Artigo publicado em revista do Pnud aponta que pessoas com maior escolaridade têm mais tolerância com homossexual e portador de HIV.
O brasileiro está mais tolerante em relação a homossexuais, portadores do vírus HIV, pessoas de outras raças, aborto, eutanásia e prostituição. E a educação tem um papel de destaque nessa alteração. É o que aponta o artigo “Mudança de valores e tolerância entre os brasileiros”, publicado na edição de maio da Revista Latino-Americana de Desenvolvimento Humano, do Pnud.
Para chegar a esta conclusão, o estudo, de autoria do professor Ednaldo Aparecido Ribeiro, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá, usa dados produzidos pelo WVS (World Values Survey), em sondagens datadas de 1991, 1997 e 2006. Os entrevistados tiveram de responder se evitariam ter como vizinhos pessoas pertencentes a determinadas minorias.
Nos 15 anos que separam os levantamentos, houve queda no preconceito contra homossexuais, passando de 30,2% para 21,5% dos entrevistados. A mesma tendência se verificou em relação a portadores do vírus HIV (baixa de 23,3% para 14,8%) e pessoas de outras raças (de 4,8% para 4,4%). A exceção ficou nas respostas sobre trabalhadores imigrantes, que tiveram rejeição passando de 3,9% para 6,7%.
Os dados revelam ainda que o aumento da escolaridade em um nível reduz em 14% as chances de a pessoa evitar morar ao lado de homossexuais. Já em relação a portadores do HIV, a tolerância é ainda maior, subindo em 19%. “Em diferentes momentos verificamos que o nível de escolaridade dos entrevistados é um fator importante de seus valores e disposições, sobretudo no caso do vírus da aids, em que a informação é um elemento fundamental contra o preconceito e o medo”, destaca o artigo.
O estudo analisa ainda outros dados levantados pelo WVS, que dizem respeito à aceitação da homossexualidade, prostituição, aborto e eutanásia pelo brasileiro. Com base nas respostas dos entrevistados, foi elaborada uma escala de tolerância para cada um dos quatro itens, com os extremos indicando que determinada prática nunca ou sempre se justifica. A diferença entre o polo contrário e o favorável caiu em 43,3 pontos percentuais entre 1991 e 2006 para a homossexualidade, 28 em relação à prostituição, 1,5 quanto ao aborto e 17,6 para a eutanásia.
Além do nível de escolaridade, a orientação política também influencia a tolerância do brasileiro. “Cada ponto adicional em direção à direita na escala ideológica produz um aumento de 8% na chance do indivíduo fazer parte do grupo que não deseja ter como vizinhos portadores do HIV”, aponta o documento. A dimensão religiosa também apresentou influência significativa. Ser espírita, por exemplo, reduz em 88% a chance de fazer parte do grupo que rejeita homossexuais morando ao seu lado.
Sobre o WVS
O World Values Survey é uma investigação sobre mudanças socioculturais e políticas conduzida por uma rede global de cientistas sociais, que realizam pesquisas com amostras nacionais representativas de mais de 80 nações espalhadas por todos os continentes.
* Publicado originalmente no site do Pnud.