Com 320 mil habitantes, o equivalente à cidade brasileira de Vitória (ES), e com dois terços dessa população conectada, a discussão para a nova Constituição islandesa se dá por meio de vídeos do YouTube em tempo real, que mostram os debates do Conselho, fotos no Flickr, pequenas frases no Twitter, no site oficial dos temas (em islandês e em inglês), e no Facebook é que as ideias estão abertas para discussão. Em entrevista à Associated Press, o porta-voz do projeto de revisão constitucional Bernhard Berhildur Morris, disse que é possível registrar a participação da população por todas as redes sociais, “mas principalmente pelo Facebook”.
Os trabalhos para a criação da nova Constituição começaram a partir de um Fórum Nacional em que 950 islandeses passaram a discutir as leis básicas. Daí, gerou-se um relatório com mais de 700 páginas que está sendo analisado pelo Conselho Constitucional Islandês, composto por 25 pessoas, que recorreram às redes sociais para divulgação e recebimento de sugestões do público.
Para Henrique Antoun, especialista em comunicação e transformação política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “mesmo as pessoas que não estejam diretamente conectadas, pode se fazer representar na medida de seu interesse”. E que o fato de a Islândia ser um país pequeno facilita tudo. “Seria mais complicado em um país com as dimensões do nosso uma discussão dessa. É muito mais discutido do que um projeto que fica à mercê de representantes, deputados, vereadores e senadores. Agora a internet tornou, não obsoleta, mas secundária, essa necessidade de representação. Porque você pode se representar por meio do sistema. E é um sistema que não maquia a participação. Todo mundo que está ali, se sente representado. Todo mundo tem voz”, diz.
Em vias de ser finalizada a participação dos islandeses nas redes, no fim deste mês deve-se ter um documento final para ser submetido a um referendo.
Fica o exemplo da Islândia para países pequenos ou não. “É só uma questão de equacionar o grau de participação e o grau de interesse da transformação (que se quer). Eu acho que a tendência é se radicalizar cada vez mais, porque cada vez mais as pessoas percebem que seus interesses desaparecem na hora dos políticos representá-los. Há um problema sério com a representatividade. É a tal da crise da representatividade, que passa por essa visão limitada de que só a mediação pode realmente representar interesses gerais”, afirma Antoun.
* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.