Internacional

“As pessoas precisam estar no centro do desenvolvimento” na Indonésia

O vice-presidente da Indonésia, Jusuf Kalla, e o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Babatunde Ostimehin, conversam sobre como este país pode aproveitar seu dividendo demográfico, no contexto do Fórum Econômico Mundial sobre Ásia Pacífico no dia 20 de abril. Foto: Cortesia UNFPA Indonésia
O vice-presidente da Indonésia, Jusuf Kalla, e o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Babatunde Ostimehin, conversam sobre como este país pode aproveitar seu dividendo demográfico, no contexto do Fórum Econômico Mundial sobre Ásia Pacífico no dia 20 de abril. Foto: Cortesia UNFPA Indonésia

Por Sandra Siagian, da IPS – 

Jacarta, Indonésia, 14/5/2015 – Em um país extremamente povoado como a Indonésia, onde 250 milhões de pessoas estão distribuídas em 17.500 ilhas e falam 300 línguas, a questão do desenvolvimento tem suas complicações.

A Indonésia é um país de renda média-baixa, com 11,4% de sua população pobre e 65 milhões em risco de cair na pobreza, o que obriga o governo a tomar decisões difíceis sobre onde investir os limitados fundos: educação ou saúde, criação de emprego ou desenvolvimento de infraestrutura?

Para complicar a situação, 62% da população, cerca de 153 milhões de pessoas, vivem em zonas rurais distantes, de onde é difícil chegar à hospitais, escolas e ter acesso à oportunidades de trabalho fora da agricultura; aproximadamente 27% dos habitantes, ou 66,1 milhões de pessoas, são mulheres em idade reprodutiva.

Além disso, esse país do sudeste asiático tem o maior número de pessoas em idade de trabalhar em sua história, tanto em termos absolutos, 157 milhões de potenciais trabalhadores, como proporcionais, cerca de 66% da população.

A conjuntura obriga o governo a criar emprego, mas também dá ao país a possibilidade de obter benefícios de seu dividendo demográfico, que a Organização Internacional do Trabalho definiu como um período em que o crescente número de trabalhadores e trabalhadoras, em relação à sua população total, libera recursos para o investimento público e privado em capital humano e físico. Isso, por sua vez, permite ao país conseguir uma renda maior por habitante, o que impulsiona a economia.

No Fórum Econômico Mundial Ásia Pacífico, realizado entre 19 e 21 de abril na capital da Indonésia, especialistas de todo o mundo pediram urgência ao país no sentido de capitalizar seu dividendo demográfico investindo muito em sua população. Entre os 700 participantes estava o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Salud Babatuinde Osotimehin, que insistiu que “as pessoas devem estar no centro do desenvolvimento”.

Pode parecer uma receita simples, mas não o é na Indonésia, onde metade da população jovem (entre 15 e 24 anos) pertence a um setor com um dos maiores índices de desemprego do país. Com aumento populacional de 19%, o que representará cerca de 293 milhões de pessoas em 2030, segundo o UNFPA, esse país deverá prestar atenção ao conselho dos especialistas.

Durante o encontro, IPS conversou com Osotimehin sobre como esse país pode tirar proveito do potencial de sua população e sobre algumas estratégias para que a jovem democracia otimize a mutável dinâmica populacional.

IPS: Em que lugar está a Indonésia em matéria de dividendos demográficos?

Babatunde Osotimehin: A Indonésia deve aproveitar a oportunidade demográfica, que segundo previsões atingirá seu pico entre 2020 e 2030. Creio que há consciência neste país de que é um importante processo de planejamento no qual se deve investir.

A Indonésia tem tanto a capacidade de análise como o compromisso político, mas creio que para seguir adiante temos que fomentar um investimento estratégico para aproveitar a vantagem demográfica.

IPS: De que tipo de investimento necessita?

BO: O investimento em saúde, educação e emprego deve aumentar de forma considerável. Os sistemas sociais devem ser fortalecidos, temos que atender a questão do casamento infantil e garantir que as meninas frequentem a escola, terminem o curso e atinjam a maturidade. Devemos garantir que tanto meninas quanto mulheres sejam capazes de tomar suas decisões, isso é primordial.

Todos os jovens devem receber informação sobre si mesmos e sobre seus corpos, e toda mulher deve ter acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e de planejamento familiar para poder tomar decisões livremente. Contar com educação sexual garantirá a redução de problemas como infecções por HIV (vírus causador da Aids), de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência.

Na área educacional queremos que os planos sejam diversificados para incentivar a capacitação vocacional e empresarial. Devemos poder promover pequenas e médias empresas, que costumam ser a base de uma economia florescente.

IPS: Por que para a Indonésia é especialmente importante se concentrar em sua população jovem?

BO: É importante por muitas razões. Dá aos jovens um sentimento de pertinência e nos assegura que possam participar do desenvolvimento nacional. Os jovens formarão parte da transição demográfica, e é preciso incluí-los para reduzir a fertilidade. Realmente, têm de fazer parte do processo.

Uma vez que se de conta do potencial dos jovens e estes entrem no mercado de trabalho, poderão ter renda e economizar, o que ajudará o crescimento da economia.

IPS: A Indonésia avança na direção correta?

BO: Creio que a Indonésia sempre contou com as políticas necessárias, só precisaria revitalizá-las, para isso são necessários novos investimentos e liderança política.

Antes, o país foi líder em planejamento familiar após implantar um programa nacional nos anos 1970. Mas ficou de lado após a transição democrática na década de 2000, quando foram descentralizados os serviços de planejamento familiar. Creio que o governo se comprometeu a recuperá-lo e várias autoridades comentaram que estão dando muita atenção a ele.

A Indonésia também deve considerar trabalhar no setor privado para ajudar a criar emprego decente. Será muito importante garantir que todas as pessoas, dos jovens aos idosos, tenham uma proteção social que ofereça serviços básicos. Envolverde/IPS