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O bazar turco faz negócio na cúpula dos mais pobres

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Estande de roupa masculina na seção turca da feira, repleta de ofertas para compradores dos países menos adiantados.
Istambul, Turquia, 16/5/2011 – Nos salões superiores, onde acontecia a conferência dos países menos adiantados (PMA), foi dito tudo o que é necessário sobre as misérias da pobreza e as virtudes do desenvolvimento. Alguns andares abaixo, as chamadas “forças do mercado” ocupavam seus espaços, minando quase todas as grandes declarações da IV Cúpula das Nações Unidas sobre os PMA, encerrada no dia 13.

Uma bateria de empresas turcas instalou suas bancas do Século 21 neste bazar, ávidas por negócios com suas contrapartes dos 48 PMA, do Haiti à Birmânia, passando por Sudão e Iêmen, sendo 33 países africanos, 14 asiáticos e um americano. Muitos gerentes dessas contrapartes receberam ajuda financeira para estarem em Istambul e conhecer os produtos em oferta. Este é “o caminho do setor privado” da Conferência, paralelo às conversações oficiais.

A feira distribuiu de maneira igual espaços para cada um dos PMA. Mas a seção turca esteve repleta de objetos, enquanto a dos países mais pobres entre os pobres permaneceu vazia, a ponto de a maioria dos países não colocarem nem mesmo uma mesa e uma cadeira, por fim, desnecessárias diante da falta de alguém para ocupá-las desde o dia 8, início do encontro. O bazar do setor privado é uma expressão simbólica do dramático desequilíbrio do qual falaram e tentaram, em vão, superar os delegados no andar de cima. Era um instantâneo da dizimada empresa privada do mundo pobre.

“O setor privado está bastante atrasado em muitos PMA”, disse à IPS a subdiretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Valentine Rugwabiza. “Há um grande dinamismo em Bangladesh, mas não podemos dizer o mesmo da maioria dos africanos”. A funcionária destacou o notável contraste entre estes países e a Turquia, que é a 12ª economia do mundo. “Os empresários dos menos adiantados necessitam de uma associação mais estreita. E o país anfitrião desta Conferência é um exemplo excelente. Fiquei encantada com o modo que empresas e governo trabalham lado a lado. É impressionante a forma com se reúnem com seus governos e ministros, e o governo lhes dá respostas em duas semanas”, destacou.

Em muitos países existem organizações empresariais que se agrupam em nome de interesses comuns, ou grupos industriais que pressionam seus governos, acompanham as negociações e fazem indicações claras sobre o que suas indústrias estão em condição de aceitar, de oferecer e de rejeitar. Os governos dos PMA, não têm tradição de trabalhar com as empresas, explicou Rugwabiza. E este é um fator central do desequilíbrio. “Queremos que os PMA exportem móveis, não madeira”, disse à IPS o diretor-executivo do não governamental South Centre, Martin Khor, com sede em Genebra.

Contudo, estes países têm pouquíssimos produtos acabados a oferecer. Segundo dado da Organização das Nações Unidas, o comércio proporciona 70% da renda nacional destas economias, mas quase três quartos do que exportam são compostos por um punhado de matéria-prima. Lar de quase 900 milhões de pessoas, os PMA sempre foram fornecedores de produtos básicos e compradores de manufaturados.

O bazar exportador no centro de convenções de Istambul oferecia uma viva imagem do que as empresas querem vender. Várias companhias turcas apresentavam camas e equipamentos hospitalares, um negócio promissor em países com altos níveis de enfermidades e escassa infraestrutura médica. Havia também grande variedade de bens de consumo, desde acessórios de alta costura até decoração e móveis. Boa parte era dirigida a uns poucos das populações mais pobres, uma fração da classe média e alta em quase 900 milhões de pessoas.

Em meio aos espaços desertos que deveriam estar ocupados por empresas dos menos adiantados, o estande de Bangladesh era virtualmente uma ilha de atividade. “De fato, esperamos deixar em breve a categoria de país menos adiantado”, disse à IPS a presidente da Associação de Mulheres Empresárias de Bangladesh, Nasreen Awal Mintoo.

Boa parte do crescimento é conduzida pelo setor privado, acrescentou. “As empresas de Bangladesh estão fazendo muito e estão crescendo em maior velocidade. E o empresariado feminino cresce rápido também, o que ajuda o crescimento do país.” Talvez os espaços vazios nesse grande bazar devessem estar ocupados pelos empresários, com uma grande participação feminina, em lugar de esperar que fossem ocupados por meio das práticas das conferências internacionais. Envolverde/IPS