Não podemos nos esquecer dos trágicos e desastrosos acidentes nucleares ocorridos nos últimos anos, em Three Mile Island, na Pensilvânia, Estados Unidos, em 1979, em Chernobyl, Ucrânia, em 1986, e mais recente em Fukushima, Japão.
Para se ter uma ideia da dimensão dos problemas, o acidente em Three Mile Island, ficou no nível 5. O de Chernobyl e o de Fukushima no nível máximo 7, considerado como acidente grave pela Escala Internacional de Eventos Nucleares (Ines), que mede a gravidade de desastres atômicos.
Os acidentes de 1979 e de 1986 foram causados por falhas humanas que provocaram um superaquecimento no reator, e vazamento de material radioativo para a atmosfera. Já o mais recente e dramático acidente, em Fukushima, ocorreu depois de um terremoto seguido de tsunami. Também neste caso houve liberação de radioatividade para o meio ambiente, levando à evacuação de mais de 170 mil pessoas no entorno de 30 quilômetros do local do acidente.
Pouco divulgadas são as anomalias menos graves que ocorrem nas 442 usinas nucleares espalhadas pelo mundo. Mesmo assim, há que se considerar que a segurança destas usinas teve avanços importantes nos últimos anos. Todavia, continuam suscetíveis a erros humanos, erros técnicos e desastres naturais.
Mesmo com as evidências e com as imagens instantâneas vistas da explosão de reatores da Usina de Fukushima, os (ir)responsáveis e defensores da construção de novas usinas, continuam minimizando os riscos desta fonte de geração de energia elétrica. Afirmam que a segurança das centrais nucleares é perfeita, e que o risco é praticamente zero. Tentam tranquilizar as pessoas, afirmando que a evolução tecnológica levou as usinas nucleares a se modernizarem e serem praticamente imunes a acidentes. É citado nos discursos “o perigo zero” que representam as centrais nucleares.
No acidente de Fukushima, o que vimos, na realidade, foi a impotência dos técnicos de nada poderem fazer para evitar a liberação de radioatividade para o meio ambiente. Portanto, os perigos ainda existem e, ocorrendo acidentes, provocam graves danos à saúde e uma enorme devastação com a contaminação da água, do solo e do ar. Esta fonte energética é desastrosa para a vida.
Mesmo não ocorrendo acidentes, para os rejeitos produzidos durante a geração elétrica não se pode garantir sua segurança nos depósitos por milhares de anos. A atividade radioativa do lixo atômico sobreviverá muito tempo, mesmo depois que a usina for desativada, legando assim para as gerações futuras um problema considerável. Sem falar no desastre ambiental produzido já na mineração do urânio.
No caso brasileiro, o elevado custo de construção de usinas nucleares (aproximadamente US$ 8 bilhões cada uma), associado a uma tendência de alta devido ao rigor que será exigido com relação aos padrões de segurança pós-Fukushima, não compensará o uso que se fará da energia. Sem dúvida, o impacto imediato será “sentido” nas tarifas elétricas. Pagamos uma das mais altas tarifas do mundo, e com tendência de aumento para os próximos anos. Sem nenhuma dúvida, pode-se afirmar que o uso da eletricidade nuclear vai contribuir ainda mais para a elevação das tarifas de energia elétrica.
A história da nuclear mostra que sempre foi e continua sendo, mesmo com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de subsídios públicos. O que significa dizer que quem vai pagar a conta da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso país será a população de maneira geral, e em particular os consumidores.
* Heitor Scalambrini Costa é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco.