Internacional

Crescimento desigual na Ásia Pacífico não erradica a pobreza

Se a atual tendência à urbanização continuar, poderá haver mais 500 milhões de pessoas nas cidades da Ásia Pacífico até 2020. Foto: Padmanaba 01/CC-BY-2.0
Se a atual tendência à urbanização continuar, poderá haver mais 500 milhões de pessoas nas cidades da Ásia Pacífico até 2020. Foto: Padmanaba 01/CC-BY-2.0

Por Kanya D’Almeida, da IPS – 

Nações Unidas, 19/5/2015 – Com 3.740 milhões de habitantes, Ásia Pacífico concentra mais da metade da população mundial e determina em grande parte o grau de estabilidade econômica, ou o caos, no mundo.

A edição deste ano da Pesquisa Econômica e Social da Ásia Pacífico, emblemática publicação da Comissão Econômica e Social para Ásia Pacífico, da Organização das Nações Unidas (ONU), tem quase que apenas boas notícias para a região, que recebeu elogios por seus êxitos em matéria de crescimento, “embora, de certa forma, desigual”. O crescimento se manteve constante; as nações em desenvolvimento da região registraram um pequeno aumento do crescimento, de 5,8%, em 2014, para 5,9%, em 2015.

A pesquisa também indica que a renda real média por habitante nas economias em desenvolvimento duplicou desde os anos 1990; a China registrou aumento sete vezes maior na renda por habitante desde 1990. A renda real triplicou em no Butão, Camboja e Vietnã no mesmo período.

A previsão é de que o crescimento da China caia para 7% este ano, mas o da Índia, de 8,1%, acima dos 7,4% registrados em 2014, poderia compensar qualquer impacto da “moderação planejada” de seus vizinhos. Por sua vez, a Indonésia, quarto país mais povoado do mundo, registrará crescimento de 5% a 5,6% este ano, segundo as projeções.

Mas esse crescimento não foi repartido equitativamente. Segundo o informe, “a desigualdade da renda aumentou, especialmente nos grandes países em desenvolvimento, e em particular nas áreas urbanas”. Desde a década de 1990 o Índice Gini, que mede a igualdade de renda com uma escala de 0 a 100, aumentou de 33,5% para 37,5% na região, em geral.

Muitos especialistas elogiam a região por reduzir o número de pessoas que vivem com US$ 1,25 por dia, com vistas ao vencimento do prazo para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), acordados na Cúpula do Milênio de 2000 por 189 chefes de governo da ONU. Mas, uma análise crítica da pobreza mostra que há menos êxitos a festejar e muito mais a ser feito.

As estimativas da Comissão Econômica e Social para Ásia Pacífico, preparadas para o Anuário Estatístico da região, mostram que o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia caiu de 52%, em 1990, para 18%, em 2011, ou seja, uma queda de 1,7 bilhão de pessoas para 772 milhões. Houve importante melhora, mas não muda o fato de milhões de pessoas continuarem vivendo com quase nada, enquanto 40% da população, cerca de 933 milhões de pessoas que, embora não sejam consideradas em situação de extrema pobreza, ganham menos de US$ 2 por dia.

A publicação estatística anual de 2014 do Banco de Desenvolvimento Asiático sugere que os êxitos obtidos nas duas ultimas décadas não foram tão brilhantes quanto parecem.

Segundo uma detalhada análise da diminuição da extrema pobreza, Ásia Pacífico encabeçou a lista com redução de 48,6%, seguida da Ásia central e ocidental com 39%; sudeste asiático com 31%, e Ásia meridional com 19%.

O banco destacou três motivos pelos quais a medida de pobreza convencional de US$ 1,25 não é adequada para medir o custo dos pobres para manter um padrão mínimo de vida: “dados do consumo atualizados e específicos para os pobres da Ásia; o impacto dos custos crescentes e voláteis vinculados à insegurança alimentar; a crescente vulnerabilidade da região aos desastres naturais; a mudança climática; as crises econômicas e outros impactos”.

Ao aumentar a linha-base de pobreza para US$ 1,51 por pessoa ao dia, assim como contemplando a insegurança alimentar e a vulnerabilidade a desastres naturais e outros impactos, a pobreza extrema na Ásia chega a 49,5% da população, cerca de 1,7 milhão de pessoas.

Além da pobreza, a pesquisa da Comissão Econômica e Social para Ásia Pacífico detalha os grandes desafios que cada sub-região enfrenta.

“Uma excessiva dependência dos recursos naturais e das remessas de trabalhadores para o crescimento econômico na Ásia central; desafios climáticos e em matéria de emprego nos países insulares em desenvolvimento do Pacífico; desequilíbrios macroeconômicos e escassez de eletricidade na Ásia meridional; debilidade da infraestrutura e falta de trabalhadores qualificados no sudeste da Ásia”, afirma a pesquisa.

Desde a crise econômica e financeira de 1997, por exemplo, o investimento em infraestrutura nas Filipinas, na Indonésia, Malásia, Tailândia e no Vietnã caiu de US$ 38 bilhões nesse ano para US$ 25 bilhões em 2010. São urgentes investimentos em infraestrutura para melhorar o acesso à água e ao saneamento, um grande problema em uma região onde 41% da população não tem banheiro e 75% carecem de água encanada, segundo a comissão. A rápida urbanização agrava o senso de urgência. A comissão estima que serão necessários US$ 11 trilhões nos próximos 15 anos para enfrentar os desafios da urbanização e se preparar para as grandes mudanças populacionais.

A pesquisa deste ano, “Fazendo o crescimento mais inclusivo para o desenvolvimento sustentável”, pede que seja revisto o grau de inclusão, especialmente de mulheres e jovens, no mercado de trabalho e na política. Infelizmente, os resultados não são bons. Na Ásia Pacífico as mulheres ocupam apenas 18% das cadeiras nos parlamentos, enquanto em um terço dos países da comissão a representação feminina é inferior a 10%.

Para os jovens a situação também não é animadora. Em sete dos 13 países estudados, 10% da juventude está desempregada, o que inclui 19,5% dos jovens de Sri Lanka que não têm trabalho.

“Para melhorar o bem-estar, os países devem fazer mais do que se concentrar na desigualdade de renda, e devem promover a igualdade de oportunidades”, afirmou a secretária-executiva da Comissão Econômica e Social para Ásia Pacífico, Shamshad Akhtar. A pesquisa destaca a necessidade de os países adotarem políticas que impulsionem um crescimento inclusivo, tanto para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) como para preparar o caminho para a agenda pós-2015, acrescentou. Envolverde/IPS