A inauguração da Estação Pinheiros, da linha 4-amarela do metrô, prevista para hoje, tem um gosto amargo para os paulistanos. Em janeiro de 2007, sete pessoas morreram após serem engolidas por uma cratera aberta no local da estação ainda em obras. O consórcio Via Amarela (nomes aos bois: Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Alston) chegou a culpar a natureza, o terreno, as chuvas, rochas gigantes, o imponderável, enfim, grandes forças malignas do universo contra as quais He-Man e She-Ha lutavam, pela tragédia.
Em um momento em que os paulistanos (pelo menos sua classe média conectada ao Facebook) voltam as atenções para a rede de metrô e protestam por um transporte coletivo democrático devido à pataquada causada pelo segregacionismo de parte dos moradores de Higienópolis, seria importante o poder público olhar com mais carinho, com controle e fiscalização, para as obras que ele encomenda à iniciativa privada. Nenhum benefício trazido à população é capaz de justificar a morte de trabalhadores e de outras pessoas inocentes causada por processos mal conduzidos, aliados à pressa e à pressão por economia de recursos.
Hoje, na inauguração, políticos sorriem branco, muito branco. Mas na hora de encontrar responsáveis por óbitos, de discutir obras apressadas ou mal feitas, todos desaparecem rapidamente, feito os ratinhos que vivem nos túneis de trem. Ou dão sorrisos amarelos ao lançar a frase-mor da enrolação no Brasil: “uma comissão será criada para analisar o ocorrido”. Até porque, como sabemos, trabalhador é descartável. Morre um, tem logo outro para assumir o lugar.
E a linha 4-amarela vai colecionando cadáveres. Em outubro de 2006, um operário morreu soterrado após um túnel de 25 metros de profundidade na futura estação Oscar Freire desabar. Os responsáveis pela obra, na época, negaram-se a dar qualquer justificativa. Em fevereiro deste ano, um engenheiro de um empreiteira terceirizada morreu eletrocutado com uma descarga de 20 mil volts enquanto trabalhava nas obras da linha 4. O Metrô informou que, “por intermédio do Consórcio Via Amarela, tomará todas as providências cabíveis e dará todo o apoio necessário à família”. Tipo, um tapinhas nas costas e um “foi mal aê”.
Arquitetonicamente, a meu ver, a estação é um trambolho de desperdício, quando deveria ser simples e discreta, considerando o que se passou por lá. Dessa forma, torna-se involuntariamente um monumento que celebra sim os mortos ao relembrar nossa estupidez e incompetência para administrar a pólis. Por fim, ser inaugurada de forma incompleta, apenas para cumprir um calendário já atrasado, é sintomático do que foi a Estação Pinheiros. A cereja do bolo da festinha.
* Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.