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Agricultoras da Índia encontram o êxito em um cartão SIM

Sócias de uma entidade de agricultoras aprendem a usar um dispositivo que envia boletins diários sobre padrões climáticos, cultivos e outros assuntos de importância para as comunidades agrícolas da Índia. Foto: Stella Paul/IPS
Sócias de uma entidade de agricultoras aprendem a usar um dispositivo que envia boletins diários sobre padrões climáticos, cultivos e outros assuntos de importância para as comunidades agrícolas da Índia. Foto: Stella Paul/IPS

 

Mahabubnagar, Índia, 5/3/2015 – Jawadi Vimalamma, de 36 anos, observa seu telefone celular com admiração. É um aparelho simples, que só envia ou recebe chamadas ou mensagens de texto, mas para a agricultora da aldeia de Janampet, no sul da Índia, é uma fonte de conhecimentos que mudou sua vida. O aparelho está equipado com o que os agricultores chamam de SIMVerde, que envia atualizações diárias sobre o clima, conselhos de saúde ou assessoria agrícola.

Há três anos, Vimalamma recebeu uma mensagem pelo telefone que a introduziu nos benefícios da rotatividade de cultivos. “Meus ganhos aumentaram de cinco mil para 20 mil rúpias (de US$ 80 para US$ 232) por safra”, destacou essa agricultora que agora planta arroz, milho e amendoim em seus três hectares, em lugar de depender de apenas um cultivo para sobreviver.

Na vizinha localidade de Kommareddy Palli, a agricultora Kongala Chandrakala utiliza o mesmo cartão SIM em um dispositivo apelidado de “fablet”, um híbrido de baixo custo entre telefone celular e tablet, que recebe informação vital aos pequenos agricultores. O dispositivo foi um salva-vidas para esta mulher, que sobreviveu a anos de violência de gênero antes de tentar a sorte por conta própria. “Há 15 anos, não havia terminado a escola e vivia um casamento abusivo. Hoje tenho minha propriedade e estou fazendo dinheiro”, contou à IPS.

As duas mulheres integram a associação Adarsh Mahila Samakhya (AMS), que ajuda a empoderar as pequenas agricultoras por meio da tecnologia. A AMS tem oito mil sócias e duas mil utilizam o cartão SIMVerde, graças à colaboração do Instituto Internacional de Pesquisa de Cultivos para as Zonas Tropicais Semiáridas (Icrisat), da Índia, e da Bharti Airtel, uma das principais empresas de telefonia móvel do país.

O plano começou em 2002, quando o governo pediu ajuda ao Icrisat para capacitar os agricultores em práticas agrícolas que fossem resistentes às secas. Para executar o projeto no âmbito local, o Instituto escolheu a AMS, que na época era um grupo incipiente com umas poucas mulheres.

Pouco depois, a organização utilizou seu pequeno escritório para abrigar um Centro de Conhecimento Comunitário, uma espécie de unidade experimental de tecnologia onde as mulheres aprendiam a operar dispositivos básicos, como telefone celular e computador, e os empregavam para conseguir informação sobre mudança climática, nível da água subterrânea e técnicas de cultivo que as ajudaram a melhorar o rendimento de suas terras.

Dileep Kimar, pesquisador do Icrisat, explicou que a ferramenta mais popular é o SIMVerde, que divulga uma diversidade de boletins diários sobre preços de mercado, previsão meteorológica, conselhos sobre como ter acesso aos planos de benefícios para os agricultores, guias para planejar os cultivos e as melhores práticas para uso dos fertilizantes.

Um telefone celular pode parecer um grão de areia no vasto mar da pobreza que aflige o setor da agricultura indiana, mas para muitas pessoas mostrou ser, literalmente, um salva-vidas. Dados do censo de 2011 indicam que há 144,3 milhões de trabalhadores agrícolas na Índia, incluídos 118,6 milhões dedicados aos cultivos. Isto compreende mais de 30% do total de trabalhadores do país, de aproximadamente 448 milhões de pessoas.

Uma grande parte dessa mão de obra sobrevive apenas com US$ 1 a US$ 2 por dia, o que leva muita gente a ter dívidas em sua luta para pagar os equipamentos agrícolas, pesticidas e fertilizantes. A variabilidade do clima, como consequência de fenômenos meteorológicos extremos e prolongados períodos de seca, não ajuda a situação, e centenas de agricultores são afetados pelo que os especialistas chamam de crise agrária.

Com poucas opções à vista, centenas de milhares de agricultores escolhem a morte. O Escritório Nacional de Registro de Crimes indica que 270.940 agricultores se suicidaram desde 1995. Mahbubnagar, o distrito onde se localiza a AMS, é conhecido por suas secas recorrentes e pela quantidade de suicídios. A região recebe apenas 550 milímetros de chuva por ano, bem abaixo da média nacional de 1.000 a 1.250 milímetros anuais. Somente em 2013, o distrito teve cerca de 150 suicídios.

Erkala Manamma, presidente da AMS, afirma que a adoção do SIMVerde está mudando essa realidade. Na área, a perda de colheitas já não é tão grave como há uma década, e milhares de agricultores se sentem capacitados pela fonte de conhecimento que se amolda perfeitamente à palma de suas mãos.

Gopi Balachandriya, um agricultor de 50 anos da aldeia de Rachala, no distrito de Mahbubnagar, é um exemplo. Em dezembro de 2013, estava esperando por um dia astrologicamente auspicioso para colher amendoim em suas terras de três hectares, até que uma mensagem que recebeu em seu celular SIMVerde o alertou para uma tempestade iminente. “Rapidamente colhi antes da chegada das chuvas. Me salvou de perder o produto”, afirmou.

Mensagem semelhante ajudou Mallagala Nirmala, uma agricultora da aldeia de Moosapet, a compreender a necessidade do uso sustentável dos fertilizantes. Certo dia recebeu por mensagem de voz a pergunta: “Já analisou o solo de sua propriedade?”. A curiosidade a levou a visitar o Centro de Conhecimento Comunitário, onde aprendeu elementos básicos dos solos saudáveis, inclusive sobre quando acrescentar fertilizantes, que recebe gratuitamente do Icrisat. Agora Nirmala é secretária da AMS. Envolverde/IPS

* Esta reportagem faz parte de uma série de artigos elaborados pela IPS por ocasião do Dia Internacional da Mulher.