanda energética.

O embaixador da Venezuela neste país, Carlos Pérez, anunciou este mês que estavam avançadas as negociações entre Caracas e Saint John para construir uma refinaria de petróleo neste diminuto arquipélago de 279,72 quilômetros quadrados, no leste do Caribe, nas Antilhas menores.

“Creio que as negociações pendentes sobre a refinaria de petróleo estão bastante avançadas e esperamos continuar com o novo governo do primeiro-ministro Gaston Browne até concluir o projeto que será benéfico tanto para Antiga quanto para a Venezuela”, disse Pérez.

O Partido Trabalhista de Browne obteve a maioria nas eleições gerais de 12 de junho, após dez anos na oposição.

“No informe de 2014, o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) apresenta evidências de que não se deve esperar apenas um aumento de dois graus centígrados na temperatura global, mas, possivelmente, de quatro graus”, disse o ativista dominicano Arthurton Martin, para quem, talvez, esse seja o pior momento para fazer esse anúncio.

Esse prognóstico “implicaria aumento significativo do dano costeiro devido à elevação do nível do mar em países como Antiga, relativamente baixos”, afirmou Martin. “Isso ocasionaria um significativo prolongamento dos períodos secos devido às flutuações da temperatura. Além disso, esse anúncio ocorre quando há tantas opções para enfrentar os desafios energéticos”, acrescentou.

A refinaria não é uma boa opção não apenas pelo movimento global para evitar uma mudança climática catastrófica, mas pelas alternativas limpas que estão disponíveis. O governo deveria se voltar aos biocombustíveis e à energia solar e a eólica para reduzir a dependência do petróleo, sugeriu Martin. Essas alternativas já estão desenvolvidas e há fundos para explorá-las.

“Essa tecnologia está pronta para ser usada. Já é possível comprar. Esta é a primeira vez na história que a comunidade internacional de crédito, de fato, concede empréstimos e fundos para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis”, ressaltou o ativista.

As refinarias de petróleo liberam na atmosfera metano e óxido nitroso, que são gases-estufa mais potentes do que o dióxido de carbono, bem com vários contaminantes aéreos que representam um risco para a saúde e o ambiente, como sulfuro de hidrogênio, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, partículas e componentes orgânicos voláteis.

Chante Codrington, diretor da empresa Wadadli Industrial Renewable Energy Ltd, que negocia com o governo de Antiga e Barbuda a construção de uma fazenda eólica, acredita que esta fonte de energia é a mais eficiente e acessível para a ilha. “Nada bom pode sair das refinarias de petróleo, contaminação aérea e da água, fogo, explosões, contaminação sonora, têm consequências para a saúde, são todas desvantagens”, acrescentou.

“O preço do petróleo disparará”, disse John Burke. “A última vez que chequei, o do sol e do vento não haviam subido”, ironizou. “Atualmente, para cada quilowatt/hora que geramos gastamos entre US$ 0,80 e US$ 0,90 em combustível. Deveriam implantar um programa para financiar e instalar sistemas de energia solar para a classe média e a baixa, que sejam financiados, de fato, com o que economizarmos deixando de importar petróleo”, acrescentou.

Segundo um informe da Comissão Econômica para a America Latina e o Caribe, a previsão é de que a demanda energética na região duplique nos próximos 20 anos ao ritmo de 3,7% anuais.

A maioria dos países do Caribe tem uma forte dependência na importação de combustíveis fósseis. Seu consumo de energia se baseia praticamente apenas em derivados do petróleo, que representam mais de 97% da matriz energética. Trinidad e Tobago é o único país do Caribe insular com significativas reservas provadas de petróleo.

Vários países caribenhos gastam entre 15% e 30% da renda das exportações, incluindo o dinheiro deixado pelo turismo, em derivados do petróleo. Isso faz com que o preço da eletricidade fique entre US$ 0,20 e US$ 0,35 por quilowatt/hora, muito mais do que nos Estados Unidos e na Europa.

Peter Lewis, diretor da empresa Carib EnergySolutions, com sede em Bermuda, disse que o governo de Antiga deve considerar os fatores ambientais relacionados com a refinaria. “Se a tendência mundial para um enfoque misto é a melhor opção para perseguir uma agenda energética, poderá atrair mais empresários ao setor e fazer funcionar a economia”, opinou à IPS.

“Nenhuma fonte única deveria poder responder por toda a fatura de energia. É um erro”, afirmou Martin. “Já vivemos a experiência em Dominica com a banana quando apostamos tudo em um só cultivo. Nenhum país deveria apostar tudo em nenhuma fonte única de energia. Até a Venezuela entende isso agora”, ressaltou. “Se a energia solar pode contribuir com 3%, se a eólica oferece 15%, se a conversão da biomassa pode dar 20%, o que se está fazendo é reduzir, de fato, a dependência em uma das fontes de energia mais sujas”, acrescentou.

No começo de 2007, o governo de Dominica anunciou seus planos para que a Venezuela construísse uma refinaria de petróleo na ilha, mas após uma onda de protestos, os grupos ambientalistas conseguiram deter a iniciativa um ano mais tarde. Envolverde/IPS