Diversos

A importância do olhar para além do superficial

Foto: Reprodução/Internet
Foto: Reprodução/Internet

Por Leno F. Silva – 

“Samba” é um delicioso filme Francês. Tem drama, ação, romance, humor, tudo bem temperado por um roteiro ágil, uma direção segura da dupla Eric Toledano e Olivier Nakache, e um elenco bacana, com Omar Sy (Samba) e Charlotte Gainsbourg (Alice), no primeiro plano, mais o casal de coadjuvantes fundamentais: Tahar Rahim (Wison) e Izïa Higelin (Manu).

Além dessas qualidades, a trilha sonora é um presente para a nossa música, pela escolha de duas canções populares: “Palco”, de Gilberto Gil, e “Take it easy my brother Charles”, de Jorge Benjor. Ambas chacoalham os personagens em momentos marcantes dessa ficção bacana de ver.

O pano de fundo é a terrível situação dos refugiados que vivem em situação precária, num sistema socioeconômico que dificulta a legalização dessas pessoas de diferentes países e, ao mesmo tempo, as utiliza como mão de obra barata para aqueles serviços braçais os quais não interessam aos franceses.

Alice, executiva bem-sucedida, está se recuperando de uma crise de estresse e presta serviços voluntários numa ONG que tenta ajudar a resolver as situações de centenas de imigrantes de várias nacionalidades e que estão irregulares no país. Sob a orientação de Manu, ela não consegue ficar indiferente e acaba não seguindo o conselho da “tutora” de não se relacionar com os “clientes”.

Samba, nascido no Senegal, vive em Paris com o seu tio. Sonha ser cozinheiro, mas vive de lavar pratos, e de fazer bicos com o que aparece. Preso sem documentação, ele tem o seu caso atendido por Alice, que com o decorrer dos encontros enxerga nele muito mais do que as aparências.

Nas batalhas diárias pela sobrevivência, Samba conhece Wilson, que se diz brasileiro, e se tornam amigos. Juntos enfrentam situações difíceis, e um ajuda o outro a superar os imprevistos, às vezes com humor, para a manutenção da vida numa Paris sem glamour.

As vidas de Alice e Samba; e de Manu e Wilson são transformadas a partir dos encontros. Pelas características individuais e pelas qualidades de cada um, todos se deixam influenciar e são influenciados nos seus respectivos comportamentos.

Sem esconder as fragilidades de um sistema conivente que trata os refugiados como casos de polícia, ao valorizar as sensibilidades dos personagens, o filme nos aponta para aquilo que talvez seja a única opção para nos reorganizarmos nesse mundo: reconhecermos que todos somos gentes, como bem descreveu Caetano Veloso em alguns trechos de sua canção: “Gente é muito bom/Gente deve ser o bom/Tem de se cuidar/De se respeitar o bom… Gente quer comer/Gente que ser feliz/Gente quer respirar ar pelo nariz… Gente é pra brilhar, Não pra morrer de fome”. Por aqui, fico. Até a próxima.

Serviço:

Samba | França | 12 anos | 120 minutos

Gênero: Drama

Direção e roteiro: Eric Toledano, Olivier Nakache

Elenco: Charlotte Gainsbourg, Christiane Millet, Clotilde Mollet, Hélène Vincent, Isaka Sawadogo, Izïa Higelin, Jacqueline Jehanneuf, Liya Kebede, Omar Sy, Sabine Pakora, Tahar Rahim, Youngar Fall

Produção: Laurent Zeitoun, Nicolas Duval-Adassovsky, Yann Zenou

Trailer Legendado

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.