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Um golaço contra a fome na África

futbolIaundé, Camarões, 2/2/2015 – Um jogador de futebol chuta a bola e marca um gol no vídeo apresentado antes de cada partida da Copa Africana de Nações, que está sendo realizada na Guiné Equatorial, desde 17 de janeiro até 8 deste mês. O vídeo faz parte da campanha Futebol Africano Contra a Fome, uma iniciativa conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Confederação Africana de Futebol (CAF), e o gol simboliza a erradicação deste flagelo no continente até 2025.

“O futebol, como nenhum outro esporte, une as pessoas, dentro dos países e além das fronteiras. É exatamente esse tipo de união que precisamos para alcançar a meta da fome zero na África”, afirmou Mario Lubetkin, diretor de comunicações da FAO, em uma entrevista online.

“Nosso objetivo é aproveitar a popularidade do futebol para divulgar a atual luta contra a fome no continente e conseguir apoio para as iniciativas locais que aproveitem os êxitos econômicos africanos, a fim de financiar projetos que gerem meios de vida resilientes e ajudem as comunidades nas regiões que sofrem insegurança alimentar”, explicou Lubetkin.

Em 2014, os governos africanos se comprometeram a erradicar a fome crônica de suas populações até 2025, em linha com a campanha Fome Zero da Organização das Nações Unidas (ONU). A fome na África é um fenômeno generalizado, que afetava cerca de 227 milhões de pessoas em todo o continente em 2014. Segundo o informe O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, apresentado pela FAO em outubro, 25% da população subsaariana está desnutrida.

Apesar de suas extensas terras férteis e de sua grande população jovem, a África continua gastando mais de US$ 40 bilhões por ano com importação de alimentos, apontou Tumusiime Rhoda Peace, comissária de Economia e Agricultura Rural da Comissão da União Africana.

“O fato de a população do continente estar crescendo significa que, enquanto a África avançou na erradicação da fome na última década, o número total de pessoas que sofrem fome aumentou. Isso acrescenta urgência à necessidade de financiar as soluções locais que permitam às famílias e comunidades fortalecer a segurança alimentar e gerar meios de vida resilientes”, destacou Lubetkin à IPS.

Apontando para um vínculo mais direto entre o futebol e a luta contra a fome, Lubetkin pontuou que uma nutrição suficiente é tão essencial para o desenvolvimento cognitivo e físico quanto para alcançar as metas pessoais. Nenhum dos jogadores da Copa Africana poderia se apresentar com o nível que o fazem sem nutrir-se de maneira adequada, acrescentou o funcionário da FAO.

Para Lubetkin, “o potencial humano que se perde pela persistência da fome continua sendo imenso. Convém a todos nós somar forças para que a fome fique no passado. A luta contra a fome é um esporte de equipe e todos temos que participar”, ressaltou. Calcula-se que mais de 650 milhões de pessoas assistirão pela televisão a Copa Africana de Nações, na qual seleções de África do Sul, Argélia, Burkina Faso, Cabo Verde, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Guiné, Guiné Equatorial, Mali, República Democrática do Congo, Senegal, Tunísia e Zâmbia.

Os responsáveis pela campanha Futebol Africano Contra a Fome esperam que, com o grande número de pessoas que estarão expostas à mesma durante a competição, mais pessoas se comprometam na luta contra a fome. “A história demonstra que, quando a cidadania se compromete os governos, há o estímulo para dedicar fundos à erradicação da fome. A participação da cidadania também costuma fazer as comunidades se reunirem para encontrar soluções inovadoras para problemas em comum”, afirmou Lubetkin.

O diretor da FAO explicou que as partidas de futebol também são usadas para divulgar a mensagem sobre o trabalho do Fundo Fiduciário Solidário para a Segurança Alimentar da África, criado pelos líderes africanos em 2013 para incentivar a participação dos países no fundo como doadores, sócios do projeto e fontes de conhecimento local.

Segundo Lubetkin, “o trabalho no terreno acontece por meio do Fundo, mediante projetos que incrementam o emprego juvenil, melhoram a gestão de recursos e fazem com que os meios de vida sejam mais resilientes e erradiquem a fome mediante a geração da produção sustentável de alimentos”.

Até agora o Fundo empregou US$ 40 milhões dos países africanos para empoderar as comunidades de 30 países na geração de empregos para jovens, ajudá-los a utilizar da melhor maneira seus recursos e melhorar sua capacidade de recuperação em situações de crise. A FAO e o Fundo complementam o Programa Integral de Desenvolvimento da Agricultura Africana (CAAADP), uma iniciativa em nível continental para aumentar a produtividade agrícola.

Lançado pelos governos há dez anos, o CAAADP foi decisivo para que a agricultura voltasse a ocupar um lugar prioritário na discussão política, segundo Komla Bissi, assessor do programa na Comissão da União Africana. “Nossos governos estão voltando a prometer recursos, e é o momento para o setor privado subir no trem”, opinou à IPS, acrescentando que 43 dos 54 países africanos assinaram o acordo do CAAADP e 30 deles desenvolveram planos de investimentos no setor agrícola.

“A tarefa de erradicar a fome e conseguir uma produção sustentável de alimentos é um jogo de longa duração, e esses projetos em curso, junto com outros futuros, são as sementes do processo na luta contra a fome”, concluiu Lubetkin. Envolverde/IPS