Arquivo

A França deve distinguir seu inimigo

Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, 17/11/2015 – Enquanto chora seus mortos, atende os feridos e persegue os responsáveis pelos horrendos ataques que atingiram Paris no dia 13, a França tem pela frente um desafio muito maior do que um só país pode enfrentar, afirmou o jornal The National, dos Emirados Árabes Unidos. O presidente francês, François Hollande, declarou que os ataques contra o Bataclan, o estádio e vários restaurantes foram um “ato de guerra”.

“Se a França e seus aliados na Europa e fora dela estão em pé de guerra, então terão que considerar seu próximo movimento com muito cuidado, para não repetir os erros do passado recente, como ir atrás do inimigo equivocado”, apontou o jornal. “Embora exista uma sede de vingança, a resposta deve ser muito mais pensada do que responder ao ódio com mais ódio. As redes sociais já estão inundadas por comentários acusatórios contra os muçulmanos pelas ações do Estado Islâmico, que assumiu os ataques”, acrescentou o The National.

Em particular, muitos apontam para os refugiados sírios que buscam asilo na Europa, apesar do fato óbvio de que essas pessoas fogem, de fato, do terrorismo em seu país natal. “Em primeira instância, essa foi uma operação policial. Informou-se sobre detenções de familiares dos atacantes suicidas. Todos os detidos têm direito ao devido processo. O que não deve ocorrer é que os muçulmanos se convertam em bodes expiatórios desse terrível crime”, destacou o diário.

“Se alguns muçulmanos franceses se sentem atraídos pelo Estado Islâmico, então as autoridades deverão entender o motivo. A resposta não pode ser, como alguns alegam, que o Islã é uma religião de ódio, porque é um argumento superficial e claramente falso. A maioria dos muçulmanos vive em paz com seus vizinhos de todas as confissões, como bem sabemos nos Emirados”, pontuou o The National.

“Também sabemos que os atentados de Paris fazem parte de uma campanha que incluiu ataques em Sousse, em junho, em Ancara, em outubro, e Beirute no dia 12”, acrescentou o jornal. O Estado Islâmico, que parece ceder terreno sem muita luta em Sinjar, no Iraque, pode, ou não, estar se retirando. Certamente se afasta de seu objetivo declarado de criar um califado, e se converter em uma organização terrorista decidida a cometer ataques sem dó contra objetivos fáceis nessa região e, agora, na Europa, ressaltou.

Os recrutas do Estado Islâmico que poderiam ter ido lutar na Síria ficaram na Europa para fazer estragos. A guerra de Hollande não pode ser como a aventura dos Estados Unidos no Iraque, que criou mais problemas do que soluções. A França deve trabalhar com todos os seus aliados, na Europa e nessa região, para destruir o terrorismo, e isso inclui atacar as causas de raiz, concluiu o The National, com sede em Abu Dhabi. Envolverde/IPS