Internacional

A luta contra o tabagismo avança a passo de tartaruga

Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2025 haverá entre 1,5 e 1,9 bilhão de fumantes em todo o mundo. Foto: Marius Mellebye / CC-BY-2.0
Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2025 haverá entre 1,5 e 1,9 bilhão de fumantes em todo o mundo. Foto: Marius Mellebye / CC-BY-2.0

 

Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, 7/4/2015 – A cada ano, cerca de seis milhões de pessoas morrem em consequência do consumo de tabaco, das quais 600 mil são fumantes passivos, vítimas do fumo no ambiente em que estão. No total, uma em cada cem mortes no mundo é ocasionada pelo tabagismo. “O tabaco é a única droga legal que mata muitos de seus consumidores quando utilizada exatamente como previsto por seus fabricantes”, afirma a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Fumar cigarros, em particular, e outras formas de consumo de tabaco aumentam o risco de enfermidades não transmissíveis (ENT), como as doenças crônicas respiratórias e cardiovasculares, e os cânceres de todo tipo. As ENT provocam 36 milhões de mortes anualmente, o que significa 63% dos falecimentos no planeta. Delas, mais de 14 milhões de pessoas morrem prematuramente, antes de completar 70 anos.

Para frear essa perda de vidas, governos de todo o mundo assinaram numerosos tratados e protocolos, como o Convênio Marco da OMS para Controle do Tabaco, que atualmente conta com a adesão de 180 países, representando 90% da população mundial. Entre outros objetivos, a convenção pretende reduzir em 30% o consumo de tabaco entre os maiores de 15 anos até 2025.

A comunidade internacional se dirige lentamente, mas sem pausa, para essa meta. Um estudo da OMS, publicado em março, indica que em 2010 havia 3,9 bilhões de não fumantes maiores de 15 anos nos Estados membros dessa organização, ou 78% da população mundial de 5,1 bilhões de pessoas com mais de 15 anos. Mantida a tendência atual, a previsão é que o número de não fumantes cresça para cinco bilhões até 2025, ou 81% da população projetada de 6,1 bilhões de maiores de 15 anos, segundo o informe.

Outro estudo, publicado em março pela revista médica britânica The Lancet, indica que a prevalência de consumo de tabaco entre os homens caiu em 125 dos 173 países pesquisados, e que a taxa de tabagismo entre as mulheres diminuiu em 156 de 178 países, no período entre 2000 e 2010.

Essas tendências são positivas, mas uma análise mais profunda dos dados revela que apenas 37 países, ou 21% dos Estados membros da OMS, poderão cumprir o Plano de Ação Global para a Prevenção e o Controle das ENT no período 2013-2020.

Cerca de três mil partidários do controle do tabaco concluíram, no dia 21 de março, a 16ª Conferência Mundial sobre Tabaco ou Saúde, realizada em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, com um chamado aos governos para que proíbam, entre outras coisas, as campanhas publicitárias das empresas de tabaco que buscam atrair os jovens. Em 2008, a OMS informou que 30% dos adolescentes entre 13 e 16 anos fumam, e que, a cada dia, entre 80 mil e cem mil crianças acendem seu primeiro cigarro.

A organização calcula que metade dos que começam a fumar na adolescência continuarão fumando durante os próximos 15 a 20 anos de sua vida, o que daria credibilidade ao temor de que, quando o consumo de tabaco começa na juventude, a vida também pode terminar de modo prematuro.

Nos setores de música, moda, alimentação e esportes, as transnacionais do tabaco encontram numerosas oportunidades de marketing e publicidade para atrair os potenciais consumidores jovens, já que sua curiosidade e tendência a experimentar os convertem em um dos principais grupos-alvo.

“No tabaco e no tabagismo vemos morte e doença. A indústria do setor vê um mercado”, afirmou Matthew Myers, presidente da organização norte-americana Campanha Pelas Crianças Livres de Tabaco. “A indústria gasta US$ 8,8 bilhões por ano, US$ 1 milhão por hora, em marketing, e grande parte desse dinheiro de formas que tornam esses produtos atraentes e acessíveis às crianças”, afirmou em um comunicado divulgado em janeiro.

“Também utilizam todos os meios, legais e ilegais, para vender seus produtos mortais, enganar o público e as autoridades políticas, procurando passar uma imagem de credibilidade e digna de confiança, e empregam advogados, grupos de pressão e empresas de relações públicas para socavar o bom governo e a vontade das pessoas”, denunciou Myers durante a conferência em Abu Dhabi.

Os cigarros estão disponíveis em shows de rock, eventos esportivos, bares e discotecas, onde os jovens de maior renda costumam socializar, por isso é difícil resistir à pressão de suas amizades. Segundo especialistas, as mulheres, especialmente aquelas com independência econômica, também entram na categoria de mercado emergente para a indústria do tabaco, já que buscam novas vias para expressar sua liberdade.

Myers mencionou o exemplo da Rússia, onde 25% das mulheres entre 18 e 30 anos fumam, e da China, onde é evidente que o hábito de fumar e a moda seguem juntas nas maiores cidades, como Pequim e Xangai. Não se espera que China nem Rússia possam cumprir a meta mundial de reduzir o tabagismo relacionado com as ENT até 2025.

Embora o número de fumantes na Rússia possa passar dos 46,9 milhões, em 2010, para 36,6 milhões em 2025, e se prever que na China baixe de 303,9 milhões para 291 milhões no mesmo período, a taxa de redução nos dois países é extremamente baixa. A situação é particularmente grave na China, onde se calcula que 740 milhões de pessoas sofrem exposição ao fumo de segunda mão. A OMS calcula que 1,3 milhão de chineses morrem por ano de câncer de pulmão, equivalente a um terço das mortes por essa causa no mundo.

Judith Mackay, assessora da Fundação Mundial do Pulmão, afirmou que as indústrias do tabaco objetivam especialmente as mulheres asiáticas devido aos numerosos países em desenvolvimento e às economias de rápido crescimento na região com uma grande população de mulheres jovens. “Para os países dessa região em desenvolvimento, voltou o estilo da publicidade dos anos 50, que mostrava mulheres jovens fumando como algo moderno e sexy”, destacou.

Um informe de 2010 do Instituto George de Saúde Mundial afirma que na Ásia e no Pacífico vivem 30% de todos os fumantes do mundo, já que China e Índia contribuem enormemente para esse índice. Envolverde/IPS