Internacional

Paquistão aposta na hidroenergia

Em Mardam, um dos 26 distritos da província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa, são construídas represas pequenas para abastecer de eletricidade a população. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS
Em Mardam, um dos 26 distritos da província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa, são construídas represas pequenas para abastecer de eletricidade a população. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

Por Ashfaq Yusufzai, da IPS – 

Peshawar, Paquistão, 23/10/2015 – “Temos a sorte pelo fato de termos uma represa local que vai nos fornecer energia barata e sem interrupções. Atualmente não temos eletricidade entre 14 e 16 horas por dia”, afirmou Muhammad Shafique, professor na localidade de Alto Dir, na província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa (JP). Imran Khan, um famoso jogador de críquete e líder do partido Pakistan Tehreek Insaf, que governa essa província vizinha ao Afeganistão, colocou recentemente a primeira pedra de um projeto hidrelétrico em Baixo Dir, um dos 26 distritos provinciais.

“As pessoas estão encantadas com a construção da represa, já que vai acabar com os cortes de energia e os consumidores terão um fornecimento estável. As crianças, que hoje perdem dias de aula devido à falta de energia, terão eletricidade suficiente para o que precisam. A eletricidade ajudará os pacientes e os hospitais e 65% da população vinculada a agricultura”, detalhou Shafique.

A falta de eletricidade paralisou a vida de muitos, não só na província, mas em outras partes do país, onde há cortes de energia de até 20 horas diárias nas zonas rurais e 16 horas nas cidades.

Jyber Pajtunjwa prevê a construção de 365 pequenas represas. “A primeira será construída em quatro anos e produzirá 40 megawatts de eletricidade”, afirmou o ministro-chefe da província, Pervez Khattak, em entrevista exclusiva à IPS. A obra custará US$ 117 milhões, mas resolverá o problema da eletricidade não só em Baixo Dir, mas também abastecerá de energia os distritos aldeões, acrescentou.

Khattak assegurou que os consumidores pagarão um quinto do que pagam atualmente ao governo federal pela eletricidade. O governo também está construindo outras quatro represas, ressaltou.

O governo federal estava encarregado dos projetos de energia até 2010, quando foi aprovada uma emenda constitucional autorizando quatro províncias a realizarem suas próprias obras. Jyber Pajtunjwa, com enorme riqueza em recursos hídricos, é a primeira província a implantar um projeto com essas características. Da eletricidade produzida no Paquistão, 40% é gerada a partir de óleo combustível importado, o que encarece a energia.

“Nos concentramos na construção de pequenas centrais de energia em toda a província para desenvolver as indústrias, e também para dar um alívio nos incessantes cortes de energia que afetam as pessoas cotidianamente”, disse à IPS o ministro de Informação de JP, Mushtaq Ahmed Ghani. A empresa nacional de energia elétrica, NTDC, informa que o país produziu 7.500 megawatts (MW) de eletricidade, contra a demanda por 12 mil MW. A geração hidrelétrica diminuiu por causa da redução da saída de água das principais reservas, devido ao fechamento de canais.

A NTDC informou que a produção de 800 MW de energia elétrica foi paralisada pela suspensão do fornecimento de gás às centrais de energia Uch-I e Uch-II, depois da explosão de um oleoduto na província do Baluchistão, afetada pela violência insurgente.

O senador Muhsin Aziz, presidente da Direção de Investimentos de Jyber Pajtunjwa, apontou que os cortes de energia deixaram as atividades industriais da província em ponto morto. “Aproximadamente 300 unidades industriais fecharam por falta de eletricidade, o que deixou 20 mil operários desempregados”, acrescentou.

Os que podem pagar recorrem a geradores movidos a diesel e gás nas zonas urbanas, enquanto as pessoas em situação de pobreza no meio rural têm que suportar os cortes de energia, apesar do calor reinante, pontuou Azizi. “Pedimos ao governo federal que garanta o fornecimento à província, que sofreu enormes perdas na luta contra a insurgência, mas todas as solicitações foram ignoradas”, acrescentou.

Por sua vez, os agricultores estão convertendo seus poços canalizados para usarem energia solar. “O sistema é mais caro e, portanto, os pequenos agricultores não poderão contar com ele”, advertiu Musafir Khan, um produtor do distrito de Mardan. Em declarações por telefone, ele afirmou que a escassez de eletricidade levou os proprietários de terra à pobreza, porque o custo do sistema solar é inacessível para a maioria dos agricultores.

“Apostamos no projeto hidrelétrico Machi, implantado pelo governo provincial, para nossas necessidades de eletricidade”, destacou Khan. Um dos projetos será construído em Mardan no prazo de dois anos, com capacidade de 2,6 MW, destinados à população local.

No dia 8 de agosto, manifestantes foram às ruas e atacaram com paus uma estação da rede elétrica, danificaram máquinas e queimaram arquivos. “Nos últimos três meses, ficamos sem eletricidade durante 16 horas por dia! É o cúmulo da injustiça. Não temos água para uso diário e as pessoas estão adoecendo”, protestou Jamal Shah, um dos manifestantes.

Um ex-presidente da empresa estatal de água, a WAPDA, disse à IPS que o governo deve construir mais represas para atender a crescente demanda. “O governo arrastou os pés quanto à construção da represa de Kala Bagh nos últimos 20 anos. Uma vez que esteja construída, fornecerá à WAPDA eletricidade excedente que poderá ser exportada”, ressaltou.

O projeto de Kala Bagh foi politizado porque três das quatro províncias desse país rechaçaram sua construção por medo dos agricultores de que a obra deixaria suas terras impróprias para cultivo. “Não há nada de errado com a represa. Temos que resolver a questão politicamente. Se não for construída não poderemos acabar com os problemas de eletricidade”, ressaltou o ex-funcionário. Envolverde/IPS