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Falta água potável no sul do vasto Oceano Pacífico

Vários países insulares do Pacífico têm dificuldades para levar água potável para regiões remotas. Foto: Catherine Wilson/IPS
Vários países insulares do Pacífico têm dificuldades para levar água potável para regiões remotas. Foto: Catherine Wilson/IPS

 

Lotofaga, Samoa, 4/9/2014 – Os países insulares do Pacífico sul estão rodeados pelo maior dos oceanos, mas vários problemas, como falta de água doce e de infraestrutura adequada, além dos efeitos da mudança climática, deixam as populações locais sem água suficiente para suas necessidades básicas. Laisene Nafatali vive na aldeia de Lotofaga, na costa sul de Upolu, a principal ilha de Samoa, localizada a nordeste de Fiji.

Como muitos dos cinco mil habitantes desta ilha, Nafatali depende da água da chuva e da superficial para as tarefas domésticas. Mas sem uma fonte próxima para se abastecer, como um riacho ou cascata, e sem reservatório para armazenar água da chuva, ela tem dificuldades para cozinhar, beber e cobrir suas necessidades de saneamento.

“Temos apenas um balde (pouco menos de quatro litros); se chove toda semana a maior parte se perde”, contou Nafatali à IPS. Também explicou que muitas pessoas não podem recolher quantidade suficiente em recipientes tão pequenos. “Temos um balde para guardar água para o vaso sanitário, mas não dá para toda a família”, detalhou.

Água, saneamento e gestão dos resíduos são fundamentais para conseguir um desenvolvimento sustentável, e por isso concentram a atenção da Terceira Conferência Internacional de Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, que começou no dia 1º, em Apia, capital de Samoa, e termina hoje.

A estação úmida terminou em março, e agora, na seca, só chove entre duas a quatro vezes por mês. “Se não chove durante toda a semana, alugamos um caminhão, colocamos todos os nossos recipientes nele e vamos até onde há famílias com encanamento e pedimos um pouco. Mas isso só dura uns dois ou três dias, e depois temos que voltar”, disse Nafatali. Para lavar, ela e os seis integrantes de sua família vão à praia, a cerca de 30 minutos a pé; quando a maré baixa cavam um poço na areia até encontrar água.

A maioria dos moradores de Lotofaga é de agricultores de subsistência e não pode economizar para comprar um reservatório de água, que custa cerca de 2.700 talas (cerca de US$ 1.158). O pouco dinheiro que tem gasta em transporte para buscar suprimentos diversos. “Em lugar de economizar para seus filhos, para sua educação, alimentação e roupas, os habitantes gastam o dinheiro em água”, lamentou Nafatali.

Armazenar a maior quantidade possível de água de chuva é vital para garantir a segurança hídrica de longo prazo, onde 65% do fornecimento procede de águas superficiais e 35% da subterrânea. A Autoridade de Água de Samoa, cujos serviços chegam a 85% da população, oferece unidades de tratamento para as fontes existentes nas zonas rurais. Cerca de 18% da população rural, mais de 32 mil pessoas em 54 aldeias, participam de programas hídricos independentes locais, também administrados localmente.

Sulutumu Sasa Milo, presidente da Associação Independente de Programas de Água, apontou que, apesar de a infraestrutura ter uns 40 ou 50 anos e precisar de melhorias, a iniciativa é vital para o sustento de muitas comunidades rurais. A infraestrutura de abastecimento por gravidade inclui encanamentos que levam a água desde a fonte, como um rio ou um riacho, até as aldeias com reservatórios para armazená-la. Depois, cada família cuida de fazer sua própria ligação.

Um funcionário da divisão de recursos hídricos do Ministério de Ambiente e Recursos Naturais em Apia, disse à IPS que Samoa recebe uma boa quantidade de chuva, cerca de 8.400 milímetros cúbicos ao ano. O problema está nas pequenas e empinadas bacias que têm uma limitada capacidade de captação, bem como nas pressões sobre os recursos hídricos pelo crescente desenvolvimento e pelas mudanças observadas nos últimos cinco anos na estação úmida.

Esta costumava começar em outubro e se estender por cerca de seis meses, mas agora tende a começar antes e durar metade do tempo, uns três meses. “A diferença é que as chuvas se concentram em um período mais curto e é mais difícil coletá-la. Em 2011, caiu 80% da média anual de precipitações em três meses e a maioria se perdeu”, pontuou o funcionário.

Em Upolu fica a capital e vivem 70% dos 190.370 habitantes, o que gera enorme demanda de água devido à expansão do desenvolvimento urbano, às usinas hidrelétricas, da agricultura e do turismo. Um informe do Ministério de Ambiente e Recursos Naturais, do ano passado, destaca a questão das florestas nas bacias, que ajudam a proteger a quantidade e a qualidade da água doce, mas cujas árvores foram cortadas para dar lugar à agricultura e ao desenvolvimento comercial e residencial da ilha.

Além disso, o impacto de desastres, como o terremoto e o tsunami de 2009 e o ciclone Evan de 2012, degradou as áreas de captação de água e a infraestrutura hídrica. Com as secas de 2011 e 2012, muitas aldeias, especialmente na costa sul de Upolu, ficaram sem água porque secaram os riachos e as áreas de captação.

A segurança hídrica varia entre as ilhas do Pacífico. Kiribati e Tuvalu não têm quantidades significativas de água doce, já Papua Nova Guiné recebe cerca de 801 milímetros cúbicos por ano e em Samoa chove aproximadamente 1.328 milímetros cúbicos. Os desafios em matéria de gestão na região são a contaminação hídrica e conseguir os recursos econômicos, técnicos e humanos para realizar grandes projetos de infraestrutura e estender o fornecimento a zonas afastadas e dispersas.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz que os recursos hídricos em Upolu estão sob estresse ecológico porque se perde cerca de 85% da vegetação e devido à contaminação gerada pelo lixo. Samoa está bem encaminhada para cumprir os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), mas é fundamental aumentar a capacidade de armazenamento de água e gerir os riscos ambientais para melhorar o acesso a água potável que, segundo se estima, chega a 40% da população.

Seis dos 14 Estados insulares do Fórum das Ilhas do Pacífico – Ilhas Cook, Fiji, Niue, Palau, Tonga e Vanuatu – avançam para melhoria do acesso a água potável e saneamento, considerados essenciais para obter melhores resultados em matéria de saúde pública e desenvolvimento sustentável. Envolverde/IPS