O esforço para a preservação da cultura, saúde, educação e sustentabilidade de um quarteirão no Itaim Bibi

Desde dezembro de 2010, quando apareceu uma notinha na Folha de S.Paulo e no Estado de S. Paulo falando sobre a intenção do prefeito Kassab de demolir um quarteirão no coração do Itaim Bibi para fazer mais prédios, alguns moradores, incluindo eu, começamos a nos organizar para proteger os oito equipamentos públicos e a vegetação que ali está. Tarefa muito difícil como verão a seguir.

O distrito do Itaim Bibi deveria ser um exemplo aos demais da região de São Paulo (SP) por possuir um parque, o Parque do Povo, e os equipamentos públicos, compostos pela Biblioteca Infantil Anne Frank (frequentada e apoiada por Monteiro Lobato), a EMEI Tide Setúbal, a Creche Santa Teresa de Jesus (que ocupa um imóvel do início do Século 20, casa que serviu aos visitantes, de veraneio e moradia da família Couto de Magalhães), a Unidade Básica de Saúde Magaldi, a Escola Estadual Integral Prof. Ceciliano J. Ennes, a Apae , o Centro de Apoio Psicológico e Social, e o Teatro Décio de Almeida Prado.

Estamos prestes a perder todos estes oito equipamentos sociais e seus serviços que atendem a população de inúmeros bairros, como Itaim Bibi, Vila Olímpia, Jardins, Cerqueira Cesar,  Pinheiros, Vila Madalena, Brooklin e Vila Nova Conceição.

A Prefeitura de São Paulo pretende vender o “Quarteirão da Cultura”, que possui 20 mil metros quadrados, para que construtoras façam ainda mais prédios nas estreitas ruas em que está localizado.

O apelo social é que, em troca, essas construtoras fariam creches pela cidade de São Paulo. Não podemos deixar de nos indignar ao perceber que direitos adquiridos há mais de 40 anos e serviços utilizados por milhares de pessoas deixarão de existir, tendo em vista o valor do metro quadrado da região das ruas Horácio Lafer, Salvador Cardoso, Cojuba e Lopes Neto.

Os novos prédios causarão grande impacto ambiental às já paralisadas ruas estreitas e de curtos quarteirões da região, sem contar as árvores centenárias e catalogadas pelo Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo (USP) e pela própria Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, que serão derrubadas.

Somos todos a favor da construção de creches em São Paulo, mas não de ligar a construção dessas creches à derrubada de equipamentos sociais e à extinção de serviços, pois isto constitui a perda de direitos adquiridos pelos cidadãos da região da subprefeitura de Pinheiros e especialmente do distrito do Itaim Bibi (não confundir com o bairro que leva o mesmo nome).

A cidade possui verba determinada para a construção de creches, inclusive com a parceria do governo do Estado de São Paulo. Não se deve divulgar programa de governo a canetadas e sim ter coerência nas propostas. Deve-se levar em conta o orçamento do Município, e o Sr Kassab como prefeito reeleito já conhecia os números e sua capacidade administrativa.

O prefeito tem como uma de suas principais funções a de zelar pelo patrimônio da população e não vendê-lo como se fosse bem privado. É equivocado presumir que numa região que tenha muitas pessoas com alto poder aquisitivo não sejam necessários os serviços públicos pelos quais pagamos. É direito nosso, adquirido!

A troca do Quarteirão da Cultura por creches é um argumento maquiavélico, pois além do mal que causa às pessoas dessa região, esconde intenções escusas como burlar leis de licitações. Licitações não são problemas para administradores competentes, fazem parte das regras da administração pública, são procedimentos administrativos do cotidiano, não é novidade!

Defender este Quarteirão é bastante trabalhoso, é necessário tempo e dedicação, explicar aos vizinhos, fazer a informação andar… Um órgão que muito tem nos ajudado é a Associação Preserva São Paulo, por meio de seu presidente Jorge Rubies, além do vereador Eliseu Gabriel e do deputado Carlos Giannazi, da Sociedade Amigos do Itaim Bibi/SAIB, da Associação Grupo Memórias do Itaim Bibi, e de Helcias de Pádua, um antigo morador e principal mobilizador deste movimento, entre outros.

Fomos à Assembléia Legislativa, à Câmara dos Vereadores, conseguimos apoio de dois promotores do Ministério Público, fizemos passeata, a barraquinha do abaixo-assinado, agora com quase 11 mil assinaturas, além do eletrônico, e finalmente conseguimos uma trégua por meio de uma ação do Condephaat, que entrou com pedido de tombamento do Quarteirão. Nada poderá acontecer enquanto o estudo estiver em curso. Infelizmente o poder do dinheiro é tão grande que o prefeito Kassab, no dia seguinte do anúncio desta decisão, informou aos cidadãos que em paralelo continuaria com o processo da venda dos equipamentos públicos, deixando tudo pronto para, no resultado da decisão, estar com tudo preparado para a venda. Isto significa que estamos de prontidão para mais mobilizações sociais em torno da questão! Um trabalhão… Ser cidadão não é fácil…

O que vemos é a pressão grande das construtoras, do setor imobiliário diante de uma área avaliada em cerca de R$ 300 milhões, que é de todos, mas pelo que vemos não é de ninguém e corre o risco de pertencer a umas 200 pessoas.

Finalizando, esta região, que deveria ser um exemplo para a cidade de São Paulo por possuir árvores, parque, oito equipamentos importantíssimos que atendem milhares de pessoas, não tem nenhum reconhecimento ou valor cultural e social para os administradores públicos do Sr. Kassab, eles enxergam apenas o valor monetário. A cidade vai jogando fora sua história, sua identidade, deixando a população local desamparada. Em contraponto vemos Roma, cidade italiana de 2.800 anos, preservada, exemplo de sustentabilidade. Ela possui muitas árvores, nenhum imóvel com mais de seis andares, possui monumentos datados de 2.500 anos, a Prefeitura, para dar um exemplo, está localizada no mesmo lugar há mais de 500 anos. Roma é um orgulho para os italianos, para turistas de todo o mundo e um exemplo a ser compreendido. Espero que Roma faça parte da nossa reflexão para escolhermos adequadamente as leis que regem a nossa cidade que influenciarão diretamente  a nossa qualidade de vida.

Palácio Anchieta – Viaduto Jacareí, 100 – Bela Vista – SP
DIA 15 DE JUNHO de 2011 (4ªf.) – 15 HORAS
Com faixas, apitos e muita vontade de gritar “O QUARTEIRÃO É NOSSO – SOS ITAIM BIBI”!!!

* Ana Carolina Salem Vanossi é moradora da Vila Olímpia.

** Publicado originalmente no Portal Aprendiz.