Barak Obama. Foto: Glenn Fawcett/ Fotos Públicas
Barack Obama. Foto: Glenn Fawcett/ Fotos Públicas

Por Joaquín Roy*

Barcelona, Espanha, julho/2015 – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve se sentir aliviado. Pudicamente silencioso nas últimas horas das difíceis negociações para se chegar a um acordo sobre o drama grego, sua resolução deve ser considerada, pelo menos provisoriamente, como benéfica para os interesses de Washington.

Suas mostras de pressão ou de diplomacia sigilosa devem ser vistas como mais um êxito em sua agenda para poder apresentar um legado à história no último período de seu mandato.

Convém repassar brevemente a história para situar em seu justo contexto a política da Casa Branca.

Em 1953, durante a sabatina para sua nomeação como secretário da Defesa do presidente Dwight Eisenhower (1953-1961), perguntaram a Charles Wilson, diretor-executivo da General Motors (GM), se estaria disposto a tomar uma decisão que prejudicasse sua companhia.

Wilson respondeu afirmativamente, pois sempre pensara que o que era “bom para o país também era bom para a GM, e vice-versa”.

Curiosamente, essa afirmação patriótica foi trocada depois por outra mais arrogantemente capitalista: “ o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos”. Wilson tentou corrigir o mal entendido, mas acabou por aceitá-lo.

A crise da Grécia atualizou a piada. O que é mau (ou bom) para a União Europeia (UE) é mau para os Estados Unidos?

Com exceção de alguns setores minoritários norte-americanos que se obstinam nas contendas internacionais sob a lógica da soma zero (o que um perde, o outro ganha, e ao contrário), o certo é que para os Estados Unidos os problemas da UE, desde seu nascimento (para o qual ajudaram decisivamente desde o Plano Marshall), são maus para Washington.

Foi o que pensou Obama ao contemplar o drama grego. O problema é que o cenário atual europeu não esclarece o que na realidade é mau para a UE e para a Grécia, além da saída da Grécia do euro.

O contundente resultado do referendo grego a favor do “não” só fez agravar a atmosfera de indecisão e apresentou um novo desafio para as percepções norte-americanas.

O “não” apresentou a Obama outro problema, já que anteriormente havia pressionado os credores para suavizarem suas demandas, sem sucesso. Obama havia irritado o governo alemão e alguns credores, apenas alguns meses antes, ao dizer que “não se podia encurralar países em recessão”.

De certa maneira, Obama depois acrescentou seus chamados para a acomodação, mas sem que se traduzisse em uma ingerência em um processo interno.

Nesse contexto, em meio à cautela da administração norte-americana, se temeu nos últimos dias que, se a Grécia saísse do euro, o resultado seria o colapso de toda a zona, um desastre desestabilizador que faria explodir os mercados e de quebra prejudicar a economia dos Estados Unidos, ainda vulnerável às convulsões externas.

No pano de fundo do desconforto de Obama pairava o fato de que a saída da Grécia complicaria a campanha de Hillary Clinton, a pré-candidata do governante Partido Democrata, que precisa da fortaleza da economia norte-americana para apoiar sua corrida à Casa Branca.

O vínculo dos Estados Unidos com a UE significa que a bancarrota da Grécia prejudicaria os Estados Unidos. Enquanto o dólar se aproxima da paridade com o euro, a crise deixaria a divisa norte-americana ainda mais forte, prejudicando as exportações e, de quebra, a diplomacia de Washington em plena campanha presidencial democrata.

Mais do que no campo financeiro, o certo é que a crise diz respeito a outras três dimensões, que são pivôs do interesse norte-americano em que o dano não se espalhe para outros terrenos cruciais.

O primeiro é que a ameaça de uma oscilação da Grécia à deriva pudesse fazer com que caísse na tentação de se refugiar sob a proteção da Rússia, dominada pelo presidente Vladimir Putin, sempre pronto a competir com Washington. Em um mundo onde o fator religioso tem um papel preponderante, a afinidade da variante cristã ortodoxa ressoa com simpatias tanto em Atenas quanto em Moscou.

O segundo é a incerteza que se criaria dentro da Organização do Atlântico Norte (Otan).

A crise recordou o lugar estratégico ocupado pela Grécia. Localizada na proximidade da Turquia, entre as convulsões do Oriente Médio e a precária relação dos Bálcãs com a UE, a nação helênica ganha uma nova importância, que recorda velhas épocas da transformação europeia nos momentos posteriores ao final da Segunda Guerra Mundial.

Foi a liderança norte-americana do presidente Harry Truman (1945-1953), que decidiu apoiar a posição da Grécia no lado ocidental, para neutralizar a ambivalente decisão de Yalta, ao dividir o mapa da Europa com Josef Stalin (1922-1953). Nesse aspecto, Obama não está disposto a escrever um capítulo diferente.

O terceiro é o desconforto de contemplar de Washington uma UE dividida em sua liderança e com as alas financeiras prejudicadas, enquanto se vê envolvida nas negociações para o Acordo Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP), já questionado por diversos ângulos.

Com líderes indecisos na Europa será muito difícil Obama conseguir exercer o mandato para negociar que lhe foi concedido pelo Congresso, com o resultado de que o projeto atrase até que haja um novo presidente, em 2017.

Seria uma notável baixa colateral do desastre grego, que parece ter sido evitado na última hora com a imposição de drásticas condições à Grécia como preço de um novo resgate. Seria também a dura confirmação de que “o que é ruim para a Europa é ruim para os Estados Unidos”.

No momento, Obama respira com certa tranqüilidade. Envolverde/IPS

* Joaquín Roy é catedrático Jean Monnet e diretor do Centro da União Europeia da Universidade de Miami. [email protected].