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Islândia vai duplicar sua geração de energia

Reikjavik, Islândia, 1/6/2011 – A empresa estatal islandesa Landsvirkjun anunciou que vai duplicar sua capacidade geradora de energia nos próximos 15 anos, combinando principalmente centrais hidrelétricas e geotérmicas, mas com a possibilidade de também usar fontes eólica e maremotriz. Algumas dessas centrais foram anunciadas antes, mas não avançaram devido à oposição que encontraram, o que em alguns casos causou complicações no planejamento. Este foi o caso das três centrais no baixo Rio Thjorsa –Hvammur, Holt e Urridafoss – projetadas entre 1998 e 2000.

No distrito de Skafta há várias hidrelétricas em estudo. A construção de uma delas, a de Holmsar, pode estar a cargo da Landsvirkjun. Contudo, também há oposição nestes casos.

Ólafia Jakobsdóttir integra a organização ambientalista Eldvatn, que opera na área onde ela vive. Diante da pergunta por que se opõem à central, respondeu: “o distrito de Skafta é um lugar tranquilo porque não há centrais elétricas na região. A de Holmsar prejudicará a reputação da área. Uma reserva, linhas de transmissão, estradas, canais e outras obras de infraestrutura que serão parte do projeto podem ter efeito extremamente negativo sobre o turismo e a agricultura, que são as principais indústrias de Skafta”.

“Simplesmente por investigarmos a factibilidade de construir uma usina não significa que a construiremos”, disse Ragna Sara Jonsdottir, diretora de comunicações corporativas da Landsvirkjun. “Apenas uma pequena proporção das usinas pesquisadas se converterá em realidade. A decisão final depende do que disser sobre o assunto o plano-mestre islandês para os recursos energéticos hidrelétricos e geotérmicos”, disse à IPS. Este plano é aguardado há vários anos e a previsão é que virá à luz neste verão boreal.

Embora a eletricidade da Islândia proceda de fontes renováveis, “A Landsvirkjun concorda que as novas centrais elétricas podem ser controversas”, disse Ragna Arnadottir, vice-presidente da empresa. “Também queremos garantir preços maiores para a energia que produzimos”, acrescentou. A Islândia sempre se considerou um lugar barato para as empresas de alumínio, já que o preço que pagavam pela eletricidade estava vinculado ao preço do alumínio no mercado mundial. Este já não é o caso. Agora, estas companhias têm de negociar o preço de sua energia elétrica com a Landsvirkjun.

Cerca de 80% da energia produzida pela estatal destina-se à indústria pesada, que inclui fábricas de alumínio. Entre suas 15 unidades está a controversa represa de Kárahnjúkar, onde há poucos anos houve muitos protestos. Agora a obra é conhecida como central elétrica de Fljótsdalur e é usada unicamente para alimentar a fundição de alumínio, no Leste do país. Esta foi a última usina construída pela Landsvirkjun.

A próxima central é geotérmica e fica no Nordeste da Islândia. Entretanto, ocorreu muito pouco em termos de construção de novas usinas elétricas desde a crise financeira de outubro de 2008. “O financiamento foi difícil devido à crise bancária, mas o acesso da empresa ao financiamento melhora gradualmente”, disse Jonsdottir.

Até certo ponto, o financiamento no país foi afetado pela disputa da Icesave, na qual a Islândia resiste em devolver pagamentos a poupadores britânicos e holandeses que tinham contas com altos juros em bancos islandeses e perderam seu dinheiro quando estes faliram. “A discussão sobre a Icesave e a incerteza vinculada a isto, sem dúvida, tiveram um efeito sobre o acesso da Landsvirkjun a financiamento, embora não em um grau a ponto de deter o fluxo de dinheiro para a companhia”, disse Jonsdottir.

Por fim, foram o Banco Europeu de Investimentos e o Banco Nórdico de Investimentos que deram dinheiro, junto com fontes islandesas, para a central hidrelétrica de Budarhals, cuja construção começou em novembro do ano passado. Espera-se que comece a operar no início de 2014. Budarhals alimentará a rede elétrica nacional, embora se suponha que também servirá para aumentar a capacidade da fundição de alumínio da Straumsvik, administrada pela Rio Tinto Alcan no limite de Reykjavik.

Embora Budarhals não seja afetada, a qualificadora de risco Standard & Poor’s acaba de baixar a qualificação corporativa de longo prazo da Landsvirkjun, depois de tê-la reduzido para toda a Islândia. Mas a empresa não se preocupa. “Esperamos que esta classificação seja temporária, já que as perspectivas de longo prazo da empresa e da Islândia são boas. Em geral, podemos dizer que isso encarecerá o financiamento estrangeiro de novos projetos”, disse Jonsdottir.

A energia eólica ainda não foi explorada comercialmente no país, mas a Landsvirkjun participa do projeto nórdico de pesquisa Icewind, que estuda, entre outros assuntos, como funciona a energia eólica em climas frios, a geração eólica no mar a o desenvolvimento de parques eólicos na Islândia. Além disso, no Sul do país foi construído um mastro de 50 metros de altura para medir o vento. Ainda não é certo que nos próximos 15 anos as turbinas eólicas possam se converter em parte da matriz energética da Landsvirkjun. “Dependerá do resultado destas medidas, mas sou otimista”, disse Úlfar Linnet, diretor de pesquisas da companhia.

Considera-se que a energia eólica combina bem com a hidrelétrica, já que se equilibram entre si nos momentos de máxima demanda. Enquanto se produz energia eólica precisa-se menos da hidrelétrica, e as reservas podem ser usadas de maneira mais eficiente. “A energia maremotriz pode ser uma possibilidade em um prazo entre cinco e dez anos”, disse Ingólfur Örn Thorbjornsson, do Centro de Inovação da Islândia. Enquanto isso, são feitas pesquisas na região dos Fiordes Ocidentais e é desenvolvido um protótipo com apoio do Centro. A Landsvirkjun fornece 74% da eletricidade da Islândia. Envolverde/IPS