Enquanto a Globo for a emissora com maior alcance e líder de audiência, ela sempre vai conseguir oferecer as melhores condições aos clubes.

Acabou como esperado o episódio da negociação das emissoras de TV com os clubes pelos direitos de transmissão dos campeonatos brasileiros de futebol de 2012 e 2013 – a Globo se deu bem. Foi como um filme de Hollywood: você não sabe bem o que vai acontecer no meio do caminho, mas o final é bem previsível.

A trama começou no ano passado, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) exigiu que fosse extinta a cláusula que dava à Globo a preferência na renovação dos contratos com o Clube dos 13 para transmissão do campeonato. A tentativa era de impor condições iguais para a concorrência.

Mas como a Globo não gosta de capitalismo concorrencial, pôs a bola embaixo do braço e se recusou a participar da licitação. Ela sabia que, com o poder de mercado que tem, poderia resolver tudo sozinha. E foi o que aconteceu. Não adiantou a RedeTV! ter ganho a licitação feita pelo Clube dos 13 com uma oferta de R$ 1,5 bi, porque a Globo ignorou e negociou individualmente com os clubes.

O episódio mostra que o problema é maior do que o Cade havia detectado. O mercado de TV, pelas suas características específicas, tem uma tendência à concentração muito maior que outros setores da economia. Neste caso, isto fica evidente se você pensar que não faz nenhum sentido que os clubes assinem cada um com uma emissora. Nesse tipo de negociação, o vencedor leva tudo.

Esta estrutura faz com que haja uma tendência permanente de aumento da concentração. Sem regras específicas, a empresa líder fica cada vez mais líder. Por isto, é que vários países europeus estabeleceram leis para diminuir esse efeito nocivo. Em alguns deles, os pacotes são quebrados, com jogos de meio de semana sendo transmitidos por uma emissora e jogos de final de semana em outra. Outros dividiram a venda dos pacotes de TV aberta e TV paga.

O problema no Brasil é que enquanto a Globo for a emissora com maior alcance e líder de audiência, ela sempre vai conseguir oferecer as melhores condições aos clubes. E isto faz com que eles dependam mais da emissora do que o contrário. Enquanto não for feito nada, os finais desses filmes seguirão sendo bastante previsíveis.

* João Brant é coordenador do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.

** Publicado originalmente no jornal Brasil de Fato, edição 428, 12 a 18 de maio.